Retrospectiva: Os espetáculos teatrais que ajudaram a dar visibilidade à causa LGBT em Salvador

Genilson Coutinho,
27/12/2013 | 22h12

A arte sempre será uma grande aliada da sociedade para a inclusão de discursos e temas que em alguns casos ainda são vistos como tabu ou simplesmente ficaram limitados a determinados seguimentos e grupos. Mas, em Salvador, os tabus aos poucos foram ganhando diversos espaços, como teatros, bares, salas de cinema, praças e até estação de transbordo. Tudo para romper a barreira do preconceito e falar de amor, sexualidades, sonhos e desafios encontrados na vida dos cidadãos LGBT.

Um pouco dessa reflexão pôde ser vista por héteros,  entendidos e desconhecedores do universo LGBT, todos passaram a conhecer um pouco mais sobre o universo gay através da arte. Este ano os espetáculos “Diário de Genet”, “Solo Almodóvar” e “Casulo – Uma Interversão Trans” movimentaram a cena, atrelando ações cidadãs e dando visibilidade à causa.

Uma das grandes obras de 2013, o espetáculo “O DIÁRIO DE GENET”, do ATeliê Voador, com texto e direção de Djalma Thürler e atuações viscerais de Duda Woyda e Rafael Medrado. A peça dá um banho de sensibilidade ao trazer para o palco um mergulho nos pensares do escritor francês Jean Genet, que silencia a plateia face à sincronia de corpo e pensamento embreados por um cenário costurado de signos  e muita plasticidade, atrelado a facilidade de falar de coisas serias com simplicidade e total alcance entre os atores e a público.


O diretor Djalma não se limitou em debater o tema apenas no universo do poeta Frances, mas também incluiu nos seus projetos a cidadania no espetáculo “Solo Almodóvar”, que deu vida à sorridente e humorada Dolores, interpretada pela atriz Simone Brault, uma travesti inspirada na obra de Pedro Almodóvar, mostrando nos palcos da grande Salvador as problemáticas, dramas e conquistas na vida das travestis e das mulheres transexuais.

O espetáculo, além de debater a temática da transexualidade, também incluiu as meninas no mercado de trabalho, tendo elas  tanto nos bastidores, como auxiliares de produção, quanto no palco, atuando ao lado de Simone. Dentre elas, a estrela e militante Marina Garlen, que há 27 anos leva sua arte para os palco baianos, ao lado da jovem e talentosa Rainha Loulou e fechando o trio com participação da transexy Tanucha, debatendo sobre o tema e trazendo para os eixo das diversas camadas socais um pouco sobres a vidas deste cidadãos que enfrentam na pele o preconceito pela falta de conhecimento e informação.

A temática da transexualidade e dos direitos LGBT’s não foram abordados apenas com a história de Dolores, ganhando mais força e voz com o provocativo e grandioso “Casulo Uma interversão Trans…”, com texto e direção do jovem Ângelo Flávio, que teve o desafio de montar um espetáculo politizado e com pouco recursos completamente focado nos direitos humanos.

Foi com a ousadia e o talento que Ângelo Flávio levou para estação da Lapa o seu Casulo, que atraiu curiosos, militantes e transeuntes da estação paralisados com as intervenções do texto intercalados com musica. Lá estiveram transexuais, atores transformistas, cantores e atores formando um grande time em nome da cidadania, provando mais do que nunca o quanto a arte é fundamental para sensibilizar e mexer com a mudança de comportamento das pessoas.

Aos pouco, Salvador vai sendo ocupada por casulos, por poetas, por Dolores para contar um pouco das historias de vida e de luta de homens que amam outros  homens, e de mulheres que amam outras mulheres. Não os vejo como gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais, mas sim como somos  simplesmente humanos.

Vale ressaltar que outros espetáculos também deram sua contribuição ao movimento LGBT ao longo de 2013 .

Por Genilson Coutinho

Editor chefe do site Dois Terços

Fotos: Divulgação/Genilson Coutinho