Uma vida de pirata para mim

Genilson Coutinho,
23/05/2011 | 12h05

Entrou em cartaz na última sexta-feira (20) o quarto capítulo da interminável saga de Jack Sparrow (personagem vivido pelo inominável Johnny Depp). Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas. Na trama, Jack está à procura da Fonte da Juventude e ressuscitará – sem trocadilhos – antigas parcerias com personagens como Barbossa (Geoffrey Rush) e seu antigo affair Angelica (Penélope Cruz), ex-freira e agora pirata, filha do temível capitão Barba Negra (Ian McShane).

Esse quarto capítulo não é lá muito bom perante o resta da série, aviso logo, mas vale o ingresso pois é bastante divertido. Para quem é obsessivo por cinema e cultura pop, tem participações de ícones como Judi Dench e Keith Ricahrds e novatos em ascensão no cinema B como Derek Mears, que você certamente conhece por der dado vida aos vilões Jason Voorhees e ao predador respectivamente em Sexta-feira 13 (o remake de 2009) e Predadores (continuação de 2010, com a linda e competente Alice Braga no elenco).

Então, vamos lá: Piratas do Caribe trouxe de volta uma tradição antiga do cinema americano, a de histórias de capa e espada, uma linhagem que tem em um de seus primeiros ancestrais o Capitão Blood e Flash Gordon. O primeiro é um personagem ficcional de um romance adaptado para o cinema (sucessiva e seriadamente em 1924, 1935, 1950, 1952, e 1991): na história, Blood é um médico que acaba tornando-se pirata nas águas do Caribe, realizando muitos atos heróicos no melhor estilo épico. Flash Gordon é um herói no espaço sideral que nasceu nas histórias em quadrinhos (em 1934) e foi logo adaptado para o cinema (em 1936, 1938 e 1940) na infância da ficção científica cinematográfica. Em séries exibidas no cinema, Flash Gordon cruzou o espaço, salvando donzelas e combantendo vilões com armas megalomaníacas etc.

Indiana Jones (1981, 1984, 1989 e 2008) e Star Wars (1977, 1980, 1983, 1999, 2002, 2005) seguiram a fórmula de sucesso – atos heróicos, personagens abnegados, luta contra opressão etc. – e desembocaram em Piratas do Caribe, filmes muito singulares e interessantes a seu modo: reúnem mundos espetaculares, seres míticos, situações hiperbólicas, heróis e vilões claros.

Talvez o que mais chame a atenção em Piratas seja mesmo o seu protagonista e anti-herói Jack Sparrow. Ele é relutante, cínico, incoerente e contempla uma moral mais humana do que os heróis clássicos, a que estamos acostumados. Heróis costumam ser nas sagas aqueles que são melhores do que nós, que somos pessoas pequenas e cheias de falhas, eternamente em busca de aceitação pelos nossos pares. Sparrow não, ele não é heróico, longe disso. Ele sabe que não quer arriscar o pescoço por outros e gostamos dele não só porque ele é engraçado, mas porque ele não é um ideal intangível de heroismo.

É essa é grande qualidade do último capítulo de Piratas: Jack está presente. O resto é só cenário. As águas não são tão misteriosas assim na história, você encontra a mesma qualidade de frases de efeito, você encontra uma linha narrativa romântica paralela à aventura de Jack e, o melhor de tudo, os personagens sabem que estão num filme B e se riem disso o tempo todo. Um filme consciente e despretensioso, sem dúvidas, pode salvar um fim de semana e Piratas do Caribe 4 tem disso, deixando pouco à dever à tradição da comédia pastelão, já que Jack é um pateta.

Por

João Barreto – Jornalista
Jornalista e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. É analista de comunicação e cultura, especialmente de poéticas audiovisuais. Também tem interesse em desenvolvimento sustentável.