Notícias

Parada Gay da Bahia pede fim da violência contra mulheres transexuais e realiza caminhada contra transfobia

Genilson Coutinho,
21/03/2016 | 23h03

Bruna Menezes sofreu uma de tentativa de homicídio na última segunda-feira (14)

Por Marcelo Cerqueira

“Viver sem violência é um direito das mulheres transexuais e de todo gênero feminino”

Este é o tema da 15ª Parada LGBT da Bahia, que acontece no dia 11 de setembro, a partir das 15h, no centro de Salvador. O novo tema substitui o “Cyber cidadania”, que tinha como objetivos debater o papel da internet e dos ativistas digitais na comunicação em rede, a imprensa tradicional e o contraponto dos ativistas digitais na produção de conteúdo voltado às identidades. A mudança do tema deu-se pelos últimos acontecimentos violentos que ocorreram na capital baiana, envolvendo mulheres transexuais, ao exemplo do que ocorreu com a trans Bruna Menezes, 25 anos, cabeleireira, no dia 13 de março no bairro de Pernambués. Bruna sai de sua casa acompanhada de sua mãe e companheiro, com destino a uma pizzaria no mesmo bairro, quando, no caminho os três foram abordados por dois homens, um, vulgo “chaparral”, que portava arma de fogo, e o outro, um porrete da madeira. Bruna foi alvejada por diversas cacetadas nos braços e nas pernas, sendo que o motivo era acertar na cabeça, que ela defendia com o braço. No ato da violência, segundo Bruna, eles diziam “Bate pra matar, bate pra matar”, do nada, “Chaparrau” saca uma arma de fogo e dispara dois tiros, um deles alveja o marido da trans, que até a data de hoje permanece internado recebendo cuidados médicos sem data de ser liberado. A bala atravessou a virilha e se alojou na coxa do rapaz. Bruna Menezes merece viver e amar como qualquer mulher. Mas, ela por ser trans, não é seguro circular com o seu marido, assim, como qualquer casal. Existe muita má vontade da população em relação aceitar a diversidade de orientações sexuais. É preciso que todos atuem pela eliminação da violência contra as mulheres transexuais. Entretanto, o indivíduo deve permitir-se aprender sobre esse universo feminino fabuloso. O GGB parte do ponto de vista que mulher é uma condição social e isso não depende, excepcionalmente, do sexo biológico. A nossa proposta como tema central é jogar luzes sobre essas feminilidades existentes, incentivando-as para serem as senhoras de seus próprios destinos. Mulheres Transexuais e Travestis ainda sofrem do preconceito com base no gênero, o que chamamos de transfobia. Mulheres Transexuais e Travestis são confundidas com gays, homossexuais e etc. Entretanto, não são em tese, mas pode ser que algumas dessas pessoas tenham orientações heterossexual, bissexual ou homossexual. Mulheres trans não geram filhos, mas muitas mulheres cisgênero também não, entretanto ambas podem e devem exercer a maternidade por outros meios. As mulheres trans são exploradas e subordinadas aos papéis de gênero femininos por seus companheiros, sofrem violência física e mental. Em qualquer lugar que um indivíduo do gênero feminino sofra algum tipo de opressão, é preciso ajudar superar essas opressões. Para isso é preciso dialogar com as outras mulheres para superar esses obstáculos causados por um gênero que oprime o masculino, a outro que sucumbe, o feminino.

Os papéis de gênero não são hoje tão rígidos como antigamente, o mundo contemporâneo, individualista, permitiu a liberdade de existir várias maneiras de ser mulher. Antes era cristal hoje é fumaça, e, tudo flutua e existem muitas maneiras de feminino e de reformular o corpo, hoje o gênero fluido se apresenta como uma revolução aos papéis, porque o individuo pode ser o que quiser, onde quiser e de sua maneira, exclusiva. Conviver com essas mudanças requer um exercício de entender o outro nas suas necessidades, estas que, são pilares de sua cidadania, reforço para lidar com uma sociedade ainda com resquícios de conservadorismo. É dever do estado, dos órgãos e, da sociedade civil combater todas as formas de preconceitos, homofobia, lesbofobia e transfobia, isso significa criação de climas favoráveis para o fortalecimento da democracia. Propomos! Mas é preciso que você entenda. No mundo de hoje não tem mais sentido o indivíduo possuir uma identidade predominantemente essencialista, não é possível considerar apenas um real e os demais como ilusão, ou imitação de algo que supostamente seria real. Vivemos em um mundo de culturalidade, tudo é cultura transformação e jogo de poder político, variando para cada momento histórico. Em certos momentos da história da humanidade esses aspectos foram mais interessantes, usados para manter um sistema político, mas hoje em dia esse ser, é, aquele que era real, ”essenciais”, cederam lugar para o que chamamos na pós-modernidade de gêneros flutuantes. Os órgãos públicos, as entidades feministas, entidades da sociedade civil, pessoas em geral, os órgãos de comunicação, educação e as famílias devem entender que não existe um padrão único de feminilidade ou de masculinidade e isso é uma característica desse mundo contemporâneo líquido fluido e também efêmero. No mundo moderno, nas metrópoles, especialmente as pessoas podem ser o que quiserem dispor de seus corpos como entender e isso não tem nada a ver com o corpo biológico. Na modernidade é preciso falar das formas de ser mulher e que o sexo biológico não é fator predominante para ser coisa alguma, considera-se tudo é cultura e no sentido da individualidade a pessoa pode ser o que ela quiser como quiser, onde quiser, excetuando, comportamentos considerados violentos e agressivos ao corpo e espaço social do outro. Incluir no discurso feminista as Travestis, mulheres Transexuais e homens Trans na proteção efetiva do Estado de Direito, saúde, tratamento hormonal, defender a alteração do nome civil para essa população sem que necessariamente nesse aspecto considere a cirurgia de redesignação sexual como critério primordial, há de observar o sexo biopsicossocial como critérios fundamentais. Radicalizar no discurso político a ideia da diversidade de gênero no sentido de que existem varias maneiras de ser mulher e homem, de diversas orientações: heterossexual, homossexual, bissexual; de diversas identidades: gay, lésbica, homem trans, mulher transexual e travestis e que são formas de viver, ser feliz e se expressar como sujeitos. Para além dessas existem uma infinidade de identidades dentro de um conceito mais amplo o chamado “Transgênero” que não abordaremos aqui, mas que logo, logo teremos as suas representações reivindicando espaços, o que é muito natural.

No mundo contemporâneo até as formas clássicas de uniões e relacionamentos estão mudando de forma visível, hoje existe o poli amor, as relações livres que envolvem amor, true Love, considerando que a bissexualidade se esgotou no sentido que as pessoas, vivem, sentem, experimentam mudanças corporais e se relacionam de maneiras diferentes. As mulheres transexuais devem possuir assentos em Conselhos dos Direitos das Mulheres, as Secretárias de Políticas para as Mulheres, os Centros de Referência da Mulher devem buscar inserir as mulheres transexuais nas suas agendas de atividades e de ações continuadas com destinação de recursos financeiros para realização de editais públicos para apoiar projetos voltados para essa equidade de gênero dentro do gênero feminino. Os órgãos públicos estaduais e municipais, Secretaria de Políticas para as Mulheres e as Comissões de Defesa dos Direitos das Mulheres da Câmara dos Deputados e de Vereadores devem inserir nos seus regimentos internos a expressão “mulher transexual” e da mesma forma evoluir no discurso reconhecendo ás varias maneiras de ser mulher e que o sexo biológico não é fator predominante para ser mulher. Finalmente, o GGB, substitui a palavra gay da propaganda da Parada por LGBT, LGBT (ou LGBTTT) é a sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, que consistem em diferentes tipos de orientações sexuais. O evento continua usando as cores da bandeira do arco íris símbolo do movimento contra a homofobia. Antes Parada Gay, agora Parada do Orgulho LGBT, tem o objetivo de conscientizar as pessoas da diversidade e que em uma sociedade todos devem usar do respeito uns para com os outros.

 Marcelo Cerqueira é presidente do Grupo Gay da Bahia.