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A nova geração de adolescentes LGBT

Redação,
08/04/2016 | 15h04

Por Carlos Henrique Pereira Franco

Andei pensando sobre como adolescentes que se reconhecem enquanto lésbica, gay, bissexual, travesti e transexual vem lidando com sua orientação sexual e identidade de gênero atualmente. Vou tentar traçar uma “linha do tempo” de forma bem didática e evitar, inclusive, os termos utilizados na psicologia. Espero conseguir provocar em vocês, leitores, um olhar mais atento a essas mudanças.

Há alguns anos, quando adolescentes LGBTs alcançavam a puberdade e a intensidade do desejo por pessoas do mesmo sexo e/ou quando a sua identidade de gênero começava a ganhar forma, acabavam negando o fato de serem gays, lésbicas, bissexuais ou de assumirem sua identidade de gênero, dissimulando e mantendo relações com pessoas do sexo oposto para que essa negação ganhasse sentido; sentiam raiva por se acharem “diferentes”, por não compreenderem o que estaria acontecendo consigo; barganhavam a ponto de buscar orientação religiosa negociando sua orientação sexual ou identidade de gênero, fazendo promessas a Deus de que mudaria e não seria tão “pecador”; deprimiam, pois, sentiam-se impotentes por não conseguirem cumprir essas promessas de mudanças, tendo como alternativa o suicídio; e quando essas tentativas de mudança e, no seu mais extremo, as tentativas de suicídios não se concretizavam, eis que “aceitavam” (se é que posso afirmar) o fato de serem “diferentes” e que não podiam mudar ou controlar seus desejos, carregando o peso do estigma social e familiar. Trancafiado em um “armário” dos horrores. Acabavam por buscar apoio com outros adolescentes que partilhavam da mesma angústia. Afinal, não eram loucas/os de conversar esses assuntos com os pais (considerando que essa configuração seja a tradicional), principalmente com outros familiares (que sempre tem aquela tia religiosa, fundamentalista, armada com a “metralhadora de Jeová”). Não era fácil ser LGBT há alguns anos, quiçá ser adolescente LGBT. Ainda não é fácil! Mas, convenhamos, houve conquistas importantes.

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Se tratando de adolescentes LGBTs de hoje, estes/estas vivem em um tempo em que o assunto é debatido e problematizado a todo o momento – seja em jornais, revistas, televisão, nos espaços que frequentam etc. São adolescentes que ocupam espaços de lazer e sociabilidade que tem como público pessoas LGBTs; dedicam-se em acompanhar séries com temática LGBT; ocupam salas de cinema para assistir filmes que abordam a temática LGBT; se posicionam nas redes sociais e militam no respeito às diferenças. Uma geração que subverte a norma. É claro que não nego a existência de adolescentes LGBTs que ainda se encontram nessa posição de “não aceitação”, por diversos fatores, principalmente pelo medo da rejeição familiar, segundo os dados da pesquisa que realizei no programa de Iniciação Cientifica. Mas não se nega o fato de estarem mais implicados nas problematizações sobre as diversas expressões da sexualidade e gênero.

Essa é uma geração de adolescentes que subvertem a ideia de que estão apenas experimentando e que não sabem o que querem. É uma geração que sabem sim, o que quer, o que são, e pronta para “botar a cara no sol” por isso. São adolescentes que comumente travam uma guerra interna, com a família e com a sociedade para assumir seu lugar de ser.

Para se deliciarem, apresento a vocês um projeto do fotógrafo americano, Michael Sharkey, com adolescentes e jovens homossexuais e transexuais que busca mostrar como vivem sua sexualidade e identidade de gênero de maneira mais livres e menos “envergonhada”.

Fonte das fotos:

Carlos Henrique Pereira Franco

Graduando em Psicologia

Integrante do Núcleo de Estudos e Formação em Saúde – NEFES

Pesquisador no campo da Adolescência, Gênero e Sexualidade

Sugestões: carlosfranco_@live.com