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Pai conta que aprendeu com o filho que o HIV não é um bicho de sete cabeças

Genilson Coutinho,
11/08/2019 | 11h08

Foto: Arquivo pessoal

Por Talita Martins *

“Abraçar, acolher, dar amor e dizer que estaremos juntos também nesta luta”. Este é o conselho de Ailton Bispo, pai do ativista e agente de prevenção, Welton Gabriel, a todos os pais que descobriram recentemente que seus filhos vivem com HIV/aids.  Ele tem 53 anos, quatro filhos, muitos netos, é motorista e se diz o avô mais babão do mundo. Vive hoje o melhor momento da vida, está tendo a oportunidade de ser para os netos o pai que nunca foi para seus filhos: presente, atencioso, brincalhão e superprotetor.

Ailton conta nesta entrevista como aprendeu a lidar com o diagnóstico positivo para o HIV do filho, dá dicas para outros pais que estão passando ou podem passar pela mesma situação, mas já adianta: “Ele ser soropositivo nunca foi um problema para a família. Temos orgulho do nosso Welton.” A reportagem faz parte de uma série que a Agência de Notícias da Aids preparou em homenagem ao Dia dos Pais, comemorado no domingo (11). Leia a seguir:

Apaixonado pelo Palmeiras e especialista em turismo, Ailton vive em São Paulo com a mulher Edilene Lima e o filho Welton. Foi justamente na casa da família que o jovem revelou, em 2015, o seu diagnóstico para o HIV. “Ele contou primeiro para a mãe, talvez pela proximidade dos dois, soube depois. A mãe dele até amenizou a informação momentos antes. Na hora, levei um susto, não tinha muita informação, mas sentamos e ele me explicou que não era um bicho de sete cabeças.”

O conforto do pai veio com uma informação que ele já tinha: não tem cura, mas existe tratamento para o HIV. “Mesmo não tendo a oportunidade de ser tão próximo do Welton como queria, sempre soube que ele era um garoto responsável, por isso, tinha certeza que ele tomaria os remédios corretamente. E é o que vem acontecendo desde quando ele descobriu que estava com HIV.”

Viajante, o pai perdeu as contas de quantas vezes esteve longe dos filhos em datas importantes, como aniversários, natal, virada do ano. “Quando soube do HIV, comecei a refletir mais sobre a vida, senti que era o momento de estar mais perto da família.”

Mesmo não tendo a melhor relação de pai e filho, Ailton faz questão de se manter informado sobre o estado de saúde do filho. A informante oficial é mãe. “Ele recebeu apoio de toda família, até nos esquecemos de que ele vive com HIV. É um menino lindo, saudável. Preciso confessar que fico orgulhoso quando o vejo em entrevistas ou ajudando outros jovens que receberam o mesmo diagnóstico.”

Ailton disse ainda se orgulhar muito da pessoa que Welton se torno pós-HIV. “Hoje ele faz palestras, viaja pelo Brasil alertando sobre a doença. Por isso, tenho muito carinho e respeito por ele. Admiro sua forma e dedicação ao próximo.”

A única coisa que ainda deixa seu Ailton triste é o fato do HIV não ter cura. “A ciência já conseguiu mandar robô para marte, mas não descobriu a cura do HIV. Espero que esteja bem próxima.”
Mensagem para os pais

A orientação que ele tem para todos os pais é para que eles sejam pessoas realistas, com a mente aberta. “Temos que olhar para frente, acolher nossos filhos e jamais discriminar. O julgamento só afasta as pessoas e o preconceito não contribui em nada.”

Emocionado, Ailton completa: “Aprendi a aceitar o Welton do jeito que ele é. Eu nunca pensei que teria um filho com HIV, posso garantir que não é a melhor notícia, mas o mais importante é apoiar, independentemente de qualquer diagnóstico. Acima de qualquer vírus, eu o amo muito. É claro que a gente briga, discute, conversa, mas o amor sempre está ali.”

Neste Dia dos Pais, Ailton só tem um desejo: reunir toda família. “Quem sabe eles não estão preparando alguma coisa. Seria muito legal. Sinto saudades de quando meus filhos eram pequenos. Ainda bem que posso aproveitar os netos”, finalizou.

Conheça a seguir a trajetória de Welton Gabriel. Hoje, aos 29 anos, ele dedica boa parte do seu tempo à luta contra a aids e a favor dos direitos humanos:

*Agencia Aids