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Sair do armário: Um doloroso processo de tortura moral e psicológica

Genilson Coutinho,
07/07/2021 | 10h07

*Padre Alfredo Dorea

Num país marcadamente homofóbico, sair do armário não é tarefa fácil. A necessidade de pessoas da comunidade LGBTQIA+ terem que vir a público falar da própria orientação sexual, nos remonta as sessões dos tribunais inquisitórios. Um doloroso processo de tortura moral e psicológica. Igual exposição não se requer de pessoas heterossexuais.

Se “cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é”, entendo que cada “outing”, deva merecer se não os aplausos, ao menos o silêncio respeitoso dos que testemunhamos tal ato de coragem.
 
Esta é uma decisão que deve ser feita exclusivamente em primeira pessoa, pois em pleno século XXI, o fato de declarar-se gay/lésbica/bissexual/trans ainda resulta em violência familiar, expulsão de casa, perda de amizades, violência nas ruas, demissão e até falta de oportunidades de trabalho. Em temos difíceis como os atuais, a decisão vergonhosamente ainda implica em múltiplas violações de direitos para quem a assume.
 
‘Sair do armário’, no atual contexto, é ato heróico, nada  fácil para a maioria dos gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans. E isso também inclui pessoas públicas, que não estão imunizadas de sofrer com a homofobia, tampouco as protege de perder oportunidades e enfrentar obstáculos na carreira pública e profissional.
 
Não poucas pessoas públicas da comunidade LGBTQIA+ sofrem os efeitos nefastos da sociedade infectada pela cultura homofóbica. Muitos perdem o controle sobre sua própria vida e tem  sua intimidade e momentos pessoais invadidos e expostos.

Antes mesmo de ser pessoa pública mais ou menos famosa, estas pessoas são seres humanos, criados pro Deus com a sexualidade e o gênero que tem e como tal merecem nosso absoluto e incondicional respeito e reverência.
 
Num segundo momento vale acompanhar e sustentar quem “saiu do armário”, no seu compromisso real e efetivo com as lutas da comunidade LGBTQIA+, num ato de solidariedade tão necessário na afirmação das políticas públicas e afirmação dos direitos das pessoas destes grupos, que merecem ser tratadas com respeito, dignidade e preservadas de toda forma de discriminação, preconceito e violência.
 
Uma figura pública que fala livremente sobre sua orientação sexual pode ser um combustível muito poderoso para dar força a quem se sente obrigado a viver dentro do armário. Mas parece que, aos olhos da comunidade LGBTQIA+ dita progressista, não só o sair do armário salva.

Creio que lançar ataques pessoais não seja boa coisa na política. No caso em lide, não dá nem tira nada dos embates em favor das pessoas LGBTQIA+, que são lutas de princípios e certamente não deveriam visar consenso ou votos.
 
Certamente seremos muito mais felizes quando em futuro (que seja próximo), ninguém se preocupe ou interrogue a outrem com quem costuma fazer sexo. Afinal de contas, “qualquer maneira de amor vale a pena”.

*Padre Alfredo Dorea é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.