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Precisamos falar de crianças LGBTs no dia 12 de Outubro

Genilson Coutinho,
12/10/2016 | 17h10
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Edson Junior (Scarleth Sangalo, cover da cantora Ivete Sangalo) e sua prima Marília (Foto: Arquivo pessoal)

Por Carlos Franco 

Nem sabe o que é, mas já deduz que é errado. Tem de ser. Os adultos falam que é. Aprende por osmose, pouco a pouco, de ouvido. Em frases largadas como  por descuido, mas cheias de  tons que traduzem o desprezo. “Menina ganha boneca e joguinho de panelas”, “Menino joga bola e roda pião”, “Se menino gira bambolê, vira boiola. Não pode”, “Se menina puxa caminhão de lata, vira machão. Não pode”. Se insistir em teimar, fazer o contrário do que se impõe, é punido/a, para aprender o certo e a odiar o errado. Nem de longe se percebe uma criança LGBT.

É possível que, muitas pessoas LGBTs, se vejam enquanto atores dessa narrativa acima. São narrativas corriqueiras e que ganham corpo no dia 12 de Outubro. Afinal, as discussões relacionadas a gênero estão em evidência em vários segmentos da sociedade hoje: no mundo da moda, no mercado de trabalho, na política. E ganham relevância também quando o assunto são as crianças, os brinquedos e suas brincadeiras. O tema adquire aqui uma dimensão complexa e sensível. Rotular brinquedos ou brincadeiras para “meninos” ou “meninas” tem reflexos em diversos aspectos que vão da perpetuação de preconceitos, segregação ou, em casos mais graves, agressões físicas, simbólicas e psicológicas contra as crianças que subvertem essa norma.

Embora vista como “tradicional”, muito da segmentação por gênero em brinquedos é um fenômeno recente. Muitos especialistas e sites de educação infantil apontam que a sofisticação do mercado infantil se acentuou de fato nas últimas décadas, sendo pioneiros os Estados Unidos nos anos 80, mercado onde a disseminação da TV a cabo, com canais exclusivamente infantis, e a desregulamentação da publicidade para crianças, contribuiu para a proliferação de produtos segmentados. Não tenho pretensão de discorrer teoricamente sobre o tema, mas sim, chamar a atenção para uma questão que nasce no berço capitalista e se expande de forma vertiginosa, criando sérios problemas para crianças LGBTs.

São crianças que crescem, correndo no parquinho, arisco com seu novo brinquedo e ouvindo: “aquele menino tem jeito de bicha”, “essa menina só quer brincar com meninos”. “É menino, por que está usando vestido?”. “É menina, por que está usando bermuda?”.  Temos que começar a reconhecer que esses tons de desprezo, ódio, preconceito, entre outras… acabam silenciando, oprimindo e sucumbindo as crianças LGBTs de suas brincadeiras e brinquedos. Isso é desumano.

É sabido que se trata de um tema polêmico, mas não dá para fugir dos assuntos controversos, empurrar para debaixo do tapete e fingir que não existem. Mas que se preocupar com o que vai presentear, no anseio de não seguir essas padrões de gêneros, ao lidar com uma criança LGBT, é ama-lo/a mais ainda. Esse será o amor primordial que eles/as precisarão para lidar com o mundo.

Que esse dia 12 seja apenas de afetos, doces e muitas brincadeiras.

Carlos Franco
Carlos H. P. Franco é graduando em Psicologia e Integrante do GT em Psicologia e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do CRP03 BA.