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Principal vencedor do Prêmio Braskem de Teatro, Rebola é dedicado “às bichas pretas”

Genilson Coutinho,
20/04/2017 | 16h04

Thiago Romero comemora prêmio conquistado com o espetáculo Rebola (Foto: Agencia BAPress)

Por Rafael Anjos 

O espetáculo Rebola, dirigido por Thiago Romero, foi o grande vencedor da 24ª edição do Prêmio Braskem de Teatro, que aconteceu na noite de ontem (19), no Teatro Castro Alves, em Salvador. Na categoria Texto, por Daniel Arcades e como Espetáculo Adulto, contemplando toda a equipe.

Para os presentes durante a premiação, Romero dedicou a vitória “às bichas pretas” e defendeu a cena LGBTQI  (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers e Intersexuais) reforçando o enredo de Rebola, onde um grupo de jovens atores transformistas, conduzidos por Lobo (Hamilton Cerqueira Lima), lutam para salvar o bar Xampoo da iminente falência.

Foto: Genilson Coutinho

A referência é clara, além da degradação da cena gay local, a total extinção do famoso e saudoso Beco dos Artistas, no bairro do Garcia. Antigo reduto das “bichas”, antes de irem para as boates ou de juntar seus grupos para ficar por ali mesmo, resenhando e paquerando. Saudades do BA, da minha turma reunida ali, dos bares, da diversidade e do acolhimento…

Apesar do esquecimento e do abandono de lá, pude (re)viver através de Rebola, cada uma das lembranças daquela época, em cada palavra falada do texto e na atuação generosa e arrebatadora do elenco, dentro e fora do teatro. Sim, vi a peça em sua formatação para o teatro – no Vila Velha – mas a mesma originou-se de fato no Beco dos Artistas, na rua, durante o projeto de ocupação artística do espaço, que durou apenas quatro – divertidos – meses.

Rebola não levanta apenas uma bandeira, mas várias. É um conjunto que o espetáculo carrega em sua estética e na garra das personagens em seguirem sendo bichas diariamente, enfrentando o preconceito e as adversidades, com suas alegrias e dores. A trama que se desenha no palco, tira o público do eixo em vários momentos, nos desconcerta e desconstrói. Apresentando um punhado de reflexões a respeito de quem somos e do que fazemos.

Foto: Genilson Coutinho

Acredito que a crítica de Rebola, vai além do entretenimento. Ela ataca, quando se mostra na referência ao grupo Dzi Croquettes, a omissão e mesmice que vivemos atualmente, a higienização e padronização de uma geração, baseada em estereótipos de beleza e comportamento. Basta uma olhada superficial no conceito de alguns estabelecimentos, por exemplo, para constatar o modelo heteronormativo, que monopolizou e até já extinguiu signos da cultura gay, inibindo até a interação, a paquera e o contato livre, mesmo quando, aparentemente, longe dos olhares e dedos condenatórios do preconceito.

Espetáculo sobre universo LGBT é o grande vencedor da 24ª edição do prêmio Braskem

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O ator Hamilton Cerqueira / Foto: Genilson Coutinho

Somos produtos do meio e talvez por isso, muito provavelmente, os ambientes não mais propiciem a liberdade, onde muitas vezes oprimem, e sendo então estes “novos” modelos adquiridos pelo público, desaparece a magia que existiria na diversidade de sermos quem somos. O que está evidente em Rebola é exatamente a magia, estridente, gritante e explícita em meio as loucuras e depoimentos de suas personagens.

Importante corroborar com o contexto de Rebola e enaltecer o papel das bichas pretas, dos atores transformistas, produtores, autores e diretores, que estão liderando um movimento cultural de autoafirmação e ocupação por meio da arte. Nas ruas, nos bares, nas mídias sociais e na imprensa, somos muitos e estamos presentes.

Ainda bem que inevitavelmente, as sementes de Rebola que germinaram do asfalto frio do Beco dos Artistas, deram origem a flores cheias de cores e vida. E estas estão seguindo numa riqueza de talento, força e muita luta. Sigamos! Evoé.

Ficha técnica

Texto: Daniel Arcades

Direção: Thiago Romero

Elenco: Hamilton Lima, Gustavo Nery, Fernando Ishiruji, Ricardo Albuquerque, Sullivã Bispo, Genário Neto, Thiago Almasy, Rodrigo Villa (na montagem atual a personagem é vivida por Victor Corujeira), Diogo Teixeira e Caíque Copque.

Direção Musical: Jarbas Bittencourt

Letras das músicas: Daniel Arcades

Arranjos: Jarbas Bittencourt

Coreografia: Edeise Gomes/ Elivan Nascimento

Figurino: Tina Mello

Figurinista Assistente: Luiz Santana (Rainha Loulou)

Rafael dos Anjos

Jornalista e Social Media – Especialista em Comunicação e Marketing