Symmy Larrat: travesti e pré-candidata à Câmara pelo PT, ela quer TRANSformar o Brasil

Genilson Coutinho,
23/11/2021 | 21h11
Foto: YouTube

Geralmente o Partido dos Trabalhadores (PT) é lembrado por ser o maior da esquerda latino-americana. Isso é bom, e isso é ruim, pois, uma legenda com o tamanho do PT sempre enfrenta dificuldades locais e nacionais para agregar novas lideranças e assimilar novas pautas.

Todavia, desde a virada do século que o PT entendeu que era preciso se renovar para continuar a ser a partido referência da juventude, dos movimentos sociais e, especificamente, do movimento LGBT, que orbita em torno da legenda desde a sua fundação, em 1980.

Quando governo federal, as gestões de Lula (2002-10) e Dilma Rousseff (2010-16) foram um marco histórico no que diz respeito à execução de políticas públicas LGBT, destaque para o programa Brasil Sem Homofobia, as Conferências Nacionais LGBT – a I contou com o presidente Lula em sua abertura -, e a Coordenação Nacional de Políticas LGBT e é aqui entra a nossa entrevistada: Symmy Larrat.

Não que a vida política de Symmy Larrat tenha começado durante a sua recente passagem pelo governo da então presidenta Dilma Rousseff, pelo contrário, o ativismo de Larrat tem início na década de 1990 com o movimento das bases eclesiais da Igreja Católica e com o estudantil.

É na virada do século que Symmy Larrat toma contato com o movimento LGBT e, no seu estado natal, o Pará, faz parte da organização do movimento LGBT e também da Parada de Belém. O Acúmulo político dessas experiências fará com que Symmy caminhe pelo Brasil e passe por experiências políticas – em governos e movimentos sociais -, até chegar aonde estamos hoje: pré-candidata à deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores de São Paulo às eleições do ano que vem.

Em entrevista exclusiva à Fórum, Symmy LArrat, atualmente presidenta da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), afirma que a pauta LGBT é central, mas que ela tem de acontecer em diálogo com outras questões.

“A pauta LGBT é central porque eu não tenho como, com o meu corpo, com a minha atuação me desligar disso, mas nós não somos só nome social, casamento e criminalização, nós somos muita coisa! Nós somos saúde, somos educação, então a gente tem que disputar uma sociedade para todas as pessoas”, diz Symmy Larrat.

Fórum – Gostaria que você falasse um pouco sobre a sua trajetória política.

Symmy Larrat – Eu vim do Norte, eu começo em Belém uma militância antes mesmo desse boom das organizações LGBTQIA+. Eu começo a me organizar no movimento de igreja, no movimento estudantil e aí que eu construo um entendimento sobre aquela angústia, sobre aquela inconformidade com o que se apresentava na sociedade.
Aquele incômodo, aquele sentimento de justiça, aquela vontade de mudar as coisas se aprimora na atuação desses movimentos.

Aí eu começo a me organizar no movimento estudantil e nos movimentos de bairro da igreja. Eu fiz comunicação (UFPB), então atuei no movimento da democratização das comunicações… e tem um lance, o ano em que eu entrei na universidade, foi ano em que teve o massacre dos Sem Terra no Pará (Massacre de Eldorado dos Carajás, quando 19 militantes do MST foram assassinados, em 1996). Então, quando eu entro na universidade, os movimentos sociais estão em pleno enfrentamento como governo (FHC-1994-02), era muitas marchas, muitas ocupações. A gente chegou a ir em Eldorado com o pessoal da universidade, a estudantada para fazer várias atividades.

Então, alio eu começo a me relacionar com o movimento estudantil, mas também com outros movimentos sociais e vou entendendo qual é a importância do movimento social.

Anos depois a gente começa a organizar a Parada LGBT de Belém, começa a surgir os movimentos como a gente conhece hoje: as associações, as ONGs, fruto muito de um estímulo que era que o Projeto Somos, que foi dando capilaridade às organizações LGBTQIA+ no país.

EU fui para o interior pra trabalhar, depois volto pra Belém e aí eu ingresso no movimento LGBT. Aí, nos do estado do Pará começamos a produzir muito: o I Primero Plano de Segurança Pública e Combate à Homofobia, o primeiro decreto de nome social. A partir daí a gente criou um movimento estadual, do qual eu fui coordenadora e fui secretária do Conselho Estadual LGBT que, na época, em 2012, só tinha cinco conselhos no país e aí um jornal de grande circulação fez uma matéria afirmando que o Conselho do estado do Pará era o mais atuante, que tinha produzido mais conquistas nesse período.

E aí eu fui pra Brasília a convite da Maria do Rosário (deputada federal PT-RS/ à época ministra dos Direitos Humanos) para trabalhar como assistente, e depois fui convidada para o Transcidadania (programa de educação, trabalho e Renda para travestis e transexuais criado na gestão de Fernando Haddad/PT/2012/16). Então, vim para São Paulo para ajudar a implementar o Transcidadania e depois voltei para Brasília pra se Coordenadora Nacional de Políticas LGBT.

Já era golpe, a gente tentou nadar contra a maré, teve o golpe e eu pedi pra voltar, fiquei até o fim do Transcidadania, fiz a transição, fui trabalhar numa ONG que trabalha com projeto de crianças e adolescentes e aí fui pra Bahia para a implantação do Casarão da Diversidade e voltei pra cá (SP) pra casa Neon, que é uma casa de acolhimento.

Confira a entrevista na integra aqui.

Do Fórum