ONGs acusam governo de discriminar gays com veto de vídeo

Redação,
13/02/2012 | 13h02

Convicto de que houve veto ao filme dirigido ao público gay programado para
ser exibido durante a campanha de aids do carnaval, o Fórum de ONGs de Aids
do Estado de São Paulo decidiu apresentar uma denúncia formal contra o
governo brasileiro em instâncias internacionais de direitos humanos. O
Fórum, que congrega 92 entidades filiadas, anunciou também que vai
apresentar uma representação no Ministério Público para que seja
investigada discriminação e desperdício de recursos públicos, por causa do
cancelamento da produção do vídeo.

“Já está tudo acertado. Só há uma possibilidade de revermos nossa posição:
a veiculação na TV domingo do filme originalmente programado”, afirmou o
presidente do Fórum, Rodrigo Pinheiro. Apresentado semana passada numa
festa organizada no Rio, o filme dirigido ao público gay foi retirado da
internet por determinação do Ministério da Saúde. A justificativa era a de
que o material havia sido feito para apresentação em locais fechados, não
na internet ou na TV. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o
vídeo dirigido ao público está em fase de produção. 
“Mais uma vez, ele joga para plateia. Faz festa, tenta agradar e, por fim,
retrocede”, afirma o presidente do grupo Pela Vidda, Mário Scheffer. Para o
movimento social, há quatro evidências que demonstram o veto do governo.
O filme tirado do ar já havia sido apresentado no lançamento da campanha.
“Se não pode na TV, porque poderia numa festa? E o discurso do ministro na
ocasião, todo o clima indicava que aquele vídeo é o que seria veiculado”,
relata Pinheiro. A descrição do filme dirigido para TV em texto divulgado
pelo Ministério da Saúde coincide com o material que foi retirado do ar e
tem formato de 30 segundos e linguagem para grande público, avalia o
movimento. Por fim, essa retirada foi feita sem nenhum tipo de
justificativa pelo Ministério da Saúde.****
O retrocesso é atribuído ao receio do governo – e de setores dentro do
próprio ministério – de contrariar grupos religiosos, sobretudo em ano
eleitoral. O governo quer evitar desgastes como o ocorrido ano passado – e
que rende dor de cabeça até agora – com a distribuição de material contra
homofobia, programado para ser feito pelo Ministério da Educação. “É uma
grande decepção. O governo mostra estar totalmente rendido neste tema a
grupos fundamentalistas e a base aliada. Um passo atrás e, agora, numa área
que o Brasil sempre foi internacionalmente reconhecido pela ousadia e pela
liderança, o combate à aids. Mais do que uma oportunidade perdida, é uma
mancha”, disse o presidente do grupo Pela Vidda.
Scheffer lembra que problema semelhante foi registrado na campanha do Dia
Mundial de Aids. Era esperada uma campanha dirigida ao público gay. Durante
o lançamento, movimento social foi surpreendido com uma campanha feita
sobre preconceito. A escolha de jovens gays como público alvo da campanha
não é à toa: a incidência da aids entre essa população aumentou de forma
expressiva na última década. “E a campanha tem de ser dirigida ao público
em geral. Não adianta veicular em ambientes fechados. Além disso, é piada
imaginar que numa boate todo mundo vai parar para ver a peça”, disse
Pinheiro.
O ministério informou ontem, por meio de sua assessoria, que o calendário
da apresentação de um novo filme está mantido: domingo. De acordo com a
pasta, o filme encontra-se em fase final de produção. O ministério ao longo
dos últimos dois dias recebeu manifestações e pedidos de explicações sobre
o episódio. Nenhuma resposta formal foi apresentada até agora, informou a
assessoria de imprensa. O ministério, ainda por meio da assessoria, disse
que até o fim da tarde de ontem não havia recebido nenhum comunicado do
Fórum de ONGs de Aids de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.