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“Ser lésbica no esporte nunca foi um empecilho no meu trabalho”, diz Cristiane, atacante da seleção

Genilson Coutinho,
12/06/2019 | 17h06

Ninguém começou a Copa do Mundo feminina de futebol melhor que ela. A atacante Cristiane da Seleção Brasileira marcou três gols na estreia contra a Jamaica. A partida aconteceu no último domingo (09), no Stade des Alpes, em Grenoble. Um dia depois do jogo, porém, o papo foi outro.

Em entrevista ao site “BeRainbow“, voltado à comunidade LGBT, Cristiane da Seleção Brasileira falou sobre preconceito. A atleta é assumidamente lésbica. Tanto que namora a advogada Ana Paula Garcia Silva há quatro meses. “Fora do Brasil, nunca sofri preconceito. Aqui, óbvio, existem algumas ofensas. Mas esse tipo de coisas diminuiu bastante nos últimos tempos. Acho que, hoje, as pessoas têm um cuidado maior. Dependendo de como você fala, pode causar muitos problemas”, destacou.

Cristiane da Seleção continua sobre o mesmo assunto. “Isso não quer dizer que elas não tenham preconceito. De vez em quando recebo uma gracinha ou outra no meu perfil ou no da minha namorada. Mas a gente sabe lidar muito bem. E ser lésbica no esporte nunca foi um empecilho no meu trabalho. Sempre teve muito respeito”, concluiu.

Depressão

A atacante esteve no grupo que defendeu o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Ela relembrou pela situação que passou por conta de uma depressão.

“Em 2016 eu saí da Europa, fui direto para a seleção, fiquei treinando o tempo inteiro. Não fui para casa. Na segunda já voltava a trabalhar de novo. Aí fui para a Olimpíada, foco total. Sofri uma lesão no segundo jogo. Aí trata lesão de madrugada, trata de dia. Fazia fisioterapia em todos os horários possíveis. Aí vou jogar, bato um pênalti e erro. As pessoas o tempo inteiro te criticando em redes sociais e você precisa tapar os olhos”.

Segue. “E depois disso, que minha cabeça não estava muito legal, eu tive pouco tempo com a minha família e já voltei para a França com uma lesão, sem a medalha. E ainda nesse pouco tempo em casa escutei várias coisas das pessoas na rua. Tem pessoas que não têm sensibilidade com o outro. Eles acham que você errou e fez de propósito porque você quis. Aí juntou tudo”, destacou Cristiane da Seleção.

Ela, porém, conclui. “Quando eu falo sobre isso não é para aparecer. Nunca precisei disso. Quem me conhece sabe que eu não sou assim. Mas é importante falar. É importante as pessoas entenderem que, além de atleta, de só jogar futebol, que é o que as pessoas acham, porque esse é o nosso trabalho, existe um outro lado humano”, finalizou Cristiane da Seleção.