Sala VIP

Sala Vip Com Juliana Ribeiro

Redação,
09/12/2011 | 14h12

Historiadora, cantora e compositora, Juliana Ribeiro vem agregando a pesquisa à sua carreira desde o início, em 2001. Seu trabalho tem levado milhares de soteropolitanos a prestigiá-la nos mais diversos espaços da capital baiana, reconhecimento que tem lhe rendido indicações a prêmios e grande aceitação do seu novo CD “Amarelo”, que traz um repertório com as variações rítmicas do samba, como Lundu, o Batuque, Jongos, Sembas Angolanos, Maxixe, Samba-de-Umbigada, entre outros gêneros.

A cantora, que recentemente participou da 1ª Paradinha Gay do Rio Vermelho, em Salvador, evento que contou com o apoio do Site Dois Terços, fala nesta entrevista um pouco sobre o seu trabalho de pesquisa, a aceitação do público LGBT e como conseguiu “driblar” as comparações com cantoras como Mariene de Castro e Daniela Mercury.

 DT – O seu trabalho tem um diferencial em relação à maioria dos demais compositores e intérpretes, que é reunir pesquisa e criação artística. Fala um pouco sobre como é feita essa junção.

A minha pesquisa é consequência do meu palco. Sou historiadora e sempre tive necessidade de saber o que estava interpretando, quem era o compositor, o contexto em que a música foi feita, já que a canção é reflexo do seu tempo.  Este processo de descoberta é sempre muito saboroso, ainda mais quando o tema é música. É muito bacana entender os movimentos musicais e pesquisar nossas influências, afinal de contas, não somos filhos de chocadeiras!

DT 2 – Você foi indicada ao Troféu Caymmi, em 2007, como cantora revelação. Você atribui essa indicação justamente a este diferencial?

Acredito que sim. Na época, eu fazia parte da Zaccatimuana, uma banda que compunha a partir da manifestações da cultura popular. Era muito interessante misturar um som autoral com ritmos como caboclinho, ciranda, ijexá… Era algo novo na cena “alternativa”, e creio que esse diferencial me rendeu esta indicação.

DT – Na sua dissertação de mestrado, cujo tema é “Quando canta o Brasil: uma análise do samba urbano carioca na Rádio Nacional nos anos 1950”, você trata da história e construção do samba como um símbolo nacional moderno. Qual o diferencial entre o mercado do samba naquela época e na atualidade?

Naquela época, as rádios eram parceiras dos artistas e faziam o link entre o gosto popular e o lançamento de novos talentos. Antes de lançar um disco, as gravadoras faziam um single do artista que tocava nas rádios. Se houvessem pedidos do público e uma boa audiência para aquele artista, as gravadoras faziam o disco na íntegra. Ou seja, era preciso ter qualidade musical para se ter um disco e tocar na rádio, e o público era o termômetro desta relação.

DT  – Você já se definiu em outras entrevistas como uma cantora popular. Como você percebe a aceitação do público, sobretudo em Salvador, onde o destaque maior, principalmente por parte da mídia local, tem sido por outros ritmos musicais

Hoje, percebo que há uma maior abertura por conta da política cultural que prima pela diversidade e interiorização da cultura, mas ainda há muitos espaços a serem conquistados. Não vejo problema em se tocar este ou aquele ritmo, mas sim na hegemonia de um em detrimento de outros. É preciso mostrar a Bahia por inteiro, isso sim é pluralidade cultural.

DT  – Em outras ocasiões, você já foi comparada a Daniela Mercury e Mariene de Castro. Como você conseguiu lidar com isso e firmar uma marca própria em meio às críticas?

As comparações existem pela necessidade do público em fazer associações e não pelo artista. Meu trabalho sempre foi direcionado e pautado numa pesquisa histórica. A partir do momento em que o público percebeu isso as comparações cessaram, inclusive pela mídia local.

 

1ª Paradinha Gay do Rio vermelho

DT – O público LGBT, que é conhecido por ser mais exigente, tem marcado presença nos seus shows. Como você percebe o feedback desse público?

Fico muito feliz com a presença deste público por que são pessoas muito verdadeiras. Só vão à um show que realmente as emocione. E eu sou assim: se saio de casa para cantar, uma parte de mim vou deixar no palco, entrego ao público o meu melhor sempre. É imensurável ver as pessoas cantando junto “Eu vim das Águas” ou “Lição de Vida”. Cada vez que isso acontece, renovo meus votos com a música e com o público que me acompanha, e agradeço sempre ao universo viver daquilo que amo.

DT  – Como tem sido a aceitação do seu novo CD (Amarelo), lançado em agosto deste ano?

Melhor impossível! E isso a gente mede pelo público e também por grandes mestres. Fiz questão de entregar a todos os maestros de Salvador, pedindo a opinião sincera de cada um deles. Tive respostas muito positivas. A crítica especializada fez elogios generosos e recomendou Amarelo nacionalmente.  Pra completar, o grande público abraçou o CD, cantando os antigos sucessos e as músicas novas. Hoje, nos shows por exemplo, me pedem “Edith” (canção de Jota Veloso) de bis. Fiquei feliz demais no parque da Cidade, quando vi mais de 5 mil pessoas cantando  junto. Fui às lágrimas!

DT  – Diversas cantoras baianas tem se dedicado, assim com mo você, por fazer um trabalho diferenciado. Dentre elas estão Claudia Cunha, Manuela Rodrigues e Márcia Castro, que têm se destacado no cenário nacional. Quais são os seus planos ou quais estão sendo suas ações de divulgação do seu trabalho nacionalmente?

A ideia agora é lançar Amarelo nacionalmente. Já começamos através do Conexão VIVO. Fomos para BH e voltaremos lá em breve, tão boa foi a aceitação. Passamos agora no Edital de Circulação da SECULT e iremos lançar Amarelo em Jequié, Vitória da Conquista, Itabuna e Santo Amaro. No Verão, quero trazer para Salvador os artistas da cena brasileira  fazendo um intercâmbio com a música ancestral na atualidade. É para isso que Amarelo veio: para agregar novos artistas e poder fazer novas parcerias. É esse espírito que levo para nossa turnê fora de Salvador.

Por Igor Leonardo

Foto: Genilson Coutinho