Quatro estrelas da nova geração da música baiana que você precisa conhecer; confira

Genilson Coutinho,
27/03/2019 | 23h03

Arte Dois Terços

Por Genilson Coutinho

Salvador, nomeada também como a cidade da música, que já trazia no seu DNA os acordes da música possui um cast infinito de cantoras, cantores e grupos dos mais diversos estilos. E nesse caldeirão musical do samba reggae ao axé, nomes como Daniela Mercury, Margareth Menezes, Luiz Caldas e Gerônimo, não esquecendo da potência dos blocos afros, lá foram os baianos ganhando cada vez mais o Brasil e o mundo. Mas quem pensa que essa ebulição musical parou por não ter lançado nenhum novo nome, deve ficar atento a revolução silenciosa e empoderada que tem ocupado novos espaços e atraindo multidões por onde eles passam.

Você deve está se perguntando quem são esses novos nomes do cenário musical e são muitos, mas queremos chamar a atenção para Hiran, Maju e Luedji e Xênia, quatro vozes negras, que além de mostrar seu talento musical, trazem também suas bandeiras de lutas em prol da religião, das mulheres, das pessoas trans e gays, promovendo uma nova geração que não usa apenas o microfone, mas também para gritar contra o preconceito, homofobia e o feminicídio.

A força destes artistas pode ser comprovada em cada show deles, onde uma multidão se aglomera para cantar os hits que não tocam nas rádios e que muitos nem se quer escutou uma estrofe, porém se transformam em hinos pelo público. A identificação é visível, além do orgulho de se ver representado em um espaço onde muitos nem como platéia pisavam nestes lugares.

E lá estão bichas pretas, transsexuais e mulheres empoderadas, donas dos seus corpos e suas histórias, construindo novos olhares e mostrando que é possível fazer uma revolução por meio da arte.

Para aqueles que ainda nunca escutaram falar sobre esses ícones da música de Salvador, que vem há anos construindo uma grande história de luta e resistência, vamos compartilhar com vocês um pouco mais destas estrelas da música baiana. Confira!

Luedji 

Luedji

Nascida no bairro do Cabula, em Salvador, Luedji deu seus primeiros passos na música na Escola Baiana de Canto Popular. Há dois anos, mudou-se para São Paulo e viu nas andanças pela capital uma infindável fonte de inspiração musical. “Quando cheguei aqui fui impactada pela falta de corpos negros nas ruas. Isso, claro, comparado a Salvador. Assim surgiu a letra de Um Corpo no Mundo”, explica a cantora.

A música viralizou e se tornou o norte de um trabalho mais robusto. “As pessoas começaram a perguntar quem eu era, onde poderiam encontrar meu CD, procurar por mais canções na internet”

Luedji lotou o Palco do TCA no show de estreia promovido pela Natura Musical. A baiana segue conquistando cada vez mais fãs por onde passa.

HIran

Com o primeiro álbum lançado neste ano, Hiran já está conquistando espaço no cenário musical. Natural de Alagoinhas, o rapper de 22 anos descobriu o interesse por música muito cedo – quando criança, assistia a videoclipes na MTV enquanto seus amigos costumavam assistir a desenho animado. Mas a possibilidade de ele mesmo tornar-se músico era impensável: “Eu sempre tive o meu amor interno pela música, mas demorou para eu ter noção de que alguém de Alagoinhas conseguiria fazer um bagulho desses”.

Formado em publicidade, chegou a trabalhar na área, mas a inquietação com o universo sonoro fez com que ele jogasse tudo para o alto e fosse investir na carreira artística. ”Tudo que eu fiz foi muito dar a cara a tapa e deixar fluir”, diz.

Com o primeiro single lançado no ano passado, Choque de bass, ele já conseguiu firmar parcerias com nomes importantes da música, como a cantora Daniela Mercury e a BaianaSystem, com quem cantou no Carnaval. O artista também brilhou ao lado do BNegão, que o convidou para abrir shows em São Paulo. Mas vale lembrar que além de toda essa correria ele foi uma das atrações do último Baile da Vogue, em São Paulo.

Xenia França

Xênia França, baiana radicada em São Paulo, é uma cantora reconhecida pelo seu trabalho dentro da banda Aláfia, entre outros. Enaltece e busca o resgate, além da propagação, da cultura afro-brasileira em meio da arte –  e de músicas muito boas!
A cantora se transformou em uma referência de empoderamento e comportamento feminino, principalmente para as mulheres negras. É aquele ditado: Deus é uma mulher negra!
Lançou seu primeiro disco homônimo, Xênia, em 2017, e desde então vem conquistando espaço dentro do cenário musical por sua qualidade e sua voz ativa na militância do feminismo negro.

Com hits como Pra Que Me Chamas e Preta Yayá, Xênia concorreu a Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa no Grammy Latino 2018!

Majur

Nascida e crescida na periferia de Salvador, Majur começou a cantar aos 5 anos no coral da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador.
Das apresentações natalinas com o grupo no Pelourinho, ela passou a se apresentar em cerimônias militares com o coral do Colégio da Polícia Militar, onde estudou. E não parou por aí. “Também participei de festivais na escola. Em 2008 cheguei à final estadual do Festival Anual de Canção Estudantil, promovido pelo MEC”.
Não-binária, negra e gay, Majur se vê como representante de “um tipo de diversidade LGBTQI+”, mas recusa rótulos muito fechados. “Não conseguimos mais dividir as coisas em caixas”, diz. “É algo muito mais livre, e o verdadeiro sentido dessa liberdade é construído pelas pessoas que se dão mais tempo para entender as diversas coisas que acontecem”.
Ela conta que carrega essa bagagem tanto para suas músicas quanto para seu posicionamento público. “Tento utilizar minha imagem para criar representatividade”.

E Majur segue firme e forte conquistando seu público, de pocket show na Estação da Lapa ao trio da cantora Daniela Mercury e do Psirico no Carnaval, além da sua participação no Baile Vogue 2019.

Genilson Coutinho – Editor do Dois Terços  e ativista da Causa LGBTQ .