Rafael Myranda candidato LGBT de Simões Filho fala ao Dois Terços

Genilson Coutinho,
21/09/2012 | 10h09


A série de entrevistas com candidatos a vereador continua. Nesta semana, entrevistamos Rafael Myranda (PRTB), candidato à Câmara Municipal de Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador. Com 21 anos, ele representa não só a população LGBT, mas o protagonismo juvenil nestas eleições.

Auxiliar administrativo no SAC de Camaçari, Rafael Myranda está se licenciando em História. De acordo com o jovem, ele se filiou ao PTRB porque foi “o partido que apostou numa candidatura LGBT na cidade”.

Confira a entrevista completa:

DT – Como nasceu o desejo de se candidatar?

Nasceu do descaso que vejo o legislativo de minha cidade frente aos direitos humanos , principalmente ao direitos dos LGBT.Nossa cidade não possui projetos e políticas públicas para as minorias;negros,quilombolas,mulheres e LGBT.Que sofre com um grande índice de racismo,machismo e principalmente Homofobia.Como sou de movimento social resolvi quebrar o paradigma de ter uma câmara que não tem representante dos Movimentos Sociais e lancei uma candidatura LGBT que abraça a todos e quebra preconceitos enraizados.

DT – Qual a importância de um representante LGBT no legislativo municipal?

Acredito que a atividade política é um direito universal, mas a representatividade política é uma necessidade de todos os grupos de nossa sociedade, seja com representantes próprios ou com representantes comprometidos com as demandas dos segmentos a que se pré dispõem a representar. O principal motivo de minha candidatura é tentar lutar por políticas públicas de direito humanos, principalmente para o segmento de mulheres, negros e LGBT que são os mais desfavorecidos da sociedade.Um representante do Movimento LGBT será sensível a todas as demandas e mazelas oriundas da população carente que é tanto esquecida.

DT – Quando você iniciou sua militância no movimento LGBT?

Iniciei a 3 anos atrás quando sentir na pele varias formas de preconceito e discriminação referente a ser de uma orientação sexual dita “anormal” ao conceito de uma sociedade heteronormativa,machista e patriacal.Foi com esse pensamentos que fundei o Grupo Contra o Preconceito, de Simões Filho-(http://grupocontrapreconceito.blogspot.com), filiado ao Fórum Baiano LGBT .Ao longo desse pequeno período pude me capacitar sobre direitos humanos, prevenção de DST/AIDS e hoje me sinto pronto para poder fiscalizar, propor e lutar na Câmara por políticas públicas para Simões Filho
DT – Quais suas prioridades se for eleito vereador em Simões Filho ?
• Se eleito planejo construir um mandato participativo. Sem ouvir a população em sua diversidade fica muito difícil pensar projetos de lei que, de fato, contemplem a população. Fiscalizar as políticas públicas com ênfase na saúde e cultura. Além disso, lutar fortemente pela criação da secretaria municipal de direitos humanos com coordenadorias de políticas para negros, LGBT, mulheres.
• Lutar pela criação da Secretaria de Juventude e da implementação do Conselho de Juventude com políticas oriundas dos próprios jovens,construindo assim um mandato popular.

DT – Cite alguns projetos que você deseja levar à Câmara. Um vereador gay poderia ajudar na luta contra o preconceito? Como?

Escolhi algumas áreas de atuação se eleito for:
Cidadania – Instituir o dia municipal de combate a Homofobia.
Educação – Incluir no plano municipal de educação diretrizes para uma educação sem homofobia.
Saúde – Colocar na lei de diretrizes orçamentária recursos para implantação do política municipal de saúde integral LGBT.
Segurança – Criar o Grupo de Trabalho para segurança pública municipal de LGBT.
Habitação – Garantir a prioridade de casas para Travestis, Transexuais, Lésbicas e Gays expulsos de casa ou de baixa-renda.
Cultura – Apoiar eventos culturais que promovam a paz e a diversidade cultural, como a parada LGBT, mostras , festivais.
Mulher – Estender todas as ações voltadas para as mulheres heterossexuais, para as lésbicas, bissexuais e transexuais.
Trabalho – Garantir a qualificação profissional de Travestis, Transexuais, Gays e Lésbicas para o mercado formal de trabalho reforçando a luta para que a prostituição não seja única opção de trabalho.
Comunicação – Incluir nos materiais de divulgação da Câmara Municipal e dos Órgãos da Prefeitura imagens positivas de pessoas LGBT.
Assistência Social – Garantir acesso das Lésbicas, Bissexuais, Gays, Travestis e Transexuais aos programas de assistência social dos Governos, como bolsa família, Loas, bolsa escola,…
Memória – Conferir título de cidadania, nomes de ruas, praças, avenidas, para LGBT que ajudaram a construir a história de nossa cidade.
Legislativo – Apoiar todas as ações voltadas ao combate a Homofobia, realizando audiências públicas e sessões na Câmara Municipal voltadas ao tema.
Renda – Apoiar a formação de cooperativas de Lésbicas, gays, Travestis ou Transexuais como forma de ampliar o desenvolvimento econômico municipal.
Administração – Criar na estrutura administrativa: O Conselho Municipal de LGBT, A Coordenadoria Municipal LGBT, o Plano Municipal LGBT e o Centro de Referencia de combate a Homofobia.
Só em lançar uma candidatura Gay numa cidade que tem um histórico forte de homofobia e preconceito já é uma quebra de paradigma e mudança de pensamento. Contudo finalizo com essa citação Nelson Mandela que sempre trago na minha vida: “Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da idade, cor, raça ou orientação sexual. Se aprenderam a odiar, é possível aprender a respeitar”.

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