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Professora transexual é demitida e acusa escola de preconceito

Genilson Coutinho,
03/08/2015 | 11h08

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A professora de filosofia Luiza Coppieters, de 36 anos, começou a lecionar no Colégio Anglo Leonardo da Vinci, em São Paulo, em 2009. Na época, ainda não havia assumido a transexualidade e era conhecida pelos alunos e professores da unidade particular como “Luizão”. Em 2012, deu início ao processo de transformação com o uso de hormônios femininos. No começo, usava roupas largas para que as transformações não ficassem visíveis para os estudantes e docentes. Porém, em 2014, resolveu deixar o medo de lado e revelou para todos que era transexual. Segundo ela, foi a partir daí que os problemas com a direção do Anglo começaram a surgir.

Luiza conta que costumava dar aulas para as turmas de ensino médio do colégio e que sempre foi muito querida pelos alunos. Segundo ela, quando se assumiu transexual, em meados do ano passado, a reação dos estudantes foi muito positiva. Porém, alega que a direção não aceitou muito bem a transformação – a carga horária na escola foi reduzida e a afastaram das turmas do primeiro ano do ensino médio, mesmo sem o seu consentimento. Por conta disso, o salário foi reduzido a um terço do que recebia. A justificativa da escola, segundo ela, foi falta de espaço na grade curricular. Além disso, relata que o Anglo cancelou os grupos de debate que mantinha com os alunos, onde discutiam assuntos variados, e que a proibiu de falar sobre assuntos ligados a gênero nas salas de aula.

– Foi como se tivessem me tirado um filho. Me destruíram como professora e psicologicamente. Fiquei muito mal, entrei em depressão. Além disso, quando reduziram a minha carga horária, sem o meu consentimento, disseram que o salário seria mantido. Porém, não foi isso o que aconteceu. Quando questionei, apenas me orientaram a procurar o RH. Tive que vender alguns dos meus livros e pedir empréstimos no banco para conseguir me sustentar – desabafa a professora, destacando que a direção nunca a procurou para conversar sobre o assunto.

Nos meses seguintes, por conta da depressão e de uma síndrome do pânico, a professora se licenciou da escola por cerca de quinze dias. Em junho, para a sua surpresa, recebeu uma ligação do RH avisando que seria demitida.

– Foi transfobia, sem dúvida. Preconceito descarado. Alguns pais reclamaram de mim para a direção, mas a maioria me apoiou. Nossa sociedade é muito conservadora e autoritária, as escolas são o reflexo disso. Agora, estou correndo atrás dos meus direitos. Vou entrar com processo no Ministério Público do Trabalho contra a escola – afirma Luiza, que mantém um site voltado para estudantes.

Em nota, o Colégio Anglo Leonardo da Vinci informou que a demissão da professora não foi motivada por razões pessoais, mas por motivos profissionais. Segundo o colégio, a professora foi advertida desses motivos, passíveis de demissão, meses antes de seu desligamento e que foram “justificados após o não cumprimento das orientações”. A instituição destacou que “respeita a diversidade de classes, gênero, etnia, orientação sexual e capacidades, fomentando o direto à igualdade de oportunidades, princípio fundamental para a construção de um sistema educacional inclusivo.”

Leia a nota do colégio na íntegra:

“O Anglo Leonardo da Vinci esclarece que:

Desde que a professora Luíza Coppieters passou se posicionar como trans, embora tenha sido uma novidade para alunos, pais e educadores em meados de 2014, o fato foi discutido e bem assimilado na época: a própria professora expôs em rede social sua satisfação em ver no horário das aulas seu novo nome, assim como em outros documentos. O acolhimento foi até alvo de reportagem a respeito do tema.

Em 2015, a demissão da professora Luíza não se deu por razões pessoais, mas sim, por motivos profissionais, ligados ao cotidiano de aulas, compromissos burocráticos e éticos. Todas as razões, passíveis de demissão, foram advertidas meses antes de seu desligamento, e justificadas após o não cumprimento das orientações. O Colégio Leonardo da Vinci reforça que respeita a diversidade de classes, gênero,etnia, orientação sexual e capacidades, fomentando o direto à igualdade de oportunidades, princípio fundamental para a construção de um sistema educacional inclusivo.”