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OIT, UNAIDS Brasil e Somos Diversidade realizam pesquisa sobre diversidade no mercado de trabalho

Genilson Coutinho,
10/11/2021 | 19h11
Foto: Reprodução

A maioria das empresas no Brasil se preocupa em ampliar a diversidade no quadro funcional, mas ainda enfrenta desafios para promover a real inclusão, preparar o ambiente de trabalho com ações para acolher, reter e desenvolver talentos de pessoas provenientes de grupos marginalizados no ambiente corporativo. Com isso, buscam profissionais para vagas regulares, sem adequar exigências de qualificações. Isto muitas vezes leva ao não preenchimento das vagas ou à busca por colaboradores e colaboradoras até mesmo na concorrência. É o que revela uma pesquisa inédita realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a plataforma Somos Diversidade e UNAIDS Brasil.

A pesquisa “Diversidade Aprendiz” é parte do projeto “Diversidade Aprendiz: aprendizados para um futuro inclusivo”, cujo objetivo é ampliar a inserção de grupos excluídos pelo preconceito no mundo do trabalho. Para isso, a pesquisa identificou, junto com empresas de diversos portes e setores, as dificuldades, barreiras de entrada, oportunidades e demandas necessárias para a promoção da diversidade e inclusão nos processos seletivos e nas políticas internas de permanência e ascensão no local de trabalho.

Os grupos populacionais excluídos considerados pelo projeto incluem pessoas migrantes, refugiadas, negras, com deficiência (PcD), com 50 anos ou mais, LGBQIA+ e egressas do sistema penitenciário ou que estão em liberdade assistida, assim como pessoas com baixa renda e que moram nas periferias.

No âmbito da pesquisa, o grupo formado por pessoas transexuais foi separado do grupo LGBQIA+ para testar, por meio da metodologia, a hipótese de que esse grupo seria ainda mais marginalizado do que os demais que formam a sigla no que diz respeito à entrada no mercado de trabalho. Dessa forma, o grupo T foi tratado como uma categoria à parte nos critérios da pesquisa.

“Conseguimos, com esta pesquisa, perceber uma série de dificuldades que ainda temos e consequentemente pensar em pontos de melhorias potentes e que acelerem a criação de culturas organizacionais verdadeiramente mais inclusivas.”

Maite Schneider, coordenadora do Somos Diversidade e Embaixadora da Rede da Mulher Empreendedora
Diversidade e Inclusão
O conceito de diversidade está relacionado à representatividade dos diversos segmentos sociais e populacionais no espaço de trabalho. Ao passo que a inclusão se refere a criar mecanismos eficientes para a contratação pela empresa, mas também para reter talentos diversos. Sobre estes conceitos, a pesquisa mostra alguns dados.

55,71% das pessoas afirmaram que as empresas onde trabalham estão muito preocupadas com a inclusão de pessoas de grupos marginalizados da sociedade, 34% estão preocupadas em parte e 10% não estão preocupadas;
87% dos(as) respondentes da pesquisa afirmaram que suas empresas gostariam de ser reconhecidas por valorizar a diversidade;
78% das empresas dizem divulgar vagas encorajando a candidatura de grupos marginalizados, ainda que não o façam de forma sistematizada.
Porém, quando se trata da preparação do ambiente interno das empresas para receber profissionais de grupos marginalizados, há uma queda nos números.

60% dos respondentes disseram que suas empresas possuem ações ou programas de inclusão de grupos marginalizados;
Mais de 60% dos(as) respondentes acreditam que o número de pessoas que fazem parte dos grupos marginalizados aumentou em suas empresas nos últimos dois anos;
80% acreditam que esse número tende a aumentar nos próximos dois anos.
Os números sugerem que as empresas entendem a importância da diversidade e inclusão, querem ser reconhecidas por valorizarem essas políticas, mas que precisam conhecer melhor as realidades desses grupos para poderem atrair, reconhecer, recrutar e desenvolver seus potenciais pós-contratação.

“A OIT tem sua missão histórica de promover o trabalho decente que só pode ser concretizado em uma sociedade onde todas as pessoas sejam livres para existir em toda sua identidade e potencialidade. A sociedade ganha com a inclusão de trabalhadores e trabalhadoras livres para exercer sua profissão, com criatividade e direitos.”

Thaís Dumêt Faria, oficial técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho para América Latina e Caribe
Inclusão e Representatividade
Sobre empresas que possuem programas de inclusão, a pesquisa mostra, de acordo com as respostas coletadas, que:

Em 74% das empresas há programas voltados para a população negra;
69% para população LGBQIA+;
61% para PcD;
60% para pessoas transexuais;
29% possuem ações voltadas para pessoas com mais de 50 anos;
18% possuem programas de inclusão voltados para pessoas migrantes e refugiadas;
Apenas 3% das empresas possuem programas voltados para pessoas egressas do sistema prisional.
Quando o tema é representatividade, os números divulgados na pesquisa são:

45,54% das empresas possuem representação para grupos LGBQIA+;
32,52% das empresas possuem representação para pessoas negras;
30,77% das empresas possuem representação para pessoas de baixa renda.
Já os grupos com menor percentual de representatividade, de acordo com a pesquisa, são:

Pessoas egressas do sistema penitenciário (99%);
Migrantes (96,36%);
Transexuais (93,33%)
Isso sugere um descompasso entre os programas existentes e os grupos mais e menos representados dentro das empresas dos(as) respondentes. A menor representação de pessoas trans parece não refletir o percentual de programas corporativos voltados para a inclusão desse público. Nesse contexto, a situação de vulnerabilidade socioeconômica em que se encontra a maioria das pessoas trans poderia afastá-las das competências requeridas para as vagas disponíveis no mercado de trabalho e parece ser refletida na justificativa de contratação pelas empresas.

“É necessário enfrentar as desigualdades sociais e a discriminação que impactam no direito à saúde, ao trabalho, à renda, à educação e à cidadania. A superação desses desafios é fundamental para promoção de ações de inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho.”

Ariadne Ribeiro, assessora de Apoio Comunitário do UNAIDS Brasil
Os resultados da pesquisa serão apresentados e debatidos durante evento online, dia 10 de novembro, às 19h, no canal da OIT Brasil (@OIT_brasil) no Instagram.