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“Todo mundo viu e ninguém me ajudou”, diz jovem gay que foi agredido em MT

Genilson Coutinho,
01/07/2020 | 22h07

Carta Capital

Domingo 28 foi o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. Uma data que seria de comemorações e debates se transformou em tragédia para o jovem João Victor da Silva Pedroso, de 22 anos. O morador da cidade de Lucas do Rio Verde (MT) foi vítima de agressão homofóbica em seu trabalho.

João é agente bilheteiro na empresa Verde Transporte, que fica na rodoviária da pequena cidade de apenas 65 mil habitantes. No começo da tarde de domingo, uma mulher de 42 anos entrou no local e ultrapassou a barreira permitida que foi determinada no espaço por conta da covid-19. João então alertou a senhora, que se recusou a sair.

A mulher, então, perguntou se João era “viado”. Assim que confirmou a sua homossexualidade, o jovem começou a ser agradido. “Eu sou uma serva de Deus. Por que você é viado, nasceu sem pinto? Você sabe que viado vai para o inferno? Eu tenho nojo de viado”, disse a mulher enquanto segurava João pela roupa .

João Victor da Silva Pedroso foi agredido no seu ambiente de trabalho por uma mulher que se dizia ‘serva de Deus’
Domingo 28 foi o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. Uma data que seria de comemorações e debates se transformou em tragédia para o jovem João Victor da Silva Pedroso, de 22 anos. O morador da cidade de Lucas do Rio Verde (MT) foi vítima de agressão homofóbica em seu trabalho.
João é agente bilheteiro na empresa Verde Transporte, que fica na rodoviária da pequena cidade de apenas 65 mil habitantes. No começo da tarde de domingo, uma mulher de 42 anos entrou no local e ultrapassou a barreira permitida que foi determinada no espaço por conta da covid-19. João então alertou a senhora, que se recusou a sair.

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A mulher, então, perguntou se João era “viado”. Assim que confirmou a sua homossexualidade, o jovem começou a ser agradido. “Eu sou uma serva de Deus. Por que você é viado, nasceu sem pinto? Você sabe que viado vai para o inferno? Eu tenho nojo de viado”, disse a mulher enquanto segurava João pela roupa.

“Eu tentei procurar ajudar, corri para a frente da agência porque tinha muita gente lá. Pensei: as pessoas vão me ajudar e acabou que ninguém me ajudou. Ninguém se chocou com o que estava acontecendo. Todo mundo com o celular na mão, todo mundo queria ter o melhor ângulo, o melhor vídeo para postar”, relata João.

O agente bilheteiro não reagiu em nenhum momento, apenas segurou as mãos da mulher para se defender enquanto aguardava a polícia chegar. Em uma tentativa de se proteger, já que ninguém prestou socorro ao jovem, João correu para dentro da loja. Nesse momento, a mulher pegou um pedaço de ferro e começou a quebrar todos os computadores do local. “Ela ficou descontrolada quando falei que era gay. Se ela pudesse, me matava ali”, conta João.

O jovem até então não era assumido para todos de seu trabalho, pois sempre foi muito reservado. Com o ocorrido, João foi exposto para seus amigos e familiares, mas conta que foi acolhido por todos.

Crime de LGBTfobia
Desde junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal considera crime de racismo ato cometido contra LGBTs. João disse que sabia dessa lei, mas não se sentiu protegido por ela. “Fui desencorajado por alguns policiais de prosseguir com aquilo (processo) pelo fato da mulher ter problemas mentais. Naquele momento eu pensei: eu passei por tudo aquilo e eu não vou ver justiça nenhuma? Aí me falaram que eu teria apoio acionando a justiça. E ai comecei a me sentir mais confortável. No começo, eu achei que não seria amparado. Tinha medo de dar em nada”, conta o jovem.

A mulher foi presa pelos crimes de homofobia, ameaça, dano, injúria mediante preconceito, lesão corporal e tráfico de influência. Ao chegar no local, ela foi encaminhada para um hospital psiquiátrico e o caso segue sendo investigado.

A empresa Verde Transporte prestou apoio a João. Além de disponibilizar advogados para defender o jovem, ele passará por psicólogos. “Eu achei que eu seria responsabilizado pelo acontecido. Estou com medo de ter uma recaída, porque fico pensando isso toda hora, de que eu estou fazendo mal para todo mundo. Estou tentando manter minha sanidade mental”, diz.

“Estou com medo de sair de casa. Mas sei que se eu ficar com isso na cabeça eu não vou viver mais, vou ficar acuado. Vou ter que enfrentar”, concluiu João.