Um papo “Baphão ” com Leonardo Pires

Genilson Coutinho,
23/10/2012 | 18h10

“Baphão Queer”. Essas duas palavras mexem com o imaginário de muita gente da comunidade LGBT, que quer saber que “Bafhão” é esse. Para esclarecer e matar a curiosidade da turma, a nossa equipe conversou com o bafhônico Leonardo Pires, um dos coordenadores do grupo que movimenta a cena LGBT na cidade e na Universidade Federal da Bahia. Nessa entrevista, homofobia, “ser aferminado” e preconceito estão na pauta.

Leonardo Pires tem 21 anos e é estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde pela Universidade Federal da Bahia. Durante a graduação, participou de grupos de pesquisa importantes, como o ‘Cultura e Sexualidade’ e outro sobre a ‘Caracterização das Condições de Vida e Trabalho dos Moradores em Situação de Rua’. Atualmente, coordena o projeto “Baphão Queer” e mantém um blog [www.leonardopires.com]. Suas participações e publicações em congressos sobre sexualidade e cultura, geralmente, se divide entre análises da terminologia ‘homossexualidade’ em revistas científicas de saúde e relatos sobre o grupo “Baphão Queer”.

Como nasceu o Baphão e quais os seus objetivos?
O Baphão nasce no berço da Universidade, torneado por assuntos acadêmicos. No inicio nós queríamos apenas realizar um ensaio fotográfico para registrar o nosso desejo em transitar pelos gêneros e guardar esse produto de recordação. Tivemos a idéia de participar da Semana de Arte do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências e ficamos surpresos com a repercussão da exposição.. Foi aí que nós pensamos em qualificar a discussão do nosso trabalho e fazer política através da arte. Hoje o nosso objetivo com o Baphão é realizar uma discussão sobre a heteronormatividade que sufoca a sociedade LGBT, reprimindo todos/as que não seguem a risca o modelo heteronormativo de viver a sexualidade.
Quem compõe o grupo e quem pode participar?
O grupo é composto por mim (Leonardo Pires), Manasses Pessoa e Misael Franco. Abrimos seleção para um quarto integrante, mas por causa das atividades de cada um não foi possível terminar o processo seletivo. Além de nós três, existem outras pessoas que compõem o grupo e colaboram com a realização do processo, como Marcelo Ricardo que me ajuda como Diretor de Arte.


Quais as ações do grupo?
No princípio trabalhávamos com ensaios fotográficos, escrevíamos artigos e apresentávamos em congressos e seminários. Mas surgiu o interesse de tornar o grupo uma ferramenta política para levar a discussão às pessoas fora da academia. Foi aí que pensamos em performar. E de fato, a nossa primeira ação foi uma festa no Beco dos Artistas, super irreverente e inovadora com uma chamada para as “bichas afeminadas”. Lembro de pessoas querendo conversar comigo no final da apresentação, querendo saber mais coisas sobre o Baphão. Hoje, nós montamos espetáculos com temas específicos e apresentamos em diversos lugares, desde aniversários a chá de fraldas, acredite (risos). O importante para nós é levar esse pedido de respeito para todas as pessoas, inclusive heterossexuais, fazendo-as refletir sobre as condições de vida de pessoas que vivem uma vida fora da norma.


Vocês sofrem violência homofóbica na academia?
No ambiente acadêmico as pessoas geralmente nos respeitam. Sempre existirão aquelas piadas de mal gosto, mas os colegas procuram respeitar, principalmente porque se trata de um trabalho sério, qualificado e que surgiu com embasamento teórico. Também depende muito da área do conhecimento. Manasses e Misael são das artes, então as pessoas compreendem melhor. Mas eu sou da saúde, então meus colegas não entendem muito o porquê de estar trabalhando com ‘isso’. Além de ser um aluno dedicado e tirar boas notas, fiz parte de diversos grupos de pesquisa, então é como se eu tivesse um selo de credibilidade. Acredito que isso contribua para obter o respeito dos colegas.
Você acha que os homossexuais afetados estão mais vulneráveis a violência homofóbica?


O preconceito contra pessoas afetadas/afeminadas é muito grande e esse é o embasamento do nosso trabalho. Acreditamos que o preconceito por gênero é mais forte comparado ao preconceito pela orientação sexual. Não basta ser homossexual, tem de ser ‘durinho’. Não pode ‘desmunhecar’ ou rebolar quando andar. Existe uma educação do corpo que muitos homossexuais obedecem e criticam todos/as que não estejam cumprindo a lógica pênis – homem – másculo – viril – ativo. Esse é um problema que se reflete no sexo inclusive. Os ativos devem ser os ‘durinhos’ e as ‘bichas molinhas’ devem ser passivas. Sabemos que não é assim necessariamente. Mas essa educação faz com que muitos tenham vergonha de dizer que não obedece essa lógica. Por exemplo, se um homossexual feminino dizer entre os amigos/as que é ativo, logo deve sofrer represália do grupo e vice-versa.
Vocês submeteram o projeto no Movimento HotSpot. O que tem de interessante no projeto de vocês?
Assistimos à palestra de Paulo Borges e Alexandre Herchcovitch sobre projetos inovadores e pensamos: por que não participar? Entramos em contato com a fotógrafa que realizou as nossas fotos, Luana Rodrigues e ela topou na hora. Estamos concorrendo na categoria ‘fotografia’ e não tenho muita esperança de ganhar o prêmio e nem almejo isso para falar a verdade. O que eu quero é mostrar o meu trabalho para o maior número de pessoas e pedir respeito, atenção e compreensão para o tanto de homossexuais que morrem ou sofrem violência homofóbica todos os dias. Muitas vezes, as vítimas são homossexuais afeminados, travestis, transexuais e transgêneros. Não podemos tapar os olhos para essa realidade. Se eu tiver a oportunidade de falar isso para os outros participantes será o meu prêmio.