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Pesquisa: 38% das empresas têm restrições para contratar pessoas LGBT

Genilson Coutinho,
06/07/2020 | 12h07
Gabriel Colombo relata que a empresa para a qual trabalha promove a contratação de pessoas LGBTQI+ — Foto: Gabriel Colombo/arquivo pessoal

G1

Uma pesquisa realizada com pessoas e representantes de recursos humanos de São Paulo, Paraná e outros 12 estados mostra que 38% das empresas têm restrições para contratar lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queers e intersexuais (LGBTQI+).

reconceito que impede muitos profissionais de alcançarem uma oportunidade de emprego, como conta a executiva Eduarda Sanches, de 35 anos.

Mesmo com a graduação e experiência necessárias, após obter nome social nos documentos e se assumir como mulher transexual, ela passou cinco anos tentando se recolocar no mercado de trabalho.

Eduarda comenta que depois de muitas negativas, conseguiu uma oportunidade. Ela foi promovida nos primeiros seis meses.

“Infelizmente, eu faço parte de uma estatística privilegiada. É difícil encontrar pessoas trans trabalhando nas empresas. É de grande responsabilidade mostrar que elas podem fazer o mesmo trabalho que qualquer outra pessoa”, destaca.

De acordo com o projeto “Demitindo Preconceitos”, menos da metade (47%) dos trabalhadores LGBTQI+ relatam a orientação sexual no ambiente profissional.

A pesquisa foi realizada pela empresa de consultoria de engajamento Santo Caos, em 2019, e entrevistou 230 pessoas.

A advogada Ananda Puchta, da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da Seccional Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), comenta que em muitos casos, o ambiente profissional não permite que o empregado se sinta confortável.

Ananda ressalta que os fatores são subjetivos, mas que são direcionados pela abordagem da empresa.

Contratação e preconceito
Gestores de recursos humanos entrevistados pela pesquisa relataram que sentem resistência nos departamentos e empresas ao apresentarem candidatos LGBTQI+.

Gabriel Colombo, diretor de aquisição da startup Pontomais, relembra que chegou a ser dispensado de uma oportunidade internacional de trabalho após informar o nome do marido ao preencher os documentos do processo seletivo em que já havia sido aprovado.

Atualmente, Gabriel acompanha a contratação de novos funcionários da empresa em que trabalha. Ele destaca que, quando entrou na equipe, contava com somente outros dois colegas LGBTQI+.

Após dois anos, o quadro de funcionários passou a ter 14% de representatividade da sigla. Na diretoria, gays e lésbicas passaram a representar 30% dos profissionais.

Promover a diversidade no quadro de funcionários reflete em benefícios no desempenho da empresa, segundo o diretor.

Ele conta que a preocupação com a diversidade ajudou na expansão da startup.

Assim como 13% dos entrevistados da pesquisa, que relataram dificuldades para conseguir emprego por serem LGBTQI+, Eduarda Sanches comenta que é fundamental que essa parcela da população encontre oportunidades.

“É muito gratificante mostrar para as pessoas que mulheres trans, gays, lésbicas e pessoas com deficiência podem conquistar espaço no mercado de trabalho, superar expectativas e contribuir com a empresa”, diz.

Cultura de diversidade

Para a advogada Ananda Puchta, é necessário buscar a inclusão e o diálogo em todos os aspectos do ambiente de trabalho.

“Diversidade não só no sentido de colocar essas pessoas nos espaços, mas também para que essas pessoas tenham uma carreira frutífera. A criação de grupos de afinidade, onde as pessoas que já estão na empresa consigam conversar sobre isso, trazer para a empresa outras formas de visão de trabalho”, diz.

Garantia de direitos

A Constituição Federal e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) impedem qualquer tipo de discriminação por identidade de gênero ou orientação sexual. Além disso, em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela criminalização da homofobia e da transfobia.

A decisão enquadra atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais no crime de racismo, com pena prevista de um a três anos, podendo chegar a cinco anos em casos mais graves.

Em caso de assédio ou situação de preconceito, o trabalhador pode registrar Boletim de Ocorrência (B.O.) em uma delegacia. A advogada comenta que a denúncia pode ser movida contra a empresa ou contra a pessoa que cometeu o crime contra o profissional LGBTQI+.

Ainda segundo a advogada, o ideal é que as empresas se posicionem contra a LGBTQIfobia e mantenham um canal seguro para denúncias.

Dados oficiais e os trabalhadores LGBTQI+
O Conselho Nacional de Combate à Discriminação, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos reconheceu que há carência de dados a respeito da população LGBTQI+ e o mercado de trabalho.

Após solicitação do G1, o ministério informou que não possui informação sobre a quantidade de trabalhadores que se enquadram na sigla.

A falta da inclusão dos campos “identidade de gênero” e “orientação sexual” entre as pesquisas oficias reflete dificuldades no desenvolvimento de iniciativas de incentivo.

O ministério apontou que, após a identificação da necessidade de levantamentos, há um projeto piloto em andamento para tratar da empregabilidade da população LGBTQI+.

O Conselho também informou que há uma pesquisa sendo desenvolvida com universidades sobre dados da população trans no Brasil. O estudo também deve buscar informações sobre empregabilidade.

Estratégias de empregabilidade

No Paraná, a Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho (Sejuf) informou que o Comitê de Acompanhamento da Política de Promoção e Defesa dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Estado do Paraná atua em estratégias de empregabilidade para LGBTs.

Há um trabalho com foco em pessoas travestis e transexuais, da entidade Transgrupo Marcela Prado.

A secretaria destacou que a comissão está em contato com o Ministério Público do Trabalho e com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) para disponibilização de cursos de capacitação em diferentes áreas.

Com isso, de acordo com a Sejuf-PR, “o diálogo vem se estabelecendo com empresas parceiras para que empreguem pessoas LGBT e forneçam a elas capacitação adequada às necessidades da mesma”.