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“Precisamos ver outros atores negros na TV, fazendo papéis importantes e sendo mais desafiados”, diz Amaurih Oliveira

Genilson Coutinho,
17/12/2016 | 00h12

Amaurih em Pé na Cova (Foto: Renato Rocha Miranda/TV Globo)

Amaurih Oliveira é ator, natural de Ilhéus, que em 2009 mudou-se para Salvador para cursar artes cênicas da Universidade Federal da Bahia. Ainda no interior do estado, participou de peças de teatros e integrou por quatro anos o Grupo de Teatro Popular de Ilhéus. Já em Salvador trabalhou com o Bando de Teatro Olodum no espetáculo Cabaré da Raça, e no espetáculo Éramos Gays, texto de Aninha Franco e direção de Adrian Stenway. Espetáculo no qual se consagrou como ator revelação no Prêmio Braskem de Teatro em 2014. Atuante em diversos seguimentos artísticos como TV e cinema, o ator que se encontra de férias na capital baiana bateu um papo com nossa equipe sobre sua carreira.

Você foi um dos atores do espetáculo Éramos Gays, musical baiano. O que mais o desafiou neste trabalho?

Cena do espetáculo “Éramos Gays” (Foto: Genilson Coutinho )

Amaurih. Trago comigo boas lembranças desse espetáculo, éramos um grupo de seis jovens atores, trabalhando com uma equipe espetacular, direção, produção, texto e equipe técnica. Os desafios foram vários, fazer musical é algo que exige muito do ator, o corpo tem que estar extremamente pronto, disponível. Cantar, dançar e interpretar com  perfeição é algo que necessita de treino, ensaio, então o desafio era fazer e bem.

Você chegou às telas nacionais contracenando com Patrícia Pilar e um elenco do alto escalão da Globo. Como foi sua experiência?

A. Sempre digo aos meus colegas e amigos, que não existe essa bobagem de distinção, Cauã Reymond, Patrícia Pillar, Fábio Lago, Rita Assemany e tantos outros atores com quem já tive a sorte de contracenar precisam de mim, assim como eu preciso deles em cena, se o jogo não funcionar, a cena não acontece, e isso exige respeito e parceria. O trabalho tem que ser bacana para todo mundo, acredito que funcione assim.

Dênis (Amaurih Oliveira) na novela ‘A Regra do Jogo’

Como surgiu o convite para integrar o elenco de Pé na Cova?

A. Conheci Miguel Falabella numa apresentação de um espetáculo dele, quando ele se apresentou em Salvador, ao final da peça fui cumprimentá-lo no camarim, na ocasião, comentei que havia gravado uma pequena participação na série que ele escrevia Sexo e as Negas e ele ficou de assistir. Alguns meses depois a produção de elenco do Pé na Cova me convida para integrar o elenco da terceira temporada, o Miguel é um artista completo que eu admiro e respeito muito, além de um ser humano exemplar.

A presença do negro na tv sempre foi muito pequena ou em papéis secundários. Como você tem visto atualmente o cenário?

A. Realmente esse é um tipo de assunto que merecia não existir, mas infelizmente existe e precisa ser discutido. Vejo pequenas mudanças em alguns aspectos, hoje temos algumas novelas com um número maior de negros em seu elenco, mas não acredito que ainda seja o ideal, já disse isso em outras entrevistas, precisamos ver outros atores negros na tv, fazendo papéis importantes e sendo mais desafiados. É triste citar apenas alguns artistas que tenham mais chances de trabalhos na tv, não era para ser assim, tínhamos que ter em meia uns 100 atores negros na mídia, tem? Se tentarmos lembrar o nome de alguns deles, num pensamento rápido, você vai lembrar dos mesmos, e dos mesmos de novo, na verdade, falta oportunidade, temos atores e atrizes talentosos sim, e é preciso que ocupemos todos os espaços, seja no teatro, na tv, no cinema, na publicidade, é isso que quero e espero ver.

Você está no filme Irmã Dulce, que será exibido pela primeira vez na tv. Como foi viver e ver na tela uma historia real, conhecida por você desde criança?

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A. Fazer esse filme foi um presente divino, um sonho na verdade, tive um personagem bom, que me possibilitou ser visto, lembrado, agradeço muito ao Vicente Amorim pela visão de diretor que ele teve nessa obra, acho que se a visão dele fosse diferente, o meu personagem poderia passar despercebido. A história da Irmã Dulce é algo que nos dignifica como ser humano, ela se mantém viva nas suas obras, basta atentar para tudo que ela fez, é lindo demais.

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 E em 2017, o que vem por ai?

A. Em 2017 vem o lançamento de um filme chamado “Travessia”, longa do diretor baiano, João Gabriel, contracenei com o Caio Castro, a Camilla Camargo e no elenco ainda tem Chico Dias, Cyria Coentro e outros atores baianos. Tem peças de Teatro que quero fazer, tenho outro longa para rodar, tem a Tv que aguardo respostas de testes que fiz, e no início do ano vou dar uma oficina de interpretação em parceria com a agência de modelos One Models. Sempre quis desempenhar esse papel de alguém que troca com o outro suas experiências e que aprende com o outro também, estou lendo um livro chamado “Manual do Artista Etc” do Ricardo Basbaum, nele ele provoca discussões em torno desse artista multi, que se reinventa, estou muito empolgado com as possibilidades que podemos ter nessa nossa profissão.