Portadores do HIV temem fechamento de farmácia em Salvador

Redação,
15/02/2019 | 00h02

Os portadores do HIV que retiram o medicamento na farmácia ambulatorial do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) estão aflitos com o anúncio do fechamento da unidade pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

Atualmente, cerca de 1.100 pacientes soropositivos retiram os medicamentos antirretrovirais no local, que atende pacientes da capital e do interior do estado.

Em Salvador, existem quatro pontos de distribuição das medicações, onde o paciente precisa comparecer todos os meses. O número é bem menor que em São Paulo, por exemplo, onde os pacientes dispões de mais de 50 pontos de distribuição com capacidade de coletar medicação para mais de 60 dias.

O paciente HPR, 57 anos, portador do HIV desde 1995, informou que, no último dia 12 de fevereiro, foi ao Hospital Couto Maia, um dos pontos de distribuição, mas os atendentes não souberam informar sobre a transferência de pacientes de outras unidades. A tentativa foi feita também no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap).

“Ninguém sabia que iríamos para lá e só tenho medicação até 19 de março. Em contato com Cedap, fui informado que não estão aceitando pacientes novos”, afirmou.

A mesma preocupação é compartilhada por ACL, de 26 anos. Portador do HIV há um ano, ele é um dos pacientes que adquirem a medicação mensalmente na farmácia do HGRS.

“O problema é nos colocar em um local que seja difícil para chegar, já que escolhemos lá justamente por ter acesso fácil em relação ao local onde moro”, disse.

Em nota, a Sesab confirmou o fechamento da unidade e a transferência dos pacientes para outros locais de distribuição. O órgão não informou se há previsão de abertura de novas farmácias para este tipo de atendimento.

Em relação ao atendimento especializado em Infectologia, que funciona no HGRS, a Secretaria informou que também será suspenso.

“Os leitos de infectologia que existiam no HGRS foram vocacionados para outra especialidade, a hematologia, que até então carecia de expansão. No que tange ao serviço de infectologia e HIV/Aids do HGRS, que inclui a enfermaria de infectologia e o ambulatório de HIV/Aids, estes serão absorvidos pelo Instituto Couto Maia”, diz a nota.

Nos últimos dez anos, de acordo com a Sesab, foram notificados 12.912 casos da infecção pelo HIV na Bahia. Dados preliminares apontam que, em 2018, foram diagnosticados 2.322 novos casos de HIV no estado.

Pacientes do interior

Para fugir do preconceito e da discriminação, os portadores do HIV que moram no interior do estado têm buscado a medicação na capital. Eles alegam que a privacidade é o principal motivo do deslocamento para coletar a medicação em Salvador.

Ainda de acordo com a nota enviada pela Sesab, os pacientes do interior que optarem por continuar retirando a medicação em Salvador terão essa possibilidade.

Tratamento

Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os medicamentos antirretrovirais a todas as pessoas vivendo com HIV que necessitam de tratamento. Atualmente, existem diversos medicamentos, cada um disponível a um tipo de paciente.

Após receber o diagnóstico da infecção por HIV, o paciente deve marcar ou ser encaminhado para uma consulta com um especialista na área. Aderir ao tratamento para a Aids, significa tomar os remédios prescritos pelo médico nos horários corretos, manter uma boa alimentação, praticar exercícios físicos, comparecer ao serviço de saúde nos dias previstos, entre outros cuidados.

Quando o paciente não segue todas as recomendações médicas, o HIV, vírus causador da doença, pode ficar resistente aos medicamentos antirretrovirais. E isso diminui as alternativas de tratamento.

Diferença entre HIV e Aids

Conviver com o vírus HIV é diferente de viver com AIDS. O HIV, sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças.

As mais atingidas são as células brancas de defesa, os leucócitos. O vírus se insere dentro do DNA destas células e faz milhões de cópias de si mesmo, rompendo a célula em busca de outras para continuar a infecção.

Já a AIDS (da sigla em inglês, síndrome da imunodeficiência adquirida) é o estágio mais avançado desta infecção, porque o vírus, ao destruir as células de defesa, deixa o organismo mais vulnerável a diversas doenças.

Confira a nota da Sesab na íntegra:

A Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) informa que nenhum paciente que hoje recebe medicamento para tratamento de HIV/Aids na farmácia ambulatorial do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) deixará de ter assistência. A Sesab está trabalhando para transferir os cerca de 1100 pacientes para outras unidades de atendimento como Instituto Couto Maia, em Cajazeiras, e Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap), no Garcia. Além desses pontos de dispensação existem outros dois municipais em Salvador. As medicações continuarão a ser dispensadas na farmácia do HGRS até que todos os pacientes sejam orientados e transferidos para outras unidades. Os pacientes do interior que optarem por continuar retirando a medicação em Salvador terão essa possibilidade.

Os leitos de infectologia que existiam no HGRS foram vocacionados para outra especialidade, a hematologia, que até então carecia de expansão. No que tange ao serviço de infectologia e HIV/Aids do HGRS, que inclui a enfermaria de infectologia e o ambulatório de HIV/Aids, estes serão absorvidos pelo Instituto Couto Maia, que é o maior e mais moderno hospital especializado em doenças infecto-contagiosas do Brasil.

Na Bahia, no período de 2008 a 2018 foram notificados 12.912 casos da infecção pelo vírus do HIV. Em 2018, dados preliminares, foram diagnosticados 2.322 novos casos de HIV.