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Sem material informativo, Ministério da Saúde limita prevenção de infecções sexualmente transmissíveis

Genilson Coutinho,
03/02/2020 | 17h02

Em meio ao debate sobre uma nova campanha para prevenção à gravidez precoce e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) que envolveria o incentivo à abstinência sexual, a caderneta de saúde do adolescente permanece fora de circulação. A ausência de material informativo, segundo especialistas, gera desinformação e pode levar ao aumento do número de jovens grávidas, além do avanço de ISTs.

A cartilha foi criticada pelo presidente Jair Bolsonaroem março de 2019 e não há previsão de quando a nova versão será lançada. À época, Bolsonaro sugeriu que os pais rasgassem as páginas com ilustrações de como usar preservativos. “Quem tiver a cartilha em casa, dá uma olhada porque vai estar na mão dos seus filhos, e, se você achar que é o caso, tira essas páginas que tratam desse tipo de assunto”, disse.

Lançado em 2008, o documento era indicado para pessoas de 10 a 19 anos e tinha uma versão feminina e outra masculina. A caderneta tem informações sobre cuidados com o corpo, transformações na puberdade e relações sexuais.

“Sexualidade é muito mais do que sexo. Ela envolve desejos e práticas relacionados à satisfação, à afetividade, ao prazer, aos sentimentos e ao exercício da liberdade. É ter prazer ao acordar e espreguiçar-se na cama. Abrir a janela e sentir o sol ou o vento sobre a pele. É abraçar, acariciar, beijar carinhosamente as outras pessoas” diz uma versão para meninas publicada em 2013.

O documento de 52 páginas também traz orientações sobre o uso da camisinha feminina e masculina, pílula do dia seguinte e indica fontes para informações sobre outros métodos contraceptivos como pílula, injeções, DIU e diafragma.

A abordagem do governo federal é criticada pela infectologista Lucy Cavalcanti Vasconcelos, da Sociedade Paulista de Infectologia. “O governo fica bitolado num modelo fundamentalista cristão que não é a cara do Brasil. O brasileiro é um povo sexuado, que gosta de sexo. A iniciação precoce é comum. E isso é assustador do ponto de vista de gravidez indesejada e de doenças sexualmente transmissíveis, então eu vejo com péssimos olhos a campanha”, afirmou.

Vasconcelos ressalta a necessidade de divulgar informações claras sobre o tema considerado tabu em ambientes familiares ou escolares. ”Quanto menos informação, mais as pessoas vão fazer coisas de maneira errada. Sem informação, a tendência é só piorar [os indicadores de ISTs]”, completou.

*Com informações do HuffPost Brasil.