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ONGs e pessoas vivendo com HIV contam como mudaram sua rotina em função do coronavírus

Genilson Coutinho,
20/03/2020 | 16h03

A pandemia causada pelo Covid-19 está modificando a rotina das instituições que acolhem pessoas com HIV/aids e também de seus usuários. As secretarias estaduais de Saúde divulgaram que, nesta quinta-feira (18), são 533 casos confirmados de coronavírus no Brasil em 20 estados e no Distrito Federal.

Nessa semana, a Agência de Notícias da Aids divulgou que o Fórum de ONGs Aids de São Paulo (Foaesp) funcionará até as 15h por tempo indeterminado, e que haverá rodízio no atendimento, entre o colaboradores. O Foaesp ressalta ainda a recomendação é de que “as organizações interrompam temporariamente as atividades junto aos assistidos, como forma de segurança e prevenção.”

Confira algumas medidas que foram tomadas por instituições que acolhem LGBTs e pessoas que vivem com HIV na cidade de São Paulo:

“Na Casa Florescer todos têm recebido orientações tanto da equipe quanto da Secretaria Municipal de Assistência sobre as normas e condutas. Consequentemente estamos adotando medidas de sensibilização contínua e reflexão com as pessoas acolhidas no espaço”, explicou o responsável pela instituição, Alberto Silva.

“Sabonete líquido em vários locais para pessoas lavarem as mãos , álcool em gel e uso de máscaras em determinadas situações,além de orientações e sensibilização contínua com as pessoas acolhidas sobre o auto cuidado. Por fim, proibimos a circulação de pessoas que não sejam da casa”, afirma.

  Já o Instituto Vida Nova suspendeu por 15 dias as atividades diretas com o público. “Apenas o administrativo e diretoria estão em escala de plantões a partir dessa quinta-feria (19). Na semana passada realizamos rodas de conversas com os assistidos sobre prevenção do Covid-19 e cuidados de higiene.Estamos atentos para novas estratégias de convívio e cuidados”, afirmou o coordenador da ONG, Américo Nunes.

O Grupo de Incentivo à Vida cancelou as atividades externas essa semana e na próxima estarão fechados por tempo indeterminado.

O Projeto Bem-Me-Quer suspendeu todas as atividades em que há aglomeração de pessoas como workshop, oficinas, palestras, abordagens e reuniões. Segundo o coordenador da ONG, José Roberto Pereira, a equipe vai continuar trabalhando em dias alternados na instituição ou de forma remota. “Além disso, as cestas básicas serão entregues nos dois últimos dias do mês, sem aglomerações. Todas essas medidas são por tempo indeterminado. Até que reavaliemos os riscos para equipe e usuários”, explica.

O Centro de Referência e Diversidade, o CRD, também suspendeu todas as atividades coletivas. “Estamos fazendo o escalonamento dos funcionários, após avaliações individuais de vulnerabilidades acrescidas, para manter o serviço aberto com equipe reduzida. Estamos mantendo os atendimentos individuais quando solicitados e verificando demanda e encaminhamentos possíveis neste momento.

“Além disso, nossos técnicos estão mapeando os serviços da rede e parceiros, com as suas disponibilidades e forma de acesso,para repasse aos/as usuárias. Mantemos o oferecimento de lanches, quando solicitados à equipe, sem necessariamente estar vinculado a atendimento especifico. Disponibilizamos aos/as usuárias informes sobre medidas preventivas e de assistência sobre o COVID-19. Em nossas redes sociais, divulgamos estas definições e orientações.”

O CRD também otimizou o uso do Whatsapp institucional, para que o acesso seja facilitado. Quem precisar pode enviar mensagem para o número (11) 95492-0909.

Grupo Pela Vidda/SP, também está sem atividades coletivas, suspenderá todas as atividades e a sede se manterá fechada. Os atendimentos serão mantidos apenas por telefone. Segundo as organização, novas definições podem ser traçadas mediante orientações que poderão surgir nos próximos dias.

A rotina de quem vive com HIV

Ativistas e pessoas que vivem com o vírus também tomaram providências em suas rotinas e alteraram de maneira significativa seu cotidiano.

Alisson Barreto, por exemplo, conta que além de andar com com álcool em gel na mochila, algo que não fazia antes, também deixou de realizar atividades anteriormente corriqueiras em sua vida. “Não estou indo pra academia. Estou evitando pegar transporte público em horário de pico. E não estou participando de nenhum evento social. Só saio de casa quando é extremamente necessário.”

A jornalista e escritora Marina Vergueiro conta que tem sido um desafio manter a saúde mental porque já tive aids e a minha doença oportunista foi a pneumocistose e quase morri. Então, eventualmente, quando vejo uma notícia ou outra me dá um desespero e me faz lembrar do hospital e desse período difícil. Porque, na verdade, estar em quarentena me lembra um pouco a privação de liberdade que vivemos quando estamos doentes. Me recordei de quando estava com respirador na UTI, por exemplo. Mas é importante que a gente consiga sair desses lugares de medo e pânico. Estou em isolamento há sete dias e tenho usado muito a literatura, a poesia e a meditação para me acalmar.”

O youtuber e ativista, Drew Persi também está em isolamento desde a última sexta-feira (13). “Estou sozinho em casa e cuidando da minha imunidade, estou fazendo exercício físico também”, afirmou.