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Orgulho LGBTQIA+ chega ao mercado farmacêutico | Iniciativas e personagem Roche

Genilson Coutinho,
22/06/2021 | 22h06

São muitos os obstáculos que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta, trata-se de uma luta incansável por direitos e respeito. Porém, é preciso, sim, comemorar e conscientizar – ainda mais em um ano com tanto aprendizado diante da pandemia – que a inclusão é a única direção para um futuro melhor. Algumas empresas já estão conscientes e avançam na discussão interna sobre o tema Diversidade e Inclusão e alinhados com os princípios de ESG (Environmental, Social and Governance). Porém, se a aceitação social já é difícil, conquistar um ambiente de trabalho acolhedor torna-se um enorme desafio.

Isso aconteceu com Bruno Leite, 29 anos. Formado em engenharia química, se encontrou em um dilema quando precisou definir a sua saída do armário no ambiente profissional. “Há alguns anos não era comum ouvir falar sobre esse assunto e quando fui procurar emprego não sabia se deveria expor minha sexualidade, se isso poderia ser um empecilho. Realmente tinha receio do que poderia enfrentar”, conta Bruno. “Em uma das minhas primeiras experiências profissionais era tudo velado e me omiti em inúmeras situações, enfrentando preconceitos, piadinhas e comentários homofóbicos. Cheguei a ouvir pelo corredor a conversa de um líder que contava não ter contratado um candidato, porque era gay. Foi quando percebi que não queria trabalhar em um local que não tivesse a promoção de Diversidade e Inclusão, pois essa era uma barreira para o meu progresso e para alcançar o meu máximo potencial. Eu queria ser eu mesmo”, completa.

Há dois anos Bruno ingressou na Roche Farma Brasil, com foco no desenvolvimento e gerenciamento de projetos na área de Inovação, e lá conheceu o OPEN (Out Proud and Equal Network), frente de diversidade LGBTQIA+ que existe globalmente com a participação de colaboradores das afiliadas pelo mundo. A iniciativa foi criada para promover um ambiente de trabalho inclusivo para toda a comunidade LGBTQIA+, incentivando todos os colaboradores na promoção dos direitos e combate contra toda forma de preconceito e discriminação.

“Me senti realizado em celebrar meu orgulho em um ambiente empresarial, me conectando com líderes, gestores e colegas que já faziam parte dessa rede e me incentivavam a ser eu mesmo. Pela primeira vez, essas minhas individualidades estavam me levando para novos caminhos. Comecei a sentir na prática o quanto esse poder da representatividade potencializava minha atuação e percebi que influenciava positivamente para que outros também comemorassem as suas versões mais autênticas”, avalia Bruno, que hoje atua como analista sênior de Inovação na Roche Farma Brasil e é líder da frente de Diversidade & Inclusão LGBTQIA+ na companhia, profissional em ascensão e abertamente gay com muito orgulho.

“Hoje lidero com muita alegria essa frente da empresa no Brasil. Acredito que essa é minha missão dentro da Roche, de criar atmosferas seguras nos times em que eu atuo para que outros também possam expressar as suas melhores versões. Reconheço que ainda tenho muitos privilégios enquanto homem cis gênero branco, mas ao contar a minha história posso ser uma plataforma para alavancar pessoas que sofrem ainda mais com a exclusão e discriminação, como mulheres, pessoas negras e pessoas trans, para que elas possam ingressar nesse mercado e contar suas próprias histórias”, completa.

Mesmo diante o conservador setor farmacêutico, a Roche, reconhecida em 2020 como a melhor empresa do segmento por grupos de pacientes de todo o mundo, inovou com ações diferenciadas para conscientizar e influenciar mais farmacêuticas a seguirem esse caminho. Esse ano, a companhia acaba de se associar e assinar os compromissos do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, movimento empresarial de várias companhias signatárias que se comprometem a promover a diversidade e inclusão dentro do ambiente corporativo e em tornar verdade a máxima da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além disso, a farmacêutica desenvolveu posts para suas redes sociais e divulgarão um vídeo especialmente para a data.

As empresas, que aderem, assumem uma agenda de trabalho a partir de um plano de ação com indicativos de ação e indicadores de profundidade relacionados ao modo de ser, agir e se relacionar com todos os seus stakeholders. São empresas comprometidas com o respeito e a promoção dos direitos Humanos LGBTI+ no ambiente empresarial e na sociedade, demonstrando o valor que dão ao tema, com a possibilidade de transformar vidas e mentalidades, criar programas de inclusão que modificam a realidade, até restaurar a dignidade e os direitos reconhecidos.

“A Roche promove um local de trabalho inclusivo para todas as orientações sexuais, identidades e expressões de gênero com o intuito de que todos os colaboradores se sintam confortáveis em trazer sua verdade e autenticidade para o ambiente profissional. Desde 2017 a empresa possui a Frente OPEN – Out, Proud & Equal Network, que traz ativações e debates internos sobre a temática, e espera se tornar referência para outras empresas”, explica Cyntia Silva, D&I Expert Américas da Roche Farma Brasil.

A farmacêutica Roche é conhecida por sua modernidade do ponto de vista da tecnologia. Isso também pode incluir os seus colaboradores que, frente a alguns fatores – entre eles a inclusão da comunidade LGBTQIA+ – adotaram o Dress Code, Seja Você, no qual foram extintas as políticas sobre padrões de vestimentas. A empresa entendeu a importância do bem-estar e conforto dentro e fora do trabalho e que isso está relacionado à individualidade. Portanto, desde 2019, cada um possui a liberdade de vestir-se da maneira que mais combina com sua identidade. Este projeto está vinculado ao olhar da companhia para a diversidade e estímulo a diferentes estilos, culturas e formas de ser.

Bruno também conta sobre o seu medo em falar da sua sexualidade em entrevistas de trabalho, “Tinha muito medo do preconceito e como as pessoas iriam lidar com a minha sexualidade em um ambiente corporativo. Já me saí mal em processos seletivos, pois esse assunto me bloqueava. Eu me escondia e isso me afetou. Causando dificuldade para entender o profissional que queria ser, assim como me assumir para ser plenamente feliz”. Isso é muito comum. Segundo estudo da OutNow, no Brasil, apenas um terço das pessoas LGBTs fala abertamente sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero no trabalho e a maioria deixa para fora uma parte importante de sua existência, com impactos na saúde mental e autoestima.

“A Roche atua na sensibilização e comunicação para os colaboradores, para conseguir empreender uma mudança cultural e de comportamento. A companhia entende que para existir uma sociedade mais justa, é preciso ter coragem para se posicionar, encontrar-se disponível a novos aprendizados e mudanças de concepção”, destaca Cyntia Silva.

De acordo com o levantamento Demitindo Preconceitos, da consultoria Santo Caos, 38% das empresas afirmam que não contratariam pessoas LGBTI+ e 61% dos funcionários LGBT no Brasil escolhem esconder de colegas e gestores a própria sexualidade. Por isso, a Roche espera alcançar a representatividade, oferecendo um ambiente corporativo com igualdade de oportunidades a todos os colaboradores e não faz nenhuma restrição de contratação relacionada a gênero, raça e religião em sua política de admissão. Também desenvolve os membros e aliados para disseminar a importância do respeito e tolerância e capacita seus líderes para recepção dos contratados para que sejam inclusivos na equipe.

A Associação Nacional de Travestis e Transsexuais aponta que 90% desta população está na prostituição, muito devido à grande dificuldade de inserção no mercado formal, mesmo quando possuem a escolaridade necessária. Pensando nisso, no fim de 2020, a Roche montou um grupo de trabalho para fomentar a inclusão de pessoas trans. Um dos projetos é focado na atração, seleção e inclusão desse público dentro da Roche. Entre algumas ativações, contaram com a participação do Jonas Maria, influencer e youtuber trans, que trocou ideias e experiências com os colaboradores. Também realizaram a Roche Pride, em 2020, uma parada virtual de reconhecimento do orgulho LGBTQIA+, em que afiliadas em todo o mundo se juntaram para lançar a campanha ao mesmo tempo, utilizando a bandeira da comunidade no logo da companhia e assinando a carta da ONU se comprometendo a combater ações discriminatórias contra a comunidade LGBTQIA+. Desenvolveram também um grupo de mentoria chamado iBuddies, que busca conectar profissionais LGBTQIA+ e aliados globalmente dentro da Roche com foco no apoio de seu desenvolvimento pessoal e profissional.

“Acredito que esse é o início de uma jornada e um processo para consolidação de um ambiente de trabalho plural que traz enriquecimento cultural ao conectar pessoas diversas. É maravilhoso trabalhar em um lugar que nos motiva a abraçar as nossas identidades”, finaliza Bruno Leite.