Opinião

Precisamos falar de crianças “viadas”

Genilson Coutinho,
22/04/2016 | 13h04

Por

Carlos Henrique 

As sexualidades – uso no plural reconhecendo as diversas expressões da sexualidade que sobrepõe à ideia reprodutiva, biológica e sexual – é um tema que desperta debates calorosos. É polêmico. Mais caloroso ainda e polêmico é quando se trata de crianças que, em uma perspectiva de gênero, bagunça e abala as estruturas (e que bom!) das concepções cristalizadas e biomédicas. Pretendo apenas levantar questões, tendo o cuidado de não ser simplista com algo notoriamente complexo. Refiro-me ao termo “viada” como uma ação política, para esvaziar a palavra e o conceito concebido como representações negativas, na tentativa de ressignificar o uso pejorativo do termo, como o faz os estudos/teoria queer.

É construído ou inato? Ou como a psicologia gosta de dizer: é da natureza humana?  Já havia discutido sobre o quanto as crianças sofrem pressão social e familiar por não se enquadrarem em uma norma que não reconhece outras formas de expressão de gênero e sexualidade a não ser a heterossexual. Com isso, quero fazer um convite a vocês, leitores, a tocar em um assunto que precisa ser discutido: não podemos negligenciar as crianças “viadas” negando a sua existência. São crianças que devem ganhar notoriedade, porque desde cedo já subvertem uma norma que regula corpos e comportamentos. Subvertem, ainda, um ideal de gênero esperado socialmente. Crianças que dizem não as classificações de gênero e brincam ignorando esse modelo de educação que põe gênero nos jogos, nas brincadeiras e nos contos infantis. São crianças que resistem as correções feitas pelos pais quando não atendem a esse ideal/expectativa de gênero. Mais importante que responder se é inato ou construído, é reconhecer que essas crianças causam um reboliço no campo das sexualidades. Não se trata, portanto, de discutir a sexualidade do ponto de vista do sexo, nem do ponto de vista biológico, quiçá se debruçar sobre os aspectos psicológicos da criança.

Temos que reconhecer que não é coisa de criança ou uma fase. Inclusive, a Psicologia já reconhece que, antes dos três anos de idade, as crianças começam a categorizar os objetos e manifestam preferências em função do gênero, escolhendo brinquedos, por exemplo, que a cultura considera apropriada a “categoria sexual” que pertence. E não é de se estranhar uma vez que os pais fazem essa categorização antes mesmo de nascer: menino ou menina? E começam a mobilização de alinhar vestuários, brinquedos etc. a um ideal estabelecido socialmente.

Portanto, fica a indagação: quantas crianças ‘viadas’ vocês continuarão a colocar no armário dos horrores? E com essas provocações deixo aberto sem a pretensão de proferir verdades e esgotar o assunto. Quero mais é que vocês se questionem sobre o que foi colocado. Que nunca esgote!

Fotos enviadas e autorizadas para publicação por leitores gays do blog de Iran Giusti.

Carlos H. P. Franco é graduando em Psicologia e Integrante do GT em Psicologia e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do CRP03 BA.