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Portal de literatura lésbica procura novas escritoras

Genilson Coutinho,
25/07/2016 | 14h07

O conto narra a estória de duas mulheres que se descobrem apaixonadas mas não podem viver essa paixão. Narra o quão doce e difícil é amar outra mulher.

Amadoras, curiosas, iniciantes, todas são bem-vindas para postar seus textos no site . O projeto Lettera disponibiliza mais de 500 romances e fanfics gratuitamente.

Confira um capitulo de: Calor dos sentimentos 

Oi, prazer, eu sou Antônia e essa é a primeira vez que falo da minha intimidade pra alguém. Sou negra, tenho 1,68, corpo bacana, gosto de praticar atividade física, se pudesse destacar alguma parte acho que as coxas, não, a boca, minha boca chama bastante atenção.

Sempre fui tímida, desde menina. Sei lá eu me sentia diferente das outras meninas, deslocada mesmo, sabe? Quando pequena, gostava mais da companhia dos meninos, sempre achei-os mais simples, diretos, sem muitos dramas. O que me ajudava a viver sem surtar eram as pequenas paixões, que eu usava como fuga, como a atividade física, principalmente a corrida,e mais recentemente a fotografia.

Saí da casa dos meus pais cedo, quando fiz 18 anos, hoje tenho 21. Não porque não me dava bem com eles, ou com o meu irmão, mas porque sempre quis ter meu canto, minhas coisas, viver no meu mundo. Hoje eu moro em São Paulo e eles em Minas, mas sempre que posso vou visitá-los, os amo demais, assim como meu irmão.

Voltando as pequenas paixões, as paisagens sempre me encantaram muito. Gosto dos detalhes dos rostos e dos corpos também, e esses detalhes passaram a me encantar ainda mais depois que conheci alguém no curso de fotografia que decidi me meter.

Pensa em alguém apaixonante e encantador? Com os traços perfeitos para qualquer foto. Era essa a imagem que eu tinha bem ali, sentava na minha frente nos dias de curso.

Sei lá o que aquela moça fazia por lá… ela era tão diferente, tão sofisticada, clássica mesmo. Seu nome era Day.

Acho que ela também era tímida como eu. Não conversava com ninguém durante as aulas.

Eu sou bem metódica, sabe? Por exemplo, sempre cheguei cedo no curso, sou muito pontual. Pelo visto a Day também, porque sempre estava lá antes do início das aulas.

O problema era que nem “oi” ela falava. Eu buscava um contato visual, mas era impossível. Ela ficava lá no mundo dela, com aqueles enormes fones de ouvido (como eu queria saber o que ela ouvia), e o que desenhava (sim, além de linda, ela ainda desenhava, e pelo que pude espiar, muito bem por sinal).

Eu nunca havia me encantado com ninguém como me encantei com a Day. Já fiquei com muitos garotos (sim, só garotos), cheguei a namorar por um tempo até, mas sabe quando falta aquilo? Pois bem, eles não tinham aquilo… e a Day, que eu mal tinha ouvido a voz, tinha aquilo de sobra.

Péra… Oi? Deixa eu entender…. Antônia, você viveu 21 anos da sua vida com rolinhos sem calor e intensidade, pra de repente se apaixonar por uma garota que você nem conhece? Vai ser exótica assim lá na… deixa quieto.

Passei duas semanas pensando em como me aproximar dela, o máximo que consegui foi um “Oi, tudo bem?”, dado por mim, e que ela respondeu com um aceno de cabeça e um sorrisinho murcho (ah se ela soubesse que eu daria qualquer coisa por um sorriso escancarado dela).

Até que surgiu uma oportunidade, disfarçada de trabalho em dupla. Sempre detestei trabalhos em grupo, por mim faria todos eles sozinha. Não importa o trabalho que fosse dar, sou daquelas que acha que trabalho bom é trabalho feito por mim e pronto. Mas esse me deixou feliz, era a minha grande chance.

Assim que o professor permitiu que escolhêssemos as duplas, cutuquei a Day e perguntei se ela queria ser minha, e ela meio que teve que aceitar, rs… (ela não falava com ninguém e eu praticamente me joguei em cima dela).

Cara, eu fiquei tão feliz! Mas a minha felicidade durou pouco. Quando ela virou pra trás pra responder ao meu pedido, pude ver uma baita aliança de compromisso, numa bela mão delicada.

Sim, além das chances daquela mulher deslumbrante olhar pra mim, outra mulher (bem sem graça segundo meus critérios e totalmente inexperiente nesse tipo de relacionamento), serem bem pequenas, descobri que ela ainda era comprometida.

É lógico que ela era comprometida, né Antonia? Onde você estava com a cabeça? Ela é linda. Deveria ter milhares de caras dando em cima dela o tempo todo. Até parece que logo você teria uma chance… é cada uma viu!?

Enfim, aliança de compromisso a parte, combinamos de ficar um pouco depois da aula para combinar os detalhes do trabalho. A tarefa era registrar sobre diferentes ângulos e em diferentes situações o “Calor das Relações”.