“Um rito de mães, rosas e sangue” faz homenagem aos 75 anos de falecimento de Garcia Lorca

Genilson Coutinho,
22/06/2012 | 21h06

Após ganhar os prêmios de melhor figurino para Luciano Pontes e melhor iluminação para Luciana Raposo no 17º Janeiro de Grandes Espetáculos (PE), o espetáculo “Um Rito de Mães, Rosas e Sangue”, dirigido por Claudio Lira, inicia sua turnê nacional e será apresentado em quatro capitais no mês de julho: Salvador, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

“Um Rito de Mães, Rosas e Sangue”, um ato poético em três quadros, traz à cena uma livre adaptação das três tragédias rurais de Garcia Lorca: “Bodas de Sangue” (1933), “Yerma” (1934) e “A Casa de Bernarda Alba” (1936). Aqui a criação de Lorca é apresentada como um espetáculo ritualístico ambientado num lugar distante, no qual o tempo e o espaço são reinventados e metaforizados dentro da cena.

A peça transforma as tragédias em quadros, onde a Mãe é o foco central do ritual cênico: é ela quem dita as regras do jogo. No primeiro quadro, Claudio Lira versa sobre a memória e o futuro da mãe no momento posterior aos acontecimentos da tragédia “Bodas de Sangue”. É o desabafo de uma mãe perante suas lembranças, seus fantasmas e o infortúnio da morte de seu filho, assassinado no dia do casamento. Diante do túmulo deste e da ausência do marido, também já morto, e com quem conviveu por apenas três anos, ela amaldiçoa as navalhas e outros objetos cortantes, enquanto vira comentário para as vizinhas. No segundo quadro, “A Casa de Bernarda”, um universo sufocante e claustrofóbico é instaurado pela mãe Bernarda Alba, que com mãos de ferro, condena as suas filhas a um luto eterno, até que alguma delas se case. No terceiro e último quadro, “Yerma”, a peça desvenda as várias Yermas, que se sobrepõem, à medida que as esperanças da personagem vão se dissipando em sua busca incessante pela maternidade.

A costura desse “tecido cênico” é feita através da combinação de duas personagens opostas, Maria Josefa, a louca mãe de Bernarda, que anseia por vida e liberdade, e a mendiga, símbolo do mau agouro presente em alguns textos de Lorca, figura que, segundo o próprio autor é a morte na iconografia dos seus textos.

Um Rito – Sua Origem

A montagem de “Um Rito de Mães, Rosas e Sangue” é fruto da união de pessoas com experiências de vida diferentes, que compartilham do desejo em estabelecer uma discussão viva e criativa sobre o fazer teatral. O embrião do projeto surgiu em 1999, na Universidade Federal de Pernambuco, com a montagem de “A Casa de Bernarda – Uma Performance Obscura”. Dez anos depois, contando com o reforço de novos profissionais que se agregaram ao projeto, retomaram os trabalhos e o pensamento continuando os estudos sobre o universo do escritor Federico Garcia Lorca, e mais especificamente sobre suas Três Tragédias Rurais.

O espetáculo estreou em maio de 2010 no Festival Palco Giratório, do SESC Pernambuco. Em seguida, realizou temporada no Teatro Hermilo Borba Filho, em Recife. Foi contemplado com os prêmios de Melhor Figurino, para Luciano Pontes, e Melhor iluminação, para Luciana Raposo, além de concorrer aos prêmios de Melhor Espetáculo e atriz Coadjuvante no 17º Janeiro de Grandes Espetáculos – PE ( 2011).

Seguiu então em turnê por diversas cidades de Pernambuco como Surubim, Jaboatão dos Guararapes (por duas vezes), Triunfo e Caruaru.

Sucesso de público e crítica, “Um Rito de Mães, Rosas e Sangue” hoje cumpre sua terceira temporada em Recife, e prepara-se para iniciar sua turnê nacional. Em paralelo com essa circulação, o grupo ensaia sua nova montagem, uma encenação da peça “Beijo no Asfalto”, cuja estreia está prevista para agosto de 2012, no Rio de Janeiro.

Sobre o Autor

Federico García Lorca, poeta e dramaturgo, nasceu em Fuente Vaqueros, Andaluzia, em 05 de junho de 1898, e foi um dos maiores poetas e dramaturgos espanhóis, bem como uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola.

De educação sofisticada, Lorca ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914, depois transferiu-se para Madri. Publicou os primeiros poemas inspirados em temas relativos à Andaluzia (“Impressões e Paisagens”, 1918), à música e ao folclore (“Poemas do Canto Fundo”, 1921-1922) e aos ciganos (“Romancero Gitano”, 1928), quando ficou amigo do cineasta Luis Buñel e do pintor Salvador Dali. Concluído o curso de Direto, Lorca foi para os Estados Unidos e para Cuba, período em que escreveu seus poemas surrealistas e expressou seu horror pela brutalidade da civilização mecanizada (“Poeta em Nova Iorque” – 1940).

Voltando à Espanha, criou o grupo de teatro chamado La Barraca, e com ele percorreu o país. Lorca tinha ideias socialistas, mas foi sua homossexualidade o alvo do conservadorismo da Igreja Católica espanhola, que ao lado dos facistas ensaiava a tomada do poder. Iniciou-se aí uma das mais sangrentas guerras do século XX, prenúncio da Segunda Guerra Mundial. Com o início da guerra, Lorca, intimidado, retornou para Granada, e teve sua prisão determinada por um deputado católico, sob o argumento de que ele seria “mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver”.

Assim, num dia de agosto de 1936, sem julgamento, “A caneta calou-se” e o grande poeta foi executado pelos franquistas; seu corpo foi enterrado em lugar até hoje desconhecido. Sua voz, porém, ecoa até hoje, como o vento, por todas as partes.

Em sua curta existência, Lorca deixou pouco mais de uma dúzia de peças, grande parte consideradas obras-primas, entre elas as Três Tragédias Rurais, utilizadas por Claudio Lira para compor o espetáculo “Um Rito de Mães, Rosas e Sangue”.

FICHA TÉCNICA

Elenco: Ana Maria Ramos, Auricéia Fraga, Andrezza Alves, Daniella Travassos, Luciana Canti, Sandra Rino, Lêda Oliveira, Lano de Lins e Zé Barbosa.

Texto Original: Frederico Garcia Lorca

Dramaturgia, Encenação e Argumento: Cláudio Lira

Texto Cênico: Criação Coletiva do Grupo

Direção de Arte: Luciano Pontes

Iluminação: Luciana Raposo

Direção Musical e Preparação Vocal: Adriana Millet

Coreografias: Sandra Rino

Instrutora de Yoga: Ana Maria Ramos

Edição de Fotos e Vídeos: Tuca Siqueira

Programação Visual: Cláudio Lira

Produção Executiva: Claudio Lira, Andrezza Alves

Produção Circuito: Andrezza Alves, Patrícia Caju, Sandra Joliv

Assessoria de Imprensa Circuito: Moretti Cultura e Comunicação

SERVIÇO:

Onde: Teatro do Movimento – UFBA

Endereço: Av Adhemar de Barros,S/N – Campus de Ondina – Salvador
Contato: danca@ufba.br Telefone: 55 (71) 3245.6412

Quando: dias 03 e 04 de julho – Terça e Quarta, às 20h

Quanto: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)

Recomendação: 16 anos

Lotação: 120 Lugares