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Série sobre transgênero divide opiniões ao colocar ator hétero como protagonista

Genilson Coutinho,
09/10/2014 | 10h10
A criadora e produtora executiva da série, Jill Soloway. Foto: Divulgação

A criadora e produtora executiva da série, Jill Soloway. Foto: Divulgação

“Sofisticada, introspectiva, com a qualidade de um filme independente que deve render uma audiência menor do que a extremamente cativante “Orange is the new black”, mas que se mostra mais centrada e com tons bem específicos”. Assim classificou o prestigiogado semanário The Hollywood Reporter em sua elogiosa crítica a série “Transparent”, uma das sensações entre as novas séries americanas. A produção da Amazon, cuja primeira temporada completa já está disponível na Apple TV, recebe elogios no mesmo compasso em que desperta fúria.

“Transparent” mostra a reação de uma família à revelação de que o professor universitário Mort Pfefferman (interpretado pelo ator Jeffrey Tambor) está virando Maura. Sim, embora os três filhos crescidos de Mort pensassem que ele revelaria um câncer, ele se assume um transexual. Aos 70 anos. A decisão de mudar de sexo, naturalmente, impacta a família de maneira aguda e variada. A abordagem deste momento sensível é sutil e criativa.

A série criada por Jill Soloway, a despeito dos elogios, enfrenta severa resistência de setores da comunidade LGBT. Mulheres trans têm se posicionado, principalmente nas redes sociais, contra o fato de Mort/Maura ser interpretado por um ator heterossexual.

A principal queixa dos oposicionistas a Jeffrey Tambor no papel é de que a opção por ele seria estranha às pretensões do programa; uma vez que apenas atores heterossexuais são contratados para viver personagens transgêneros. Jared Leto (“Clube de Compras Dallas”) eFelicity Huffman (Transamérica) que receberam muitos prêmios e aclamação crítica por interpretarem personagens transgêneros são usados como justificativa para uma reserva de mercado em ordem de facilitar o emprego de atores e atrizes transexuais.

A discussão, que tem tirado “Transparent” da perspectiva desejada por Jill Soloway, fez com que a atriz Amy Landecker, que na série interpreta a filha mais velha de Mort/Maura, ela mesma balançada com o reaparecimento de uma amiga lésbica em sua vida, saísse em defesa da escolha de Jill Soloway em uma entrevista ao Huffington Post. “Ela escolheu Jeffrey porque ele a lembra do pai dela, também um transgênero”, contextualizou Amy. “Acho que Jeffrey (Tambor) precisa de crédito porque muito do sucesso da série se deve a sua apaixonada e extraordinária performance”.

Landecker lembrou, ainda, que Soloway contratou o maior número de profissionais transgêneros da história de qualquer produção audiovisual americana. “Atores, roteiristas, maquiadores, câmeras…”, enumerou. “Tem ação de afirmação trans em todos os setores da produção”, comentou a atriz ao endossar a decisão da criadora e principal produtora do programa.

A atriz, ao fazer uma comparação com a série “Will & Grace”, reiterou uma aposta da série: “Ela pode realmente salvar vidas. Nós sentimos que fazemos parte de um movimento tanto quanto de um série de tv. É como quando “Will & Grace” surgiu nos anos 90 e ajudou na aceitação da cultura gay. Eu sinto que estamos indo um passo além nesse sentido”.

Do Igay

Confira o trailer de “Transparent”: