Retrospectiva – Acompanhe algumas entrevistas que passaram por aqui

Genilson Coutinho,
26/01/2011 | 19h01

Só trabalho para gay

Foi através de comentários de amigos que nossa equipe chegou até a sorridente Maria Lúcia, 57 anos, moradora do bairro de Cajazeiras, casada e mãe de três filhos.

DT – Você aceitaria um filho gay?
ML – Sim. Por que não deveria aceitar? Somos todos iguais. Antes de conhecer o mundo gay eu já era uma pessoa que acreditava que cada um de nós tem o direito de escolher como deseja ser feliz. Só porque ele é gay, não merece respeito? Não concordo com isso. Eu vejo a luta diária deles, sem falar no caráter e respeito. Isso pra mim é muito importante. O resto é preconceito de quem não conhece.

DT – Neste tempo todo de convivência com os gays, você já teve vontade de conhecer algum espaço gay?
ML – Claro! Vi no jornal que tem uma boate no Rio Vermelho e de um bloco no carnaval. Ainda vou um dia pra dançar a noite inteira. No dia que pintar o convite só vou avisar em casa: quero ficar até o dia amanhecer. Deve ser muito bom. Ainda vou realizar esse sonho.

O ator paulistano Edwin Luisi – intérprete de personagens

inesquecíveis fala ao  Dois Terços

Edwin Luisi demonstra grande entusiasmo em reviver Lana Lee, um dos principais personagens de sua carreira. Assim, durante a entrevista, o autor comenta, entre outras coisas, sobre sua trajetória artística e afirma que o público gay tem sido muito presente em Tango, Bolero e Cha, Cha, Cha: “todos amam a forma como o personagem é tratado. Não faria um trabalho onde o gay não é tratado com dignidade e respeito”, explica.

DT – A transexual Lana Lee estrela da peça “Tango, Bolero e Cha Cha Cha” foi sucesso de público e crítica. E com a comunidade gay, como eles reagiram à sua interpretação?

EL – O público gay tem sido muito presente nessa peça e todos amam a forma como o personagem é tratado. Não faria um trabalho onde o gay não é tratado com dignidade e respeito.

DT – Muitos atores recusam papeis gays com medo de perda de patrocínio, preconceito ou até mesmo pela falta de coragem. Você sofreu algum tipo de preconceito por suas escolhas no teatro?

EL – Nenhum preconceito. Quando fiz meu primeiro papel homossexual já havia construído minha carreira de uma forma bem sólida com vários prêmios ganhos.

Educação transexual

Professora da rede pública do Rio Grande do Sul, a educadora transexual Marina Reidel, 38 anos, fala nesta entrevista ao Dois Terços sobre as dificuldades e as vitórias que já estão sendo conseguidas para vencer o preconceito e a homofobia no ambiente da escola.

DT – Como foi processo de aceitação dos seus colegas de trabalho em ter no mesmo ambiente de trabalho uma profissional de educação transexual?

MR – Bem, quando eu decidi me transformar eu ainda estava de férias na Europa. Foi esta viagem que consagrou minha decisão e coragem de ver que se eu cheguei até o outro lado do oceano eu teria condições de ir além. Ao retornar à escola, comuniquei à direção, que ficou espantada, mas me deu apoio e, mesmo insegura quanto à reação da comunidade, não hesitou em pedir que os colegas trabalhassem este tema nas aulas. Munidos das leis de discriminação e preconceito tiveram a liberdade de usar suas aulas para falar sobre o assunto e comentar a transformação do professor.

DT – Muitos jovens estão deixando as escolas em razão da crescente onda de violência e da homofobia nas escolas. Você acredita que alguns professores colaboram para esses atos?

MR – Sim. Temos exemplos claros de alunos, principalmente transexuais e travestis, sofrendo esta discriminação. Sabemos de casos sérios de evasão e abandono devido a esta situação. Alguns colegas têm demonstrado estas atitudes por desconhecer e não entender as questões ligadas a LGBTs, sendo o preconceito maior que a aceitação à diversidade. Entretanto, sabemos que seria este o espaço para acolher estas diversidades. A escola deve ser inclusiva.