Salmo 91 conta histórias de presos do Carandiru

Genilson Coutinho,
27/02/2012 | 17h02


No ano do vigésimo aniversário do massacre Complexo do Carandiru, estréia no dia 08.03, em Salvador, a peça Salmo 91. Dirigida por Djalma Thürler, essa será a segunda montagem brasileira do texto, que venceu o Prêmio Shell em 2008. A temporada acontece de quinta a domingo, no Teatro Molière, sempre às 20h. O elenco conta com Lucio Tranchesi Rubio, Fábio Vidal, Duda Woyda, Rafael Medrado e Lucas Lacerda.

Com texto de Dib Carneiro Neto  baseado no romance de Dráuzio Varela Estação Carandiru, a peça conta as histórias de dez presos do pavilhão nove, onde oficialmente 111 foram assassinados, naquela que é conhecida como a maior chacina do sistema penitenciário brasileiro. Crime, vaidade, medo, desejo e violência brotam das grades, desenhando um emaranhado vivo da vida no cárcere.

A delícia do crime – Estruturado em dez monólogos, o texto explora a visão pessoal dos presos sobre vida e crime. Mas as histórias não são isoladas; elas se comunicam entre si, com o personagem Dadá atravessando as falas dos companheiros, como narrador destes contos da vida real. “Quero mostrar que estes presos não são coitados, mas também têm prazer pela marginalidade” diz Thürler, para quem o grande trunfo do texto é dar voz ao subalterno. “Salmo 91 dá voz a bandidos inescrupulosos, matadores impiedosos e criminosos revoltantes.” completa.

Ao mostrar que o subalterno pode falar, o diretor busca politizar a produção cênica, fazendo do teatro também um palco de questionamento social. A proposta é discutir castigo e prisão na sociedade contemporânea, não apenas questionando o código penal, mas suas interfaces com a cidadania, direitos humanos e solidariedade.

A peça faz parte da trilogia sobre o cárcere, inaugurada com O melhor do homem, em 2010. Além das questões que envolvem o controle carcerário, Salmo 91 também trabalha com a produção de masculinidade.  “É um universo muito masculino, mas também extremamente lírico. Se retirados do contexto penitenciário, seriam dramas sobre a crise da masculinidade tingidos de uma urgência trágica”, conta o diretor.

 

Anti-espetáculo – Salmo 91 não é um relato realista do massacre, nem uma arqueologia dos personagens. A montagem é intencionalmente o anti-espetáculo, despido de supérfluos, e aposta no trabalho do ator para compor o vazio metafórico no palco – uma característica das produções de Thürler, que acredita numa arte mais orgânica. Em lugar de grandes cenários, ele aposta em um mergulho profundo na subjetividade dos personagens, sua potência. Ou seja, palco minimalista, histórias viscerais.

A cenografia é assinada pelo premiado José Dias, considerado um dos principais cenógrafos brasileiros, tendo assinado grandes obras no teatro e na TV e recebido prêmios como o Molière, o Shell e Mambembe. A parceria com Thürler vem de longa data e desde 2002 Dias assina a cenografia das montagens da Cia Atelier Voador.

SERVIÇO – Salmo 91

Estreia: 08.03

Apresentações: Quinta à Domingo

Local: Teatro Molière, Av. 7 de Setembro, 401 – Ladeira da Barra.

Horário: 20h

Preços: R$ 20 e R$ 10

 Direção: Djalma Thürler

Texto: Dib Carneiro Neto

Cenografia: José Dias

Elenco: Lucio Tranchesi Rubio, Fábio Vidal, Duda Woyda, Rafael Medrado e Lucas Lacerda