‘Para de ficar postando coisa de gente preta, de gay’, diz pastora em culto

Genilson Coutinho,
03/08/2021 | 10h08

A pastora Kakau Cordeiro, da Igreja Sara Nossa Terra, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, se transformou em alvo de uma investigação da Polícia Civil, após comentários contrários aos direitos LGBTQIA+ e da população negra, durante um culto. No vídeo que repercutiu nas redes sociais nesta segunda-feira (2), ela faz uma pregação contra a população LGBTQIA+ e negra.

“É um absurdo pessoas cristãs levantando bandeiras políticas, bandeiras de pessoas pretas, bandeiras de LGBTQIA+, sei lá quantos símbolos tem isso aí. É uma vergonha, desculpa falar, mas chega de mentiras, eu não vou viver mais de mentiras. É uma vergonha. A nossa bandeira é Jeová Nissi. É Jesus Cristo. Ele é a nossa bandeira”, diz a pastora.

“Para de querer ficar postando coisa de gente preta, de gay, para! Posta palavra de Deus que transforma vidas. Vira crente, se transforma, se converta!”, continua.

Segundo o delegado Henrique Pessoa, da 151ª Delegacia de Polícia, a fala da pastora fere o artigo 20 da Lei 7716/87, devido ao “teor claramente racista e homofóbico”.

“De tal modo que a pena é de 3 a 5 anos com circunstâncias qualificadoras por ter sido feita em mídias sociais e através da imprensa. De tal modo que já foi instaurado inquérito policial pelo crime de intolerância racial e homofóbica, de acordo com a recente previsão do STF”, disse o delegado.

A denúncia foi feita pelo ex-deputado estadual Wanderson Nogueira no Instagram: “Sei que meus amigos evangélicos não pensam assim. Sei que, nós que somos cristãos, não compartilhamos deste Cristo preconceituoso. Mas é preciso denunciar. Porque se no silêncio o fazem, se sentem encorajados a fazer no púlpito. Nem no silêncio, nem na vida isso é aceitável”.

A Igreja Sara Nossa Terra informou que não irá se pronunciar. A igreja chegou a publicar o vídeo em seu perfil no Instagram, mas a página saiu do ar.

O compartilhamento feito pelo ex-deputado estadual Wanderson Nogueira (PDT) já teve mais de 18 mil visualizações e centenas de comentários com críticas ao discurso.

“Tenho certeza que esse não é o pensamento cristão. Machuca ouvir(…)”, disse o político em sua postagem.

A vereadora de Nova Friburgo Maiara Felício (PT) se manifestou em seus stories no Instagram.

“Um vídeo extremamente intolerante, dentro de uma instituição religiosa (…) A gente quer fazer um movimento gigante para mostrar que em Nova Friburgo a intolerância não vai reinar”, disse.

O Coletivo Negro de Nova Friburgo também divulgou nota repudiando a atitude. Veja íntegra.

“Nós do Coletivo Negro Lélia Gonzalez NF denunciamos, condenamos e repudiamos qualquer forma de discriminação contra a classe trabalhadora e realizada pela mesma reproduzindo a lógica da classe dominante que é racista, facista, lgbtfobica, eugenista, branca, heteronormativa, patrimonialista, patriarcal, branca, lascivos e cristãos. Não podemos dizer que todes cristãs tem comportamento e postura, como esta pessoa, porém não podemos ignorar que ela está expressando a hegemonia dominante. Não devemos naturalizar tais posturas, declarações sem que os órgão tomem devidas medidas, embora estes órgãos expressam interesses da classe dominante. Quando ela faz este ataque, e a todes que defendem o direito da classe trabalhadora que são majoritariamente negras, quando ela de forma superior, ela concorda com a morte da juventude negra, desaparecimento de nossas crianças, e naturaliza feminicídio incidentes nas mulheres negras trans e cia, ela naturaliza o primeiro lugar de morte de mulheres trans e travestis e nosso encarceramento em massa nas senzalas modernas. Racistas, genocidas, Eugenista, Lgbtfóbicos exploradores não passarão! Por uma sociedade onde a diversidade não seja instrumento de dominação e exploração”.