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Xauim estreia carreira artística com lançamento de clipe

Redação,
19/08/2020 | 22h08

O nome do single de estreia do cantor e compositor baiano XAUIM (@xauim) não poderia ser mais provocativo. Pra Quem Quiser Ouvir chega nesta sexta-feira (21) às plataformas digitais abrindo caminhos e dando a rota do projeto que o artista apresenta até o fim do ano: uma série de singles que, de algum modo, têm no tempo o denominador comum.

“De repente ontem é hoje, e hoje é o que experimentamos ontem”, anuncia o jornalista e sociólogo Muniz Sodré nos primeiros segundos da faixa. A frase, retirada de uma entrevista em que o intelectual tenta descrever um aforismo de Exu, foi uma das inspirações para a composição feita na quarentena, mas cujo sopro veio de todos os lados e em tempos distintos.   

Em Pra Quem Quiser Ouvir, XAUIM aproxima vozes: a de Muniz Sodré; a sua própria, que se sobrepõe em gritos e ecos; e também a de várias mulheres (Camilas, Driicca Bispo e Mariana de Oliveira), cujo entrelaçamento origina um coro circular, metonímia de um tempo profundamente conectado à ancestralidade afro indígena, aos rituais religiosos e ao território latino-americano. Tanto assim, que são essas vozes femininas a entoarem uma frase em espanhol que também dialoga com a Saga de Exu: “La puerta que abre cierra no siempre hay caminos tan claros pa ver”.

O afro groove é o gênero sob o qual se finca o single. A produção musical é assinada por Atilla Santana e a percussão pelo talentoso Ícaro Sá e samba de roda do Recôncavo é clave rítmica basilar da faixa. 

Composta em Saubara, também no Recôncavo – onde XAUIM está morando há mais de quatro meses por conta do isolamento social –, a música é uma ode à dança, ao canto e à musicalidade capazes de fazer corpo e espírito se se unirem em uma experiência terrena transcendental. 

O clipe, produzido e dirigido pelo próprio cantor, que também é fotógrafo e videomaker (@matheusl8), foi filmado na roça de seu avô materno, com a ajuda de um primo. A edição foi compartilhada com Gustavo Korontai. 

“A religiosidade é uma lente presente nessa canção. E quando falo em religiosidade, é a forma de ver e lidar com a existência, corpo, vida, tempo e tudo mais”, diz o artista, sem abrir mão da metáfora fotográfica. “Por mais que eu não tenha vivência em religião, tenho a consciência que essa religiosidade me atravessa no pensamento, cultura e quem sabe no plano no espiritual”, complementa. 

A rota já foi dada!

Sobre XAUIM

O nome XAUIM significa sagui em tupi, pequeno macaco encontrado muitas vezes em espaços urbanos entre fios elétricos e galhas de árvores. “No processo de escolher um nome artístico, resolvi olhar para trás e recuperei uma composição antiga e muito importante pra mim em que eu falava de um xauim. Fiquei com a sensação de que eu já poderia ter passado e até cantado o meu nome, mesmo sem saber, e acabei encontrando isso”, diz o cantor, que elenca outras razões para a escolha do nome, com a postura desconfiada e observadora deste animal, que costuma transitar bem tanto na mata quanto no asfalto.

Morador do Bonfim, na Cidade Baixa, XAUIM compõe música há 12 anos, e desde 2012 sente a necessidade de lançar um projeto autoral. A motivação vem do pai, cujas composições lhe chamaram atenção desde a infância. “Fazíamos algumas coisas juntos, especialmente paródias nos trabalhos de escola, mas aos 17 anos comecei a compor coisas mais pessoais e fiz disso uma espécie de diário. Achava uma maneira interessante de congelar e de fotografar um discernimento, um olhar sobre algo ou sobre algum sentimento meu”, conta XAUIM.

Paralelo a esse desenvolvimento, ele encontrou na fotografia e no vídeo outra forma de congelar suas ideias e sentimentos e acabou se profissionalizando na área (@matheusl8). “Ainda que trabalhasse como artista visual, as minhas referências para vídeo eram musicais. Gil, Belchior, Dorival Caymmi, Os Tincoãs são exemplos e referências de artistas que pintam cenas com música, e posso dizer que além da música são fortes referências na minha fotografia”, explica. Entre as referências e inspirações mais contemporâneas, Nação Zumbi, Luedji, Chico César, Femi Kuti, Ramiro Musotto e BaianaSystem.