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PMs são presos suspeitos de mentir sobre morte de travesti em SP

Genilson Coutinho,
24/06/2015 | 09h06
A travesti Laura Vermont postou esta última foto no Facebook na sexta-feira (19) (Foto: Reprodução/Facebook/Laura Vermont)

A travesti Laura Vermont postou esta última foto no Facebook na sexta-feira (19)
(Foto: Reprodução/Facebook/Laura Vermont)

Dois policiais militares foram presos por suspeita de mentir sobre as circunstâncias da morte de uma travesti de 18 anos na madrugada deste sábado (21), na Zona Leste de São Paulo. Os dois vão responder por fraude processual e falso testemunho. A Polícia Civil investiga se eles têm alguma relação com a morte da travesti.

O sargento Ailton de Jesus, de 43 anos, e o soldado Diego Clemente Mendes, de 22, foram presos em flagrante por causa de seus depoimentos sobre a morte de David Laurentino Araújo, de 18 anos, que usava o nome social de Laura Vermont. Eles omitiram o fato de um deles ter atirado no braço da vítima durante uma abordagem policial.

As informações acima foram confirmadas nesta terça-feira (23) ao G1 pelo delegado José Manoel Lopes, do 32º Distrito Policial, que instaurou inquérito para apurar as causas e circunstâncias da morte da travesti Laura.

De acordo com a investigação da Polícia Civil, o corpo de Laura apresentava lesões após ela ter brigado com outra travesti. Mas também tinha um ferimento à bala no braço esquerdo após supostamente ter roubado um carro da PM. Em seguida, teria batido o veículo no muro.

Segundo o delegado, Ailton e Diego foram presos não porque são suspeitos de matar a travesti, mas devido ao fato de terem mentido quando prestaram a ocorrência e deram seus depoimentos no 63º DP, Vila Jacuí, onde o caso foi registrado inicialmente como homicídio culposo, no qual não há intenção de se matar.

PMs presos

Os dois policiais foram levados ao Presídio da Polícia Militar (PM) Romão Gomes, na Zona Norte da capital. O G1 não conseguiu localizar os advogados deles para comentar o assunto.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “a conduta dos PMs está sob investigação da Corregedoria da corporação”.

“Foi instaurado um inquérito para apurar morte suspeita a esclarecer. Os PMs se furtaram da verdade num primeiro momento”, disse o delegado sobre o fato de eles omitirem que um dos policiais militares atirou na travesti após ela, segundo os agentes, ter roubado o carro da Polícia Militar quando a separavam de uma briga com outra travesti.

De acordo com o delegado, os dois PMs também são investigados como suspeitos da morte de Laura. “É uma das linhas de investigação: se Laura morreu em decorrência do disparo de arma de fogo é um homicídio. Se foi o corte na cabeça em decorrência da colisão da viatura com o muro é uma outra situação”, completou o responsável pelo 32º DP, onde o caso é investigado.

A Polícia Civil aguarda os resultados dos laudos necroscópicos e toxicológicos, que estão sendo feitos pelos Instituto Médico Legal (IML), para saber as causas da morte de Laura. “Ainda não há certeza de como ela morreu e precisamos desses exames para saber disso e depois se poderemos responsabilizar alguém”, disse Lopes.

Caso seja confirmada a participação dos dois policiais na morte de Laura, eles poderão responder pelo crime de homicídio, segundo o delegado.

Primeira versão

Ainda de acordo com o delegado, primeiramente, os policiais militares haviam ido ao 63º DP, onde disseram que tinham ido atender uma ocorrência de briga entre travestis, por volta das 5h40, na Avenida Nordestina, na Vila Curuçá.

Em seguida, Lopes contou que os policiais militares disseram que viram na rua uma travesti ferida após ter sido esfaqueada por outra. Na versão deles, tentaram conter Laura, que entrou no carro da PM e saiu dirigindo o veículo. Um dos PMs contou que ainda tentou impedir, mas foi arrastado pelo carro, que bateu num muro em seguida.

Ainda de acordo com o delegado, os policiais militares narraram que Laura saiu do automóvel da PM e foi atropelada por um outro veículo, possivelmente um ônibus. E ao se levantar, saiu correndo mais uma vez e bateu a cabeça num poste.

Depois, os policiais militares alegaram que levaram a travesti para um hospital da região, segundo Lopes.

Os PMs ainda levaram uma testemunha que teria visto o que o ocorreu para corroborar com a versão que deram no 63º DP. Uma delegada que estava no plantão, no entanto, desconfiou do rapaz que falava de forma decorada e depois descobriu que ele havia lido um bilhete escrito por um dos policiais com o que deveria falar. “Esse papel foi apreendido”, disse Lopes.

Segunda versão

Posteriormente, segundo Lopes, investigadores da Polícia Civil foram ao local onde ocorreu o suposto acidente e atropelamento de Laura. No local, tiveram acesso a câmeras de segurança que teriam mostrado os PMs agredindo a travesti após ela ter roubado o carro da corporação e batido num muro.

Indagados novamente pela delegada do 63º DP, os PMs então disseram que tinham mentido porque estariam com medo de ser punidos, de acordo com o delegado. Contaram que, na verdade, após chegarem ao local onde as travestis tinham brigado, Laura roubou o carro, e um dos policiais atirou, acertando o braço da travesti. Depois, ela bateu o carro no muro e foi socorrida. Parentes da vítima a teriam levado ao hospital.

Depois disso, a delegada deu voz de prisão aos dois PMs, de acordo com Lopes. A equipe de reportagem não encontrou os familiares de Laura para comentar o caso.

*Do G1