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Sesc Santo Amaro coloca em pauta a diversidade sexual e de gênero

Genilson Coutinho,
22/10/2019 | 18h10

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Compondo o calendário anual do Sesc Santo Amaro desde 2017, o projeto GenerosidadeS – a arte e o transbordamento dos gêneros – chega à sua terceira edição de 22 a 27 de outubro com atividades que permeiam diferentes linguagens artísticas.

MÚSICA

O cantor pernambucano Romero Ferro (25) abre as apresentações musicais com um show pulsante, dançante e neon através do seu segundo disco, FERRO. Misturando a música pop, a batida sintetizada da new wave e o brega pernambucano, o álbum soma mais de 2 milhões de plays nas plataformas digitais e conta com hits como Pra Te Conquistar e Corpo Em Brasa, esta última em parceria com a conterrânea Duda Beat.

A cantora, compositora, artista multimídia e “bixa travesty”, Linn da Quebrada (25), se destaca desde o lançamento de seu primeiro hit, Enviadecer. Desde então, vem quebrando paradigmas no que diz respeito às possibilidades da música e do gênero. No Sesc Santo Amaro, agita o público com o repertório de músicas de sua carreira e de seu primeiro disco, Pajubá. Definido pela própria Linn como um disco de “afro-funk-vogue”, o álbum valoriza a música eletrônica mundial recente, entre elas o global gueto e o vogue, além de beber do funk brasileiro, origem de Linn da Quebrada desde 2016.

A drag queen estadunidense, Ru Paul, diz que: “Nascemos pelados e o resto é drag”. Inspiradas pelas palavras da rainha do gloss e dos cílios postiços, oito drag queens vão batalhar pela coroa na Lip Sync – batalha de dublagem (26), disputando os aplausos do público e a atenção de juradas muito exigentes, onde somente uma será coroada a grande vencedora. Com apresentação de Thelores, participação das juradas especiais, Alexia Twister e Leyllah Diva Black e aos embalos da DJ Duda Dello Russo. O público não fica avulso, as drags maquiadoras Fairah Lux e Mercedez Vulcão dominam uma estação de make cheia de brilho e glamour para ninguém ficar de fora.

Compondo o cenário underground como uma das bandas paulistas de destaque dos últimos anos, Teto Preto (26) surge do encontro das festas eletrônicas, casas noturnas e festivais de rua. O show provoca reflexões sobre gênero e sexualidade do sistema normativo, desmantelando o corpo político transfigurado em fluídos, sensações e imagens.  Performático e fortemente feminino, o grupo apresenta um repertório autoral de colagens, canções e “pós-canções”.

Ainda à frente da Banda Uó, na qual permaneceu por cerca de seis anos, Mel estreou a primeira edição do programa, em 2017. Agora, em sua terceira edição, Mel canta Axé 90 com Baile de Massa Real (27), onde une sua voz e presença marcante com o gingado baiano do Baile de Massa Real, criando um ambiente nostálgico com interpretações dos clássicos do axé dos anos 90. A cantora é figura de referência quando o assunto é o preconceito e a violência que as pessoas trans enfrentam diariamente no país que mais mata transexuais no mundo, de acordo com dados da ONG Transgender Europe (TGEU) divulgados em 2018.

 DANÇA

Em Um (26), o bailarino Maurício Flórez apresenta um solo de dança inspirado no livro Monstros, do filósofo português José Gil e nas ideias de transmutações mágicas associadas aos usos de máscaras. Utilizando o transformismo como ferramenta de apoio para esta apresentação, ele cativa a percepção do espectador por meio de uma figura desconhecida e estranha, andrógina, híbrida, inadequada e sem gênero, dialogando com o extravagante universo drag queen.

LITERATURA

A literatura também ganha espaço para discussão sobre sexualidade e gênero, e para compor as atividades, a Praça Coberta recebe a Feira GenerosidadeS: livros LGBTQI+ (22 e 25), com participação de editoras e autores independentes.

Participam da feira as editoras: Brejeira Malagueta, Vira Letra, Orgástica, Editora Globo, Intrínseca, Amarelo-grão Editorial, Editora Machado, Editora Faro, Editora PEL, Revista Alternativa L e Clube Lesbos. E entre os autorxs: Malu HQs, poetaseuze, Guido Rosa, Amara Moira, Alexandre Rabelo, Aristóteles Angheben, Alessandra Safra, Léa Ferro e Celso Suarana.

Também será lançado o livro Amor & Liberdade, de Lis Selwyn pela editora Vira Letra. Paralelo à feira, o bate-papo A presença LGBTQI+ na literatura (25), discute o que, como é e quem faz mover o mercado editorial no Brasil voltado para este público. Com Amanda Machado, Amara Moira e Karina Dias. Mediação de Marina Moura.

BATE-PAPO

Rita von Hunty ficou conhecida no meio LGBTQI+ em 2014 após participar da primeira temporada de Academia de Drags, uma versão brasileira do programa americano RuPaul’s Drag Race, que coroa a melhor drag queen do ano. Ela não foi a vencedora, mas em Aulão com Rita von Hunty (22), a drag queen coloca em prática suas melhores habilidades como professora e traça uma linha cronológica para o entendimento dos conceitos de gênero, performance de gênero, masculinidades e seus reflexos nas vidas sociais desde a Roma Antiga até a Contemporaneidade. A aula busca expor, problematizar e engajar no debate de conceitos postulados por filósofos, sociólogos, antropólogos e estudiosos de cultura.

O autor do clássico livro Devassos no Paraíso – a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade, que em 2018 publicou sua 4ª edição atualizada e ampliada, João Silvério Trevisan e a mestre em História Social, especialista em gênero e família, co-fundadora do Lésbico Feminista e que desde 1990 integra o Coletivo de Feministas Lésbicas, Marisa Fernandes, batem um papo sobre a Perspectiva histórica da luta LGBTQI+ no Brasil (23).

Em GenerosidadeS – bate-papo sobre educação (24), Diego Camelo, ator, educador e ativista LGBTQI+ que recentemente participou da organização da III Jornada de Gênero e Sexualidade da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da Usp – EAFEUSP e integrou a mesa de debate “Práticas pedagógicas em gênero e sexualidade”, convida e intermedia um bate-papo com Paula Beatriz e Terra Johari. Paula Beatriz é mulher transexual e diretora da EE Santa Rosa de Lima, no Capão Redondo. Atua no magistério há 30 anos e foi uma das condutoras para a inclusão de nome social de travestis e transexuais em listas de chamada e diários de classe. Terra Johari é advogada, mestre em Antropologia Social e atua como analista de políticas públicas na Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo.

CRIANÇAS

A drag queen La Diva – interpretada pelo ator e performer Evaristo Moura – acompanhada do ator e performer Michel Mika Masson, mescla a brasilidade com ascendência afro-brasileira em histórias bem inusitadas, divertidas, interativas e lúdicas em O mundo das diversidades (26).

AÇÕES PARA A CIDADANIA

Para quebrar os padrões sexistas do que são “coisas de homem” e o que “são coisas de mulher” e trabalhar desde a infância o que há de mais genuíno no ato de brincar, o coletivo Ninguém Cresce Sozinho levanta a seguinte questão: Existe brinquedo e brincadeira de menino e menina? (25). Nessa roda de conversa, os participantes terão a oportunidade de refletir sobre a ideia de brinquedos e brincadeiras segmentados por gênero e suas implicações no desenvolvimento infantil.