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Teatro

‘O Topo da Montanha’ será apresentada neste gratuitamente para estudantes da rede pública

Genilson Coutinho,
28/10/2016 | 23h10

Foto: Divulgação Estudantes da rede estadual assistem à peça de Lázaro Ramos e Taís Araújo

“Eu espero que o teatro os encante”, diz o ator Lázaro Ramos sobre estudantes que assistirão gratuitamente à peça ‘O Topo da Montanha’, neste sábado (29), às 17h, no Teatro Castro Alves (TCA), em Salvador. O público de 1.450 estudantes da rede pública estadual, atendidos por bases comunitárias de segurança e integrantes de movimentos sociais terá uma sessão apresentada especialmente para eles, que poderão ver de perto a produção estrelada pelo ator baiano Lázaro Ramos e pela atriz Taís Araújo. A montagem conta parte da história de Martin Luther King, homem símbolo da luta pelos direitos civis dos negros americanos.

A ação, que integra as atividades do Novembro Negro na Bahia, mês emblemático no calendário da luta racial no Brasil, tem o intuito de inspirar e promover a identificação do público jovem baiano com a história do homem que foi transformado em mito, mas que era uma pessoa como todas as outras, com grandes sonhos e incansável na busca de seus ideais. Para isso, a peça recria o último dia de vida do ativista e momentos que antecederam ao seu assassinato, através do diálogo entre Luther King e a camareira Camae, em seu primeiro dia de trabalho. Juntos, eles discutem temas relacionados ao racismo, à política, carregados de emoção e doses de humor.

Para o ator Lázaro Ramos, a identificação com o público é inevitável e é com muito orgulho que fará essa apresentação. “Esses jovens sou eu. A primeira peça de teatro que assisti foi com ingresso gratuito fornecido para minha escola pública, o Colégio Anísio Teixeira. Era uma montagem de Canudos na Concha Acústica e isso transformou a minha vida, minha visão de mundo, meu interesse por teatro e eu acho que minha transformação começou naquele momento. Pensando nisso, eu espero que o teatro os encante, porque além da temática social, essa é uma grande obra de teatro. Eu tenho certeza que os jovens, ao entrarem em contato com este texto, ficarão estimulados não só pelo tema mas também com o teatro em si, porque entendo que estamos formando novas plateias com essa apresentação”.

O secretário estadual de Cultura, Jorge Portugal, também aposta no espelho e inspiração que são os atores Lázaro e Taís Araújo representam para os jovens. “Lázaro é um desses meninos que saiu daqui para galgar o estrelato, mas não se esqueceu desse compromisso, e tudo aquilo que ele vivenciou, ele levou consigo. E trazer ‘O Topo da Montanha’ para apresentar para essa meninada que já está conectada com o mundo e com a contemporaneidade das questões negras através de outras linguagens, como o rap, o movimento hip hop, é ajudar a enriquecer ainda mais esse debate”.

Expectativa

Na expectativa para o espetáculo de sábado, a integrante da União dos Estudantes da Bahia (UEB), Elis Regina Sodré, imagina que ver, nos palcos, o herói da década de 60 também vai permitir fazer o paralelo com a atualidade. “Martin Luther King lutou pela igualdade e pelos negros e muito estudantes e jovens baianos ainda não conhecem a história dele de fato. O mais interessante é pensar que, por mais que a reivindicação dele tenha acontecido há décadas atrás, hoje ainda lutamos pelas mesmas coisas. O movimento negro ainda precisa disputar espaço na sociedade, a luta ainda não acabou, ela continua cotidianamente. O racismo existe, principalmente para os negros e moradores de periferia, isso faz parte da nossa realidade diariamente e precisamos continuar com o que Luther King fez no passado”, disse a estudante, que estará na plateia da sessão especial.

Já para a fundadora do Desabafo Social, Monique Evelin, que já teve a oportunidade de assistir à produção em outro estado, acha que a chegada à Bahia é também inspirador. “A peça tem um recorte racial muito forte, e se apresentar na capital mais negra do Brasil para estudantes de escolas públicas talvez represente para a plateia um dos primeiros contatos diretos com uma temática dessa. Isso pode ser um ‘start’ para que os jovens se engajem em movimentos sociais, mas não necessariamente isso, é muito de entender o seu lugar de fala. Passa um filme na cabeça, você começa a se perguntar muitas coisas, e a responsabilidade para os integrantes desses movimentos cresce ainda mais. O bastão está conosco agora”, falou Monique.

Já para o subsecretário estadual da Educação, Nildon Pitombo, essa é uma oportunidade única pra os jovens estudantes de 16 escolas da rede estadual que irão ao TCA neste sábado. “Pedimos aos professores de História que acompanharão os alunos ao teatro que discutam previamente com os alunos em sala de aula o tema, a história de vida de Martin Luther King. É importante que o jovem perceba que esse é um processo de luta da humanidade que ainda está em curso, e que, mais do que tudo, é a vontade de fazer com que possamos ver o outro de forma igual, eliminando as barreiras sociais que tem implicações com etnia, com cor da pele, e que ele coloca com muita simplicidade no discurso”.