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Pastor que ora pela morte de Paulo Gustavo será processado por homofobia

Genilson Coutinho,
19/04/2021 | 12h04
Paulo Gustavo, com o marido Thales Bretas e os dois filhos. 
Arquivo Pessoal/Instagram[/fotorafo]

Dezenas de entidades LGBTQIA + e outros grupos defensores de direitos humanos anunciaram, neste sábado (17), que vão processar na Justiça o pastor José Olímpio, da Assembleia de Deus de Alagoas, que declarou orar pela morte do ator Paulo Gustavo, internado há um mês com covid-19, em estado grave.

“Esse é o ator Paulo Gustavo que alguns estão pedindo oração e reza. E você vai orar ou rezar? Eu oro para que o dono dele o leve para junto de si”, publicou o pastor em suas redes sociais nesta semana.  Após a repercussão negativa do comentário, José Olímpio apagou a publicação.

O artista, de 42 anos, é casado com o médico Thales Bretas, com quem tem dois bebês.

“É urgente que crimes como estes, motivados por homofobia, sejam enquadrados da tipificação da LGBTfobia , na lei de combate ao racismo de n. 7.716/2018, e que punições mais rigorosas e severas sejam tomadas  contra condutas homofóbicas e atos discriminatórios como o em questão”, diz a nota (veja a íntegra abaixo) assinada pelas principais entidades de defesa dos direitos de LGBTs do país ao anunciar que medidas judiciais serão tomadas contra o pastor.

Uma das signatárias do documento, a Aliança LGBT+ afirma que a declaração do pastor não é caso isolado, atinge cotidianamente gays, lésbicas e trans. “Vivemos tempos sombrios. Esta afirmativa foi dita por nós inúmeras vezes nos últimos meses. O mundo enfrenta uma gravíssima pandemia que segue ceifando milhões de vidas pelo globo, o país em que vivemos segue sendo epicentro da pandemia do novo coronavírus”, diz o movimento em nota própria (veja a íntegra mais abaixo)

“A pandemia que ainda segue em curso transformou o caráter de alguns e revelou o verdadeiro caráter de outros, fazendo com que pudéssemos separar o joio do trigo e sem nenhuma sombra de dúvidas fossemos capazes de compreender melhor o outro”, diz o texto assinado pelo ativista Toni Reis, líder da Aliança LGBT+. O texto de repúdio ao pastor também tem apoio de lideranças evangélicas.

Internado na UTI desde o começo de março, Paulo Gustavo enfrenta complicações da covid-19, está intubado e com pulmão artificial. Seu estado de saúde é considerado crítico. Nas redes sociais, Thales publica atualizações sobre o quadro clínico do companheiro.

A internação de Paulo Gustavo causou comoção entre fãs e artistas, que têm organizado correntes de oração pelo restabelecimento da saúde do ator, conhecido pelos papéis humorísticos, com sucessos tanto no teatro, na TV e no cinema.

O Congresso em Foco não conseguiu localizar o pastor José Olímpio para se manifestar sobre o comentário que fez sobre o ator. O espaço está aberto caso ele queira se manifestar.

“Queremos vida, felicidade e muita cidadania, direitos humanos. Ninguém merece a morte”, disse ao Congresso em Foco o presidente da Aliança LGBTI+, Toni Reis, colunista deste site.

A Aliança enviou ofício ao procurador-geral de Justiça de Alagoas, Márcio Roberto Tenório de Albuquerque, que abra investigação contra o pastor.

Veja a nota assinada por dezenas de entidades e defensores de direitos humanos:

“CARTA DE REPÚDIO E REVOLTA AS AGRESSÕES PROFERIDAS PELO LÍDER RELIGIOSO DA ASSEMBLEIA DE DEUS EM ALAGOAS – PR. JOSÉ OLÍMPIO

Instituições LGBTQIA + e outras defensoras de direitos humanos de todo o país,  vem a público manifestar seu repúdio as  agressões motivada por homofobia, escarrada pelo líder religioso da Assembleia de Deus em Alagoas – pastor José Olímpio, na última quinta-feira, 15/04 , na página oficial do Instagram do pastor.

O ato criminoso de violência, praticado por este líder religioso, contra o ator Paulo Gustavo, que se encontra internado em virtude de problemas de saúde causadas pelo COVID-19, problema sério de saúde pública e sanitária mundial, fere severamente não só Paulo, mas todas as vítimas da doença, a comunidade LGBTQIA+, classe artística e a todos os cidadãos de bem que tenham bom senso e sintam empatia por seu próximo.

A intolerância e o conservadorismo, observados não apenas em crimes de ódio como este, mas também em discursos e práticas preconceituosas, presentes em diversas instâncias do cotidiano brasileiro atual, causam sérios problemas à ordem pública democrática deste país e entristece-nos saber que este não é um caso isolado, mas apenas um dos tantos casos de crimes motivados por LGBTfobia no Brasil, como foi o atentado de 15 de abril de 2021, a honra de Paulo Gustavo e todos os cidadãos decentes e de caráter libido deste país.

É urgente que crimes como estes, motivados por homofobia, sejam enquadrados da tipificação da LGBTfobia , na lei de combate ao racismo de n. 7.716/2018, e que punições mais rigorosas e severas sejam tomadas  contra condutas homofóbicas e atos discriminatórios como o em questão.

Fora o tratamento jurídico específico para tais crimes, reconhecendo sua  especificidade, compreendemos ainda que apenas através da educação é que poderemos construir um país mais tolerante à diversidade sexual,  de gênero, religiosa, política, étnica, social e cultural, tambem de pensamento político e religioso mas não de intolerância criminosa e libertinagem.

Por fim, manifestamos nosso apoio e solidariedade ao ator Paulo Gustavo e a todos que se sentiram feridos e magoados com a fala criminosa do pastor, ao mesmo tempo comunicamos oficialmente que medidas judiciais serão tomadas contra o pastor José Olímpio – líder religioso da Assembleia de Deus em Alagoas, ao mesmo tempo também nos solidariezamos com todos os religiosos que se sentiram agredidos e triste por este ato criminoso e intolerante.

Maceió, 17 de abril de 2021.

Assinam esta carta:

GGAL- Nildo Correia ,; CAERR – Kamila Emanuele ; Givanildo Lima – ARTGAY/AL, Aliança Nacional LGBT – Toni Reis ; Rede Gay Brasil – Fábio de Jesus ;
GGM –  Messias Mendonça ; INCVF/AL – Rosaly Damião) – INCVF ; Movimento dos Povos das Lagoas – Isadora Padilha ;  Ticiane Simões – Ateliê Ambrosina ;  CAVIDA – Wilza Rosa ; Marcelo Nascimento –  Fundador do Movimento LGBTQIA+ em Alagoas ; Associação Cultural Joana Cajuru – Waneska Pimentel, Annabella Andrade – Coletivo ” O Direito Achado na Rua”, REBRACA – Indianarae Siqueira, GGB – Marcelo Cerqueira, Quibamda Dudu – Otávio Reis, Associação As Musa de Castro Alves do Recôncavo – ASMUSADECAR – Gilvan Dias Medeiros ; Movimento Nacional da População em Situação de Rua de Alagoas MNPR/AL e Fórum Nacional dos Usuários do Sistema Único de Assistência Social de Alagoas FEUSUAS/AL – Rafael Machado ; GLAD Delmiro – Anna Moura ;  Luiz Mott – Fundador do Movimento LGBTQI+ na Bahia ; Coletivo LGBTIA+ Flutua (UFAL) –  Fernando I. Rodrigues de Farias; Associação LGBTQI+ e Candomblé GRUPO IGUAIS DE CORURIPE – Sophia Braz ; Arco Íris LGBT de Paripueira – Darlan Kadosh ; Instituto Feminista Jarede Viana – Ana Pereira ; Núcleo de Estudo e Pesquisa das Expressões Dramáticas ; Cia Cultural Vixe Maria ; PesComPasso Artes Cênicas ; Paty Maionese Produções e Eventos – Paty Maionese ; Coletivo Popfuzz – Nina Magalhães ; Cia Orquídeas de Fogo ; AMIREBO – Lafon Pires”

Veja a íntegra da nota da Aliança LGBT+:

“NOTA OFICIAL DA ALIANÇA NACIONAL LGBTI+

DE REPÚDIO AO PASTOR JOSÉ OLÍMPIO

A Aliança Nacional LGBTI+ vem a público manifestar seu mais profundo repudio acerca da declaração do Pastor José Olímpio, considerado hoje como braço direito do Presidente da Assembleia de Deus em Alagoas, no tocante ao estado de saúde do ator Paulo Gustavo, que está internado há mais de 30 dias por complicações da Covid-19.

Vivemos tempos sombrios. Esta afirmativa foi dita por nós inúmeras vezes nos últimos meses. O mundo enfrenta uma gravíssima pandemia que segue ceifando milhões de vidas pelo globo, o país em que vivemos segue sendo epicentro da pandemia do novo Coronavírus.

Quando acreditamos que mesmo em meio ao caos instalado, não haveria a chance de nos depararmos com declarações absurdas, nos deparamos com os seguintes dizeres proferidos pelo já citado Pastor:

“Esse é o ator Paulo Gustavo que alguns estão pedindo oração e reza. E você vai orar ou rezar? Eu oro para que o dono dele o leve para junto de si” diz o religioso.

A pandemia que ainda segue em curso transformou o caráter de alguns e revelou o verdadeiro caráter de outros, fazendo com que pudéssemos separar o joio do trigo e sem nenhuma sombra de dúvidas fossemos capazes de compreender melhor o outro. Porém, neste caminhar tênue, assim como dito, alguns se revelaram legítimas ervas daninhas, capazes de espalhar-se apenas com a finalidade de interferir negativamente em uma plantação.

Não há espaços na sociedade para tolerância com discursos preconceituosos, desrespeitosos e desonestos, que precisam ser rejeitados. Líderes religiosos são representantes de suas entidades e exemplos para os fiéis, por isso não devem jamais propagar o ódio e naturalizar a intolerância à diversidade de famílias, identidades de gênero e orientações sexuais.

‘O sonho da igualdade só cresce no terreno de respeito pelas diferenças.’
Augusto Cury

Não obstante, alinhados com o repúdio manifestado pela Aliança Nacional LGBTI+, lideranças e outras entidades representativas manifestaram seu posicionamento, que encaminhados a nós, reproduzimos abaixo:

Para: Giana Karla Oliveira Teixeira (Pedagoga, Religiosa Praticante, Colaboradora da Área de Evangélic@s da Aliança Nacional LGBTI+):

Diante de acontecimento tão arcaico, a comissão de Pedagogos da Secretaria de Desenvolvimento Social do Município de Patos na Paraíba, se solidariza com toda comunidade LGBTI e repudia veemente toda e qualquer conduta de ódio a qualquer pessoa, inclusive homofobia. Os discursos de ódio proferidos por líderes religiosos contra qualquer ser humano em razão de sua condição sexual, nos impelem a cobrar da justiça punições imediatas para tal crime contra a humanidade.

Para: Vagner Veras (Pedagogo da Secretaria de Desenvolvimento Social – Patos/PB):

É lamentável a postura crítica de alguns que se dizem “representantes de Cristo” que disseminam discurso de ódio e preconceito contra as minorias, fazendo o caminho inverso dos ensinamentos cristãos.

Para: Madalena Kelly Brandão Cordeiro (Professora, Evangélica da Primeira Igreja Batista ):

Esse pastor não me representa e não sabe o que é o Amor de Deus!
Eu como evangélica posso garantir que ele não sabe o que é o Amor. Este pastor não me representa como evangélica!
Em meio a tantas perdas, e tantas vidas ceifadas por uma doença fatal, podemos lembrar que não temos motivos para nenhum bastardo julgamento, e seguindo ao princípio Cristão e sendo fidedignos à Bíblia Sagrada, podemos compreender que seja conforme Mateus, Capítulo 7, Versículos 1 ao 2: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.”
I João, Capítulo 4, Versículo 20: ” Se alguém declarar: “Eu amo a Deus!”, porém odiar a seu irmão, é mentiroso, porquanto quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não enxerga.”

Neste passo, manifestamos toda nossa Solidariedade a Thales Bretas, esposo do ator Paulo Gustavo, desejando forças para enfrentar este momento grave. Desejamos também saúde, e força para que o quão breve possível Paulo Gustavo esteja alegre como sempre junto aos que ama.

Continuaremos nas orações e rezas para que sua melhora seja a mais plena e rápida possível.

A Igreja é chamada a ser instrumento de paz e de reconciliação
“Ad intra et Ad extra”.

Curitiba,16 de abril de 2021

Toni Reis
Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+

Gregory Rodrigues Roque de Souza
Coordenador Nacional de Comunicação da Aliança Nacional LGBTI+
Coordenador Titular da Aliança Nacional LGBTI+ em Minas Gerais

Robson Lourenço da Silva
Coordenador Adjunto Nacional de Comunicação da Aliança Nacional LGBTI+
Coordenador Adjunto Aliança Nacional LGBTI+ em Pernambuco

Giana Karla Oliveira Teixeira
Pedagoga, Religiosa
Colaboradora da Área de Evangelic@s da Aliança Nacional LGBTI+

Hugo Raffael Andrade
Coordenador Adjunto Nacional de Interiorização e Integração da Aliança Nacional LGTBTI+
Coordenador Adjunto Estadual da Aliança Nacional LGBTI+ na Paraíba

Messias da Silva Mendonça
Coordenador da Aliança Nacional LGBTI+ em Alagoas”

Do Congresso em Foco