Notícias

Socióloga rebate declarações de Rogéria sobre travestis

Genilson Coutinho,
20/10/2016 | 12h10

14799960_10202332776478966_1001850035_o

A socióloga Rosana Migler rebateu as declarações de Rogéria, a travesti da família brasileira, como se identifica, em uma entrevista ao jornalista Hagamenon Brito, do jornal Correio, para divulgar a sua biografia “Rogéria – Uma Mulher e Mais um Pouco”. Na conversa, ela afirmou que se identifica como “o” travesti, no masculino, e não “a travesti”, como é naturalmente usado para se referir às travestis no feminino e acrescentou ainda que “um travesti precisa de inteligência e talento para saber que não é mulher de verdade. Só tenho duas preocupações com o visual: não parecer prostituta, nem homem vestido de mulher”.

Para a socióloga Rosana Migler, que atualmente mora na Europa, mas que vive ligadíssima nos acontecimentos da Bahia e do Brasil, as colocações de Rogéria foram infelizes, pois para quem não conhece a realidade da comunidade trans, serve como reforço para o preconceito.

“A identidade de gênero e o respeitos à comunidade trans são questões que precisam ser discutias diariamente. Estamos em pleno o século 21 e esse tipo de comportamento não cabe mais nem dela, nem de senhor ninguém. Quero ser tratada no feminino, sou mulher. Esse discurso que ela ainda traz da década de 70, em que era Astolfo, a travesti da família brasileira, já é passado. Os tempos são outros e merecemos respeito. Nunca me vi em um corpo de homem, sempre fui mulher e quero ser tardada como tal. Respeito ela e fico feliz com as conquistas dela, mas Rogéria não me representa e nem a milhares de mulheres transexuais”, afirma.

A socióloga completou afirmando que Rogéria não representa a comunidade trans e as declarações demonstraram isso. “Se ela quer ser tratada no masculino, que fale por ela e que deixe claro que é uma opinião exclusivamente sua. Talvez este seja um dos motivos pelos quais muitas pessoas se afastam dela, que só contribui para reforçar o preconceito. Essa é uma atitude retrógada”, pontuou Rosana.

Sobre a responsabilidade de Rogéria como figura pública, Rosana disse que a travesti foi irresponsável ao fazer, em um veículo de comunicação, declarações que não influenciam positivamente no debate positivo sobre a comunidade trans.

“Não é justo ela usar os meios de comunicação para reforçar esse comportamento e só soma para aumentar o preconceito e querer desmerecer nossas lutas. Não concordo com esse tipo de comportamento, até porque nunca ouvi a senhora Rogéria se posicionar em prol das lutas da comunidade trans”, declarou Migler.

Ainda de acordo com Rosana, a entrevista de Rogéria repercutiu negativamente entre ativistas e autoridades no assunto, que se mostraram tristes com as declarações da artista.