No Circuito

Teatro

“Toda forma de amor”: Musical conta história de casal gay nas décadas de 80 e 90 no teatro Acbeu

Genilson Coutinho,
03/09/2014 | 17h09

Toda-Forma-de-Amor_2

Por Genilson Coutinho

As lembranças nostálgicas e fatos que marcaram as décadas de 80 e 90 em Salvador, passam como um filme para os espectadores que tem assistido o musical “Toda forma de amor”, dirigido por Claudio Simões, e que está em cartaz no Teatro Acbeu, aos sábados às 21h e aos domingos às 20h.

Os atores George Vladimir, Bruno Masi, Analu Tavares, Marcos Barretto e Raissa Xavier, juntos passeiam por esse período através da música, desde o surgimento da Aids, até o apogeu do axé music e da bombástica revelação do assassino de Odete Roitman, personagem de beatriz Segal em “Vale Tudo”, novela global que parou o Brasil na frente da televisão.

E nesse clima, os atores cantam e contam suas historias casando com os fatos cotidianos da vida dos baianos, embalados pelas historias de amor entre o trio formado por Bruno, Sandra e Raissa e do amor de Marcos e George que juntos vivem grandes momentos de alegria e tristeza em uma cumplicidade ímpar e sensível.

De maneira eficaz, Simões vai desenrolando a historia dos irmãos que perderam os pais em um acidente de carro e da amiga fiel de George, que os pais decidem morar em Goiana, mas ela resolve morar com George e Bruno, seu grande amor secreto.

todaforma

Mesmo com todo ciúme de Raissa, paquera de Bruno, fechando o círculo com a vinda  de Marcos, primo de Sandra, expulso pelos pais que não aceitaram sua orientação sexual e que também vai morar no mesmo teto,palco  principal do musical que leva para o palco com a mesma delicadeza as cenas de uma noite de amor entre Raissa e Bruno, e Marcos e George, silenciando a plateia com toda nudez dos casais em uma das cenas mais lindas do espetáculo , fortalecendo com todas as letras o título do espetáculo.

No decorrer das 2h de espetáculo, que passam tão rápido com a velocidade da trama, e que é impercebível pelo público, Claudio nos leva em uma viagem por meio de grandes canções que passam por Cazuza e ícones da música baiana, a exemplo da canção “Swing Da Cor”, primeiro sucesso da cantora Daniela Mercury, que teve seu LP no topo das vendas.

Sem esquecer o fim de tarde no porto da Barra e do badalado Volúpia Bar, bar finíssimo do ator Lelo Filho, no Porto da Barra, que movimentava  a cena gay na região com muita sofisticação e uma vista mágica do mar do porto.

A sensação para quem vai assistir “Toda Forma de Amor”, é de uma emersão em um túnel de uma época encantadora, mesmo com os planos do governo Collor, que levou o Brasil a beira do colapso, da morte de Cazuza e da homofobia e violência que mexeu com toda a classe teatral, com a morte do ator Moacyr Moreno, da Cia Baiana de Patifaria.

É nesse clima embalado por lindas canções e intervenções que o público é convidado a se divertir e refletir sobre o contexto histórico da vida dos soteropolitanos dentro do contexto histórico apresentado no espetáculo .

Sem dúvidas, é um espetáculo que merece ser visto tanto pelas historias, como pela forma de romper preconceitos de todas as esferas, pois a arte mais uma vez cumpre o seu papel de quebrar os paradigmas e abrir novos horizontes sobre temas considerados tabus no eixo familiar .

*Genilson Coutinho é editor chefe do site Dois Terços e militante da causa LGBT