A renúncia do Papa Bento XVI e os Direitos Humanos: onde estamos e para onde iremos?
A notícia da renúncia do Papa Bento XVI, a ser oficializada no próximo dia 28 de fevereiro, é de causar estranheza e nos pega de surpresa em plena folia com o Rei Momo, com os Pierrots e as Colombinas. Essa “saída de cena” intriga e provoca reflexões não somente nos católicos, mas também em todas as pessoas ao redor. Sejam quais forem os reais motivos que levaram o líder máximo da Igreja Católica a abdicar do Pontificado, essa renúncia implica em novas possibilidades para as sociedades que, embora laicas, se movem em torno dos preceitos e costumes do Catolicismo.
Justiça seja feita, por mais que tenha certa antipatia e discorde quase que plenamente dos valores difundidos nos discursos e práticas do atual Papa, tiro meu chapéu e aplaudo sua atitude em deixar a vaidade de lado e abdicar do poder. Abrir mão de poder é algo que é fácil no discurso, mas difícil na prática para qualquer que seja a pessoa e sua classe social. Reconhecer a hora de sair e abrir mão do poder tem um gosto amargo de fel .
Por outro lado, mesmo o aplaudindo, considero essa saída um alívio para a Diversidade e os Direitos Humanos, tendo em vista que o Bento XVI é uma liderança polêmica, pouco simpática à emancipação da mulher, ao ser e estar dos LGBT, do atuar firmemente na defesa da recuperação dos países africanos ou no combate à exploração dos trabalhadores. Eis um líder que se afasta bastante de uma evangelização progressista que prima pela liberdade das pessoas de serem e estarem enquanto diferentes, do olhar para as pessoas para além do julgar, mas primordialmente colaborar com elas na perspectiva de seu bem-estar e uma vida no e para o amor. Não há como evitar estabelecer um paralelo entre o referido líder e demais líderes Católicos, a ver como exemplo o Papa João Paulo II, Dom Helder Câmara, entre outros. O Bento XVI de longe é um evangelizador carismático como os supracitados, líderes que entoaram o coro de um Catolicismo da libertação.
A notícia em questão nos traz certa esperança de que aquele que estar por vir, o sucessor deste, traga aos Cristãos discursos que provoquem reais mudanças sociais. Para além de cultos e discursos “iluminados”, é preciso que o Vaticano mova seus fieis em prol das práticas que agreguem, que consigam ir além do julgar o certo e o errado, o moral e o imoral, porém que apontem uma ética que guie para a felicidade e o amor ao próximo, como é recorrente nas práticas de muitos setores da própria Igreja Católica, de muitos líderes e fieis cristãos. De nada adianta o Conclave quebrar padrões ao eleger uma Papa negro, latino ou oriental, se as práticas e os discursos do próximo eleito persistirem conservadoras, opressoras ou estimulando preconceitos. Desse modo, mudaremos o corpo, mas o espírito de longe será santo.
O que se espera dos Cardeais é o enxergar dos novos caminhos e desafios apresentados pelo Século XXI para a evangelização , um pregar que motive e desperte nas pessoas razões para crer na Palavra com uma fé inabalável, uma fé que se materialize na prática e cotidiano dessas pessoas. É preciso eleger um Papa que seja o porta-voz de propostas e caminhos igualmente para aqueles Ateus ou não Católicos, para que esses passem a não somente respeitar a Igreja Católica, mas também a concordar e simpatizar com ela, colaborar, mesmo que de fora, cooperar com um discurso que garanta a liberdade, a igualdade e uma real fraternidade.
*Luciano Freitas Filho, Secretário Nacional LGBT do PSB.