Teatro: Outra Tempestade continua em cartaz até domingo (18)

Genilson Coutinho,
17/12/2011 | 20h12

Com direção de Luis Alberto Alonso, o espetáculo “Outra Tempestade”, vencedor do Edital TCA Núcleo 2011, continua em cartaz até o próximo dia 18, na Sala do Coro do TCA ás 16h e ás 20h.

O projeto selecionado para o edital de montagem de espetáculo teatral do TCA Núcleo tem produção de Rafael Magalhães, assinada pela Carranca Produções Artísticas. Com texto escrito pelas cubanas Raquel Carrió e Flora Lauten, “Outra Tempestade” é uma versão do clássico “A Tempestade” de William Shakespeare. Para criar a narrativa, as autoras revisitaram obras clássicas do dramaturgo inglês como “A Tempestade”, “Hamlet”, “Romeu e Julieta”, “Macbeth”, “Otelo” e “O Mercador de Veneza”.

Em busca da “terra prometida” um barco deixa o “Velho Mundo” e por conta de uma forte tempestade naufraga nas águas litorâneas do “Novo Mundo”. A partir desse encontro no continente americano, os novos habitantes passam a viver um “outro” projeto e guiados pelas mãos do Mago Próspero é instaurada uma República e fundada uma utopia. Os “mitos” shakesperianos se entrelaçam e Próspero domina o jogo através de uma transmutação das entidades que habitam a ilha. Hamlet encontra com Ofelia/Oshun, Macbeth se debruça sobre seus fantasmas com Lady Macbeth/Oya, Ariel/Exu desenha o jogo conduzido pelo Mago e leva Shylock a merecido julgamento. A sedução e consequente amálgama entre o Velho e o Novo Mundo é dada também através dos planos das teatralidades, levando o espetáculo a uma grande performance de sonoridades, imagens, encontros e desencontros dos personagens.

A obra

Outra Tempestade é um texto dramático escrito no ano 1997 pelas autoras cubanas Raquel Carrió y Flora Lauten, dramaturgas e diretora do Teatro Buendia, Cuba. Foram dois anos para a elaboração deste intertexto para teatro com base num processo investigativo, além de conversas e entrevistas e o manuseio de dezenove fontes escritas, incluindo obras completas de autores como Shakespeare e José Martí (político, pensador, jornalista, filósofo e poeta cubano. Criador do Partido Revolucionário Cubano e organizador da Guerra de 1895 pela independência de Cuba do domínio espanhol).

O ponto de vista anti-colonialista das autoras cubanas questiona posições estabelecidas Em Outra Tempestade, despojado da sua tragicidade, Hamlet, é um bufão que – após nos convidar a participar da representação – comenta ironicamente seus fatos fundamentais. O barco que naufraga não é observado desde a grota de Próspero, ele traz o próprio mago. Miranda não repudia Caliban, ama-o. Sicorax deixa de ser uma referência para se transformar em símbolo de maternidade. Durante a tormenta que destrói o barco, Oyá preserva para si o trovão, mas deixa o vento e a chuva nas mãos de Elegguá e Oshún respectivamente. Oshún, ainda sendo apresentada como deusa do amor e da sensualidade compartilha com Oyá a liderança dos mortos.

A montagem

Em quinze quadros que se sucedem vertiginosamente, o discurso dramático expressa o entrecruzamento de culturas, enquanto princípio de formação das gerações.ondição da alma que é vivida e também sofrida, a brasilidade – assim como a latino-americanidade – não é a fascinação pelo estrangeiro, nem torsos nus dançando ao som de toques e cantos polirritmados, muito menos vulgares práticas esotéricas de raiz hispano/lusófona, africana ou aborígene. A brasilidade é, mais do que tudo, um estatuto de cultura, uma atitude sempre aberta, desintegradora e integradora, assimiladora e re-funcionalizadora dos códigos que chegaram e continuam chegando aos nossos países”, afirma Luis Alberto Alonso.

Os rituais do texto são um convite à reflexão estética e teatrológica. Essa reflexão está relacionada ao que tem se determinado como Antropologia Teatral, um campo de investigação científica, mais ou menos emergente, que postula um amplo espectro de inquietações apaixonantes. Entre essas inquietações estão a abertura do sagrado e autêntico (e aqui entra a religiosidade) na aproximação a uma raiz ou sentido humano, o papel do símbolo na sua relação ou conceito, a procura de constantes “universais” na técnica do ator e o problema das origens do teatro.

A estética desta montagem é a do não cenário, do espaço nu, o palco desmantelado, o não uso de cenografia na sua denominação tradicional e convencional, não uso de estruturas que dêem referência a espaço, tempo ou lugar. Os elementos que integram o palco são as ações criadas entre atores, luz, texto literário e sonoridades. A luz dialoga com o ator, o figurino com os elementos, a música com as ações e assim, usando como num jogo de probabilidades todos os instrumentos da encenação, menos a cenografia tradicional, o que revela um conceito de cenário já existente, o próprio palco sem vestimentas. “O ator e um espaço vazio é o que predomina nesta montagem. Há coisas urgentes a serem mostradas nesta obra, elas atingem muito profundo o ser humano e estas “coisas” são expostas. Não é uma estética minimalista, eu diria mais bem uma estética do seco”, argumenta o diretor Luis Alonso.

Segundo o crítico cubano Pedro Morales, “Outra Tempestade é fruto de uma perversão, quase um ato de bruxaria, uma apoteose de Ilusionismo Teatral”. Para Luis Alberto Alonso, o texto “Outra Tempestade, no aspecto literário, lembra a obra de João Ubaldo Ribeiro, Viva o Povo Brasileiro, pois, ao mesmo tempo que rememora elementos fundadores, evoca mitos de origem e relembra contos e lendas que existem na tradição oral, transgredindo conceitos como os de herói e povo.

Em 2012, deve percorrer quatro cidades do interior baiano: Ilhéus, Feira de Santana, Santo Amaro e Alagoinhas.

FICHA TECNICA

DIREÇÃO : Luis Alonso
TEXTO: Raquel Carrió e Flora Lauten
TRADUÇÃO: Luis Alonso e Angela Reis
COLABORAÇÃO: Cacilda Povoas
ASSISTENTE DE DIREÇÃO: Renata Berenstein
ELENCO:
Urias Lima
Helóisa Jorge
Diana Ramos
Jorge Santos
Jefferson Oliveira
Simone Brault
Fernando Santana
Luisa Muricy
Danilo Cairo

COMPOSIÇÃO MUSICAL Jomary Hechavarria Matienzo
MUSICOS: Jomary Hechavarria Matienzo (Teclado)
Laila Rosa (Violino e Rabeca)
Ilma Nascimento (Violãocello)
Rodrigo Sestem (Flautas)
Ubaldo Oliveira (Percussão)
Anderson dos Santos (Percussão)

AULAS DE DANÇA AFRO-CUBANA E TREINAMENTO FISICO: Luis Alonso
CENÁRIO: Luis Alonso
EXECUÇÃO DE CENÁRIO: Zuarte Junior
ASSISTENTE DE CENÁRIO: Fred Alvim e Ednei Alessandro
FIGURINO: Zuarte Junior
ASSISTENTES DE FIGURINO: Antônio Fábio e João Marcelo

ILUMINAÇÃO: Rita Lago
ASSISTENTE DE ILUMINAÇÃO: Ademir Fortuna

PESQUISADORES: Fátima Barreto – Critica Teatral
Vinícius Lírio

PRODUÇÃO: Carranca Produções Artísticas
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Rafael Magalhães
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Inajara Diz
Poliana Bicalho (colaboradora)
Vagner Rocha (colaborador)

SERVIÇO

OUTRA TEMPESTADE
Data: 18 de dezembro

Horário: 16h/ 20 horas
Local: Sala do Coro do Teatro Castro Alves
Ingressos: R$ 20,00