Tudo que você precisa saber sobre AIDS;tire suas duvidas

Genilson Coutinho,
14/03/2014 | 11h03

Os números ainda assustam: só em 2012, foram registrados 39 mil novos casos e 12 mil mortes no Brasil. Remédios existem, funcionam, mas o melhor jeito de vencer essa epidemia, que já dura três décadas, é investir na prevenção

Sou mulher, heterossexual e não uso drogas. Preciso mesmo me preocupar com a aids? 
Sim, a aids é um problema de todos. Hoje não se fala em grupo de risco, mas em situação de vulnerabilidade, explica a psicóloga Iracema Teixeira, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana (Sbrash): “Não usar preservativo na relação sexual é se colocar em condição vulnerável. Cada um de nós precisa assumir a responsabilidade por sua saúde”.

Todo portador do HIV tem aids? 
Não. Um portador do HIV passa a ser considerado doente de aids quando apresenta a deterioração do sistema imunológico. O vírus da imunodeficiência humana (HIV) ataca os linfócitos CD4, que produzem anticorpos. “Se essas células ficam abaixo de 200 unidades por milímetro cúbico de sangue, o risco de desenvolver doenças oportunistas, como herpes, tuberculose e pneumonia, cresce muito”, informa o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Os que não têm sintomas nem sinal da doença são chamados soropositivos e podem transmitir o vírus. Uma pessoa com aparência saudável pode estar infectada e talvez nem saiba.

Os sintomas começam a aparecer quanto tempo após o contágio? 
Depende da saúde do portador. Segundo o infectologista, as doenças oportunistas demoram, em média, de cinco a dez anos para se manifestar. Durante esse período, a pessoa pode ficar assintomática. Os sintomas iniciais podem ser leves (febre, diarreia, cansaço, aumento dos gânglios linfáticos) ou severos (pneumonias graves, diarreia persistente, emagrecimento intenso, placas de candidíase na língua e na boca, alterações no sistema nervoso).

Como é feito o diagnóstico? 
Por meio do exame convencional (Elisa) ou do teste rápido em uma gota de sangue. As duas metodologias permitem detectar a presença de anticorpos contra o vírus HIV. Se der positivo ou reagente, é feito outro teste para confirmar o resultado, o Western Blot, que procura fragmentos do HIV, ou o PCR, que localiza material genético do vírus. O exame é solicitado na gravidez e pode ser realizado nos postos de saúde por qualquer pessoa que desconfie de exposição ao vírus (não usou camisinha no sexo com alguém que use drogas, por exemplo).

Se der negativo, posso respirar aliviada? 
Nem sempre. Pode ser um falso negativo. Os testes aplicados dosam anticorpos contra o vírus. Se o contato for recente, você pode estar no que os especialistas chamam de janela imunológica, período em que a produção de anticorpos contra o HIV é insuficiente para ser detectada. Jean Gorinchteyn recomenda repetir o teste após quinze dias, três meses, seis meses e um ano.

Vale a pena iniciar o tratamento assim que o exame der positivo? 
O Ministério da Saúde abriu essa possibilidade. Até o ano passado, a terapia antirretroviral só era iniciada quando a contagem de CD4 estivesse abaixo de 500 ou o portador tivesse a partir de 55 anos de idade. O tratamento foi antecipado com o objetivo de reduzir a quantidade de vírus em circulação, para evitar a queda na resistência e o aparecimento de doenças oportunistas, e também diminuir as chances de transmitir o HIV a outras pessoas. Mas os remédios têm efeitos colaterais, como lipodistrofia (alteração na distribuição de gordura: ela some do rosto e se concentra na barriga) e aumento do colesterol e dos triglicérides, além de náuseas, vômitos e diarreias nas primeiras semanas de uso. “Alguns não toleram esses efeitos e abandonam a medicação. Com isso, o vírus pode se tornar resistente aos remédios”, alerta o infectologista.

Os novos coquetéis de drogas fizeram da aids uma doença crônica como hipertensão? 
Os 21 antirretrovirais disponíveis na rede pública não matam o vírus. Mesmo que a carga viral fique indetectável, isto é, não haja mais indício do HIV no sangue, ele pode ter se escondido no cérebro, nos gânglios e em outros locais a salvo do nosso sistema de defesa e voltar a atacar, daí a necessidade de usar a medicação por toda a vida, informa Jean Gorinchteyn. Apesar da possibilidade de manter o HIV sob controle, o infectologista diz que não dá para comparar essa infecção a outras doenças crônicas porque ela exige cuidados no sexo e na hora de ter filhos e os portadores sofrem preconceitos.

Como se prevenir? 
Atualmente a principal via de transmissão é sexual, portanto o maior cuidado é usar preservativo nas relações homo e heterossexuais: “Não apenas para a penetração do pênis na vagina ou do pênis no ânus, mas antes de qualquer contato com mucosa, sêmen e secreção vaginal, inclusive no sexo oral”, recomenda Iracema Teixeira. Outros cuidados importantes: não compartilhar seringas, agulhas e objetos cortantes e escolher com o máximo de critério dentistas, manicures e locais para a realização de tatuagem.

Se não houver contato com o sêmen, não há perigo? 
Que nada! O coito interrompido não é seguro. Antes de ejacular, o homem libera um líquido para lubrificar a uretra. Assim como espermatozoides, ele também pode carregar o vírus. Portanto, é preciso vestir a camisinha tão logo o pênis fique ereto.

Sexo oral é seguro? 
Só se for feito com barreira, isto é, camisinha no pênis e genitais femininos recobertos com filme de PVC (de embalar alimentos) ou preservativo cortado na longitudinal. “O risco de transmissão é maior no sexo anal porque o ânus não tem lubrificação, é menos elástico que a vagina e possui muitos vasos sanguíneos, então na penetração podem ocorrer pequenas lesões, que servem de porta de entrada ao vírus”, esclarece a orientadora sexual.

Beijo transmitir aids? 
Não. “O HIV foi achado na saliva, mas a composição dela consegue neutralizá-lo, a menos que a pessoa tenha alguma lesão grave na boca”, responde Iracema Teixeira.

Como saber se a camisinha é confiável? 
Veja se está dentro do prazo de validade e se tem a certificação do Inmetro. “As fluorescentes e com sabor devem ser usadas apenas como parte da brincadeira”, orienta Iracema Teixeira. “Na hora agá, prefira uma certificada. Preservativos não testados podem ter microperfurações, por onde o vírus passa.” Não guarde em locais expostos ao sol, como porta-luvas. Não abra a embalagem com os dentes e desenrole com cuidado, segurando na ponta para deixar uma folga para o ar.

E se deu zebra e o preservativo rompeu? 
As chances de contrair o vírus dependem de vários fatores, dentre eles seu estado de saúde e a quantidade de vírus em circulação no portador. Mas não conte com a sorte. Procure um posto de saúde em até 72 horas e comunique o ocorrido. A profilaxia após a exposição consiste no emprego de antirretrovirais para reduzir as chances de se infectar.

Casal apaixonado pode dispensar o preservativo? 
“Abrir mão da camisinha requer uma conversa muito clara e um alto grau de confiança entre o casal, além da certeza de que ambos não estão infectados.” Para Iracema Teixeira, o foco não pode ser a monogamia. “Traições acontecem. Daí a importância de assumir o compromisso de usar preservativo nas relações extraconjugais para preservar quem se ama.”

Lésbicas também podem, infelizmente, se contaminar com o vírus HIV. O governo norte-americano divulgou, na quinta-feira, 13, um caso considerado raro de uma mulher que foi infectada pela sua companheira.

A mulher, que não teve o nome revelado “provavelmente adquiriu” o vírus em uma relação sexual com a parceira, que é soropositiva desde 2008. Testes indicaram que o vírus de ambas tem 98% de semelhança.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), a paciente só teve relações sexuais com a companheira nos últimos seis meses antes do teste. Mas ela relata que a atividade sexual de ambas era intensa e, inclusive, durante a menstruação – e que nunca usavam preservativos.

Matéria publicada originalmente na revista Boa Forma especial para o projeto #Atitudeabril