Comportamento

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Sexualidade: afinal, por que queremos tanto rotular?

Genilson Coutinho,
17/08/2017 | 15h08

Por Dr. Bayard Galvão

Sexo são toques específicos, de maneiras específicas e em lugares específicos. Sendo assim, restam duas perguntas: que tipo de aparência corporal o indivíduo quer ter (do mesmo sexo, do oposto, com silicone em partes mais ou menos convencionais, mais ou menos músculos, mais ou menos gordura, com ou sem seio, com pênis ou com vagina) e com que tipos de corpos quer ter relação sexual, seja por desejo, diversão ou apenas curiosidade (com alguém de corpo similar ou diferente)? Não entrando na relativização de gostar de alguém com “psique masculina ou feminina”, isso não existe!

As respostas podem dar origem a inúmeras classificações, como heterossexual, homossexual, bissexual, pansexual e por aí vai. Contudo, qual seria o nome dado para uma mulher que gosta de ser penetrada por um travesti ou uma transexual que gosta de penetrar mulheres? Honestamente, ficar dando nomes para estas vontades me parece inútil. É quase como alguém querer classificar alguém pelo tipo e ingredientes no chocolate que gosta de comer, simplesmente infrutífero.

O grande problema com relação ao aspecto de que tipo de corpo cada um quer ter e por qual ou quais tipos de corpos tem atração sexual, cai na moral e é onde complica. As religiões são claras sobre as propostas de com quem se pode ter relações sexuais e com qual finalidade, mas a moral do “todas as opções sexuais estão certas!” é antiga, foi retomada e tem se sobreposto às ideias religiosas, em termos sexuais, pelo menos no Brasil.

O fato é que nascemos sexualizados, pois para a maioria das pessoas no planeta terra, ser tocado é prazeroso, seja num carinho, abraço ou sexo (toques específicos). A ideia de opção sexual é posta de maneira errada. Não existe o mesmo tipo de controle sobre a escolha do corpo que se quer ter ou com o corpo que gostaria de ter relações sexuais como se teria sobre decidir se quer comer massa ou carne. Alguns poderiam tentar defender de que é genético, o que é bobagem.

Digamos que uma mulher heterossexual esteja recebendo sexo oral de um homem num quarto escuro em cima de uma cama, ele diz que vai ao banheiro e quando volta, vem uma mulher que estava escondida lá, começando a fazer sexo oral na mulher. Ela terá prazer? O prazer, em termos genéticos, está no toque, não na imagem do corpo do outro e nem tampouco no olfato, como alguns querem alegar que geneticamente o cheiro de “homem” ou “mulher” que dará prazer. Há pesquisas que tentam, inclusive, investigar os cérebros de “heterossexuais” e “homossexuais” procurando diferenças. Isso é tão fértil quanto buscar diferenciar os cérebros de quem prefere chocolate preto, chocolate branco, qualquer um ou nenhum.

É no processo de viver, identificando-se com um ou outro gênero, maneira de ser, moralização sexual dos pais, escola, televisão, músicas e aversão a um ou outro tipo de corpo que vamos formando o tipo de corpo que queremos ter e por qual corpo ou maneira de ser de alguém por quem ficaremos atraídos sexualmente. Não chega a ser uma real opção, porque vamos tendo experiências – não percebidas em sua maioria – e desde os primeiros minutos após o nascimento, que vão formando a nossa sexualidade.

Resumindo: nascemos tendo prazer com toques “sexuais”, sem preferência sobre o corpo que gostaríamos de ter e nem tampouco sobre o corpo que gostaríamos de tocar, além do fato de que não existe psique masculina ou psique feminina, que são apenas tentativas estéreis de classificar a mente. Vamos formando a sexualidade no nosso dia a dia, principalmente até uns 25 anos de idade, quando as curiosidades por como se quer ter prazer sexual já tendem a ter diminuído. Contudo, vale lembrar que em alguns contextos, tem pessoas que se repreenderão com relação aos seus prazeres sexuais até o fim das suas vidas.

No que se refere a educar uma pessoa para querer ter determinado tipo de corpo ou com que tipo de corpo seria desejável ter relações sexuais, seria uma decisão dos pais, não da escola ou mídia, mas sempre levando em conta que a educação neste sentido é muito difícil de controlar, podendo buscar formar determinada sexualidade no filho, mas aceitando qualquer uma que resulte daí, auxiliando-o ou auxiliando-a a ser feliz, respeitando a si e ao próximo, independentemente de suas “pseudo escolhas sexuais”.

No final das contas, pode ficar assim: não importa os seus gostos e dos outros, mas sim respeitar a si e ao próximo. Se você for pai ou mãe, você até pode tentar cercar o seu filho ou filha de determinada proposta de sexualidade, mas aceite-o ou aceite-a e o ou a auxilie a ser feliz com a sexualidade que desenvolveu, independentemente de ser a que você desejava para ele ou ela.

*Bayard Galvão é psicólogo clínico formado pela PUC-SP, hipnoterapeuta e palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson de São Paulo. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos. www.institutobayardgalvao.com.br