Comportamento

Social

Resposta do GGB ao “cantor pássaro”: As vaias não foram dos Gays, mas da situação

Genilson Coutinho,
23/04/2016 | 09h04

13046160_10153734565402979_1351897615_n

Por Marcelo Cerqueira 

Do GGB. O Grupo Gay da Bahia (GGB) apresenta considerações à entrevista do cantor Igor Kanário,  “ENTREVISTA: “Um cara do gueto, da favela, cantando na Europa. Eu cheguei lá”, diz cantor Igor Kannario sobre turnê internacional,  ao jornalista André Uzêda e Greicehelen Santana, no site da TV Aratu online, no dia 22 de abril de 2016.

Lendo a matéria, pude perceber alguns aspectos, inclusive de mudança na forma como o cantor se expressou na entrevista, muito mais “culto”, apesar de ainda usar algumas frases consideradas “feias”, na comunicação com o leitor do site. Considero o “cantor pássaro” um grande artista, possuidor de excelente capacidade vocal, considero também excepcional a sua capacidade de arrastar multidões. As pessoas anseiam por esse tipo de artista, que expresse seus anseios, e enquanto mito, ele desce do “Olimpo” quando fala para o povo, na língua do povo. Poucos artistas tem essa possibilidade, e ele é um desses artistas, um privilegiado. “O povo o enxerga como um artista, que consegue, nas suas musicas, reproduzir  sentimentos e desejos da favela, como ele próprio fala em seus shows”. Afirma Marcelo Cerqueira, presidente do GGB, reforçando que é necessário esse tipo de artista nas comunidades porque funciona como ícone que estimula os outros.

“Considero um equivoco ele utilizar a expressão “Hipocrisia” no sentido de que nós, LGBT, somos hipócritas, mas acho positivo quando ele reconhece que sofremos preconceito a todo momento, e sofremos sim. A cada 28h um LGBT é assassinado no Brasil, vítima da homo, lesbo, trasfobia. Somos difamados, caluniados, preteridos e exterminados pela intolerância da sociedade que, mesmo diante dos avanços, nos considera indivíduos de segunda categoria.

O que houve no carnaval junto com a cantora Claudia Leitte, no bloco Largadinho, foi natural, ninguém podia impedir uma manifestação daquela, considerando que as pessoas que estavam no bloco compraram o abadá para ouvir Claudia Leitte. Esse tipo de manifestação ocorreu em outros blocos, em que outros cantores foram vaiados, isso se dá pelo nível de exigência dos foliões, que compram esse produto no carnaval e querem ter a melhor experiência possível.

Considero injusto Igor Kanário acusar os LGBTs pelas vaias recebidas. Ele não pode afirmar isso, que as vaias partiram dos gays. Necessariamente o bloco não é LGBT, ainda havia turistas, homens, mulheres, jovens, uma grande variedade de foliões. A questão toda é relacionada ao momento e ao público, que comprou o abadá, e, de repente, Claudinha aparece com “o cantor pássaro”.  Ninguém entendeu nada, inclusive porque os foliões não sabiam que iria ter Kanário.  Assim, quando Igor começou a cantar, começou o tumulto, o empurra-empurra, ele ” sentou a madeira” de cima do trio e a galera desceu toda, apertando os foliões do Largadinho, que ficaram apavorados, inclusive conta-se que, quem estava próximo à corda correu para dentro do bloco, com receio de acontecer alguma situação, incluindo brigas e pequenos furtos.

É injusto creditar aos gays essas vaias. Igor Kanário participou, em 2013, da Parada do Orgulho LGBT da Bahia, e foi ovacionado pelo público LGBT, o que se pode constatar nos vídeos no YouTube, onde mostram a grande animação desse público. Ele desfilou como convidado da Deusa Feiticeira, nós não sabíamos da ida dele, se soubéssemos, sem dúvida convidaríamos para vir ao nosso trio oficial, especialmente por conta do preconceito de alguns contra ele e ao seu estilo musical.

Salvador é a capital da música, uma cidade musical por natureza, existindo público para todas as modalidades, o pagode é uma manifestação cultural não somente do gueto, mas universal, haja vista que as bandas viajam por todo o mundo, exibindo as suas canções. O estilo pagode, em Salvador, agrada a um público grande.

No carnaval, por exemplo, nos camarotes chiques, quase todos tocavam pagode, as bandas estão muito bem representadas, participando dos programas nacionais, mostrando o seu trabalho. O que acontece é uma divisão conceitual de pessoas que não gostam de algumas músicas, e ainda, dentro do pagode, algumas bandas  não possuem uma linguagem poética e fazem utilização de palavras de baixo calão, baixaria.