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‘Salvador Pra Cego Ver’, projeto apresenta cidade para pessoas com deficiência visual através da audiodescrição de imagens

Redação,
16/05/2021 | 13h05
Festa de Yemanjá (Foto Will Recarey)

Reapresentar a cidade de Salvador de forma acessível para pessoas com deficiência visual, a partir da audiodescrição de imagens e vídeos que ilustram a cultura e patrimônio da cidade, essa é a ideia do projeto Salvador Pra Cego Ver. Idealizado pela educadora e autora do projeto #pracegover Patrícia Braille e pela produtora cultural Edmilia Barros, o projeto acontece através do instagram e facebook @salvadorpracegover e pretende criar um canal de diálogo com pessoas cegas e de baixa visão para promover um turismo mais acessível e inclusivo. Além das imagens audiodescritas, o projeto contará com vídeos de convidados especialistas debatendo sobre o tema. Os recursos audiovisuais contarão com tradução em Liibras. Mais informações: www.salvadorpracegover.com

A ideia é compartilhar fotos e vídeos de pontos turísticos, locais históricos, manifestações culturais, gastronômicas e religiosas, através do recurso da audiodescrição que permite traduzir imagens em palavras. O trabalho será realizado por uma equipe composta pelos audiodescritores Patrícia Braille, Ariana Santana e Paulo Schmidt; a consultora de audiodescrição, Silvania Macedo; o especialista em turismo, Diogo Santos e a intérprete de Libras, Eurides Nascimento. Todos com experiência em educação inclusiva, tradução, arte e cultura popular. 

De acordo com Patrícia Braille, o projeto impacta diretamente moradores e turistas com deficiência visual, mas também chama a atenção de toda a sociedade para pensar a cidade de maneira mais inclusiva. “Salvador é uma cidade linda, mas que mantém pessoas com deficiência em um relativo isolamento social, na medida em que não oferece caminhos acessíveis para que a cidade possa ser apreciada. Nossa intenção não é que a pessoa cega e com baixa visão apenas conheça Salvador pelas nossas audiodescrições, mas sim que elas despertem para as belezas da cidade e se interessem por interagir melhor com esses espaços”, afirma Patrícia.

Consultora do projeto e cega há 27 anos, Silvania Macedo destaca a relevância da iniciativa para uma maior inclusão e autonomia das pessoas com deficiência visual na forma de experienciar a própria cidade e estimular um turismo mais acessível. “Muitas vezes passamos por lugares belíssimos, pontos turísticos conhecidos, mas não conseguimos acessar bem porque não temos referências dessa imagem. A audiodescrição é uma ferramenta imprescindível para nos ajudar a criar uma imagem mental desses ambientes e nos sentirmos parte desse mundo tão visual em que vivemos”, afirma Silvânia.

Para compor o acervo de imagens, o projeto conta com a colaboração de diversos fotógrafos baianos. Entre eles Caíque Bouzas, Daniele Rodrigues, Evanildo Araújo, Fabrício Costa, Fernando Gonçalves, Gustavo Machado, Ibsen Santos, Ícaro Sena, Leonardo Monteiro, Marcos Barbosa, Nathalia Miranda, Paula Fróes, Rafaella Dominguez, Rapha Dutra, Tiago Quirino, Uiler Costa-Santos, Vanessa Aragão e Will Recarey.

O projeto é contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.

Patrícia Braille (Foto: Danielle Silva)

MAIS SOBRE PATRÍCIA BRAILLE

Patrícia aprendeu Braille sozinha, aos 16 anos, para ajudar colegas cegos na escola onde cursou o ensino médio (magistério). Autora do Projeto #PraCegoVer, foi coordenadora da Educação Especial no Estado da Bahia e consultora da UNESCO (2009 a 2013). É formada em Letras Vernáculas (Ucsal) e Especialista em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Uneb); Autora do livro Manual do Ledor na Perspectiva da Audiodescrição e de artigos científicos nas diversas temáticas dos livros acessíveis, publicados por renomadas instituições. É atuante na editoração de livros acessíveis digitais, em Braille, e com audiodescrição nos mais diversos formatos. Criou o projeto “De Olho no Braille” para ensinar Braille à crianças que enxergam em Salvador, Brasília e Curitiba. Durante a pandemia formou mais de 300 profissionais ledores para realizarem leituras para pessoas cegas e com baixa visão.

O que é Audiodescrição

A audiodescrição é uma tradução que consiste em transformar imagens em palavras, obedecendo a critérios de acessibilidade, respeitando as características do público a que se destina. É produzida, principalmente, para pessoas cegas, mas tem beneficiado outras como as com dislexia, deficiência intelectual ou com déficit de atenção, por exemplo.

O que é #PraCegoVer

É um projeto de disseminação da cultura da acessibilidade nas redes sociais e tem por

princípio a Audiodescrição de imagens para apreciação das pessoas com deficiência visual. Foi idealizado pela professora baiana Patrícia Braille

Como os cegos conseguem ler as descrições de imagem no computador?

Atualmente milhares de pessoas cegas usam as redes sociais com auxílio de programas leitores de tela capazes de transformar em voz o conteúdo publicado. Contudo, as imagens necessitam ser descritas, para que os leitores consigam transmiti-las às pessoas com deficiência visual.