Cinema

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Uma Mulher Fantástica por Mário Edson

Genilson Coutinho,
17/09/2017 | 19h09

A atriz transgênero Daniela Vega que interpreta a trans Marina em “Uma Mulher Fantástica” (Foto: Divulgação)

Por Mário Edson

Nas primeiras cenas de UMA MULHER FANTÁSTICA, a bela e cultuada canção de Alan Parson Project TIME é moldura para um momento de amor e cumplicidade numa dança a meia luz e já nos da uma dica do vem por ai… A letra nos fala muito…
Marina é trans, vive uma vida de dureza trabalhando como garçonete durante o dia e a noite canta num bar… Ali realiza seu sonho de ser cantora… Sua vida começa a mudar quando seu namorado passa mal e vem a óbito… A partir de então tudo vira de ponta a cabeça….
O chileno Sebastián Lelio com sensibilidade vai nos contar a mudança na vida de Marina em meio a um sofrimento e uma quase aceitação de comover… Marina é trans, o namorado é separado, a família dele não a aceita e a humilha quando pode,, os amigos convivem com a situação. De maneira sutil e sábia Leilo aborda a situação desta relação em meio a uma sociedade conservadora e preconceituosa, não só em relação a questão de gênero, mas também o preconceito com relação a idade, Marina tem idade de ser filha do namorado… A narrativa é construída com foco quase que exclusivo em Marina, nenhum personagem além dela tem um histórico de vida ou uma participação mais efetiva na trama, até mesmo do namorado sabemos muito pouco ou quase nada, talvez esteja ai o maior achado do filme, esta concentração na sua dor, nos limites que lhe são impostos. A ela tudo lhe é negado ou subtraído, inclusive o direito de viver e de sentir a própria dor.
Daniele Vega é um achado, compõe um personagem de força singular no olhar, atitudes comedidas e finas e gestual elaborado, rouba portanto a cena e faz jus ao título nos fazendo pensar e questionar um conflito tão atual e instigante.

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Não espere uma história de amor, a questão aqui é situação e o contexto em que Marina é inserida após a morte do namorado, as situações que é obrigada a enfrentar, as humilhações, as garras do preconceito e da não aceitação, a negação de sua posição enquanto pessoa e companheira de fato de um homem que a amava e a tratava com amor e admirável paixão… As questões passam pelo viés social e sutilmente politico e econômico, centrando-se de forma sensível e amorosa em um personagem de alma iluminada.
Há pouco vimos a produção brasileira estrelada por Carolina Ferraz A GLORIA E A GRAÇA que passou meio que imperceptível, um belo e bem elaborado trabalho de Flávio Ramos Tambellini, sem qualquer sinal de estereótipos e uma bela e elogiada composição de personagem soberb amente defendida por Ferraz.

Data de lançamento 7 de setembro de 2017 (1h 44min)
Direção: Sebastián Lelio
Elenco: Daniela Vega, Francisco Reyes, Luis Gnecco mais
Gênero Drama
Nacionalidades Chile, Alemanha, Espanha, EUA
Mário Edson é fotógrafo, produtor cultural e coordenador do grupo Amantes da Sétima Arte. Publica pequenos textos e ensaios sobre cinema, arte e cultura em meio a ensaios fotográficos no blog: ateliecultural.blogspot.com.