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Travesti diz ter tido atendimento recusado no Robert Santos; assessoria do hospital nega

Genilson Coutinho,
21/03/2016 | 13h03

A ativista e pesquisadora Viviane Vergueiro

Uma travesti de 60 anos, de nome Martinha, afirma ter tido o atendimento negado no Roberto Santos (HGRS), no Cabula, na última quinta-feira (17/03). Ela conta ter sido encaminhada à unidade médica em uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), após sofrer um acidente vascular cerebral.

De acordo com a denunciante, o médico responsável pelo plantão, ao perceber que se tratava de uma travesti, mandou que ela retornasse para casa. Após o episódio, Martinha voltou a passar mal em sua residência, sendo conduzida para o Hospital Geral Ernesto Simões Filho (HGESF), no bairro do Pau Miúdo, onde permanece internada.

Em contato com o Aratu Online, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que não há registro da travesti no Roberto Santos. De acordo com o órgão, ainda que o médico tenha se recusado a atendê-la, a paciente precisaria passar por uma triagem, realizada por uma equipe de enfermeiros, para só depois ser encaminhada para o médico responsável. A assessoria do órgão informou ainda que ela segue internada no HGESF e que o seu quadro é estável.

Na opinião da ativista e pesquisadora Viviane Vergueiro, o fato ilustra os obstáculos de acesso que a população trans e travesti tem à saúde. Para ela, estas comunidades encontram hostilidades e violências tanto na saúde suplementar, quanto no serviço público.

Ela aponta que “a visão patologizante sobre as identidades de gênero, além de cientificamente questionável, é estigmatizante e dificulta o acesso destas pessoas à saúde. Isso acontece, por exemplo, quando se fazem necessários diagnósticos de transtorno mental para que pessoas trans e travestis possam ser incluídas no Processo Transexualizador, do SUS, normatizado pelo Ministério da Saúde”.

Em Salvador, por muitos anos, os movimentos sociais de travestis e transexuais têm lutado para que seja implementado um ambulatório trans, com serviços específicos para pessoas transgêneras. No entanto, apesar das expectativas de abertura do serviço em 2016, ainda não há uma data prevista para o início dos atendimentos.

“É importante que o estado e a Universidade Federal da Bahia percebam que a negação à saúde integral de pessoas trans e travestis é uma violação de direitos humanos, e que melhores esforços sejam feitos para a implementação do ambulatório. Por ainda se pautarem em um paradigma que toma as identidades trans como doenças, há temores de que haja exclusões e limitações na prestação deste serviço, como se tem percebido em outras cidades. Será fundamental a participação das comunidades trans e travestis para exercer o controle social do ambulatório, e garantir que recursos sejam investidos na capacitação de todas as pessoas nele envolvidas”, diz a pesquisadora.

Do Aratu Online