O Glamoroso e exagerado Mundo de Sr Elton John! por Filipe Harpo

Genilson Coutinho,
31/05/2019 | 16h05

Logo na primeira cena, quando o personagem Elton John, feito de forma brilhante pelo ator Taron Egeton, todo paramentado em uma fantasia chamativa fala em uma sala de uma clinica de reabilitação, Rocketman avisa ao público: Você verá uma cinebiografia honesta! A forma como o personagem entra na tal sala também adverte, esse definitivamente não será um filme quadrado, tudo está fora da casinha.

Explico, Rocketman, é fruto de um diretor compromissado, além de muito talentoso. Dexter Fletcher, inicialmente diretor de Bohemian Rhapsody o tal filme do Freddie Mercury, foi descontratado e logo depois substituído por Brian Singer (franquia X Men). Por inúmeras confusões criativas, Brian foi despedido, Dexter chamado para arrumar sua bagunça, tentou, mas nem creditado por isso foi… Resultado, Bohemian é quadrado e uma confusão sem limites. Já este Rocketman é preciso para deixar um sorriso no rosto do espectador ao final da sessão. Isso independente de você gostar de Elton John ou não.

Uma dos pontos altos do filme é ser honesto à sexualidade do protagonista. E entender toda aquela confusão causada por não aceitação familiar, exploração abusiva, visão da homossexualidade pela sociedade da época, foi sim decisivo no rumo da carreira de Elton e até em algumas canções suas. É bonito ver um filme que não esconde seu personagem em camadas moralistas e transforma isso em estética.

Sim, o tom aqui é escalafobético ao extremo. Mas quem acompanha ou simplesmente já viu algo de Elton sabe, o caminho não poderia ser outro! O diferente aqui é perceber um diretor livre para “pirar” criativamente fora e dentro das cenas musicais. O teatro é um recurso muito usado. A misancene é extremamente teatral, Rockteman é um filme de planos abertos, glamuroso, grandioso, não deixe de ver no cinema, na MAIOR tela disponível em sua cidade.

Os números musicais são mostrados muito mais como recurso narrativo para os pensamentos e motivações do personagem. Exibições musicais de números em shows fantásticos e lotados são segundo plano deste longa. Se o trabalho de Elton é extremamente pessoal, porque reservar suas músicas somente ao palco? O trabalho do artista transcende, o diretor/elenco/produção sabem disso e explanam para a plateia a vida em forma de espetáculo.

Senti falta de algumas músicas? Sim! Gente, eu queria cantar Sacrifice… Me julguem! Sou brega ao extremo!!! Mas pensando bem… melhor ter entrado as canções certas para o desenvolvimento do filme, ao invés de puro deleite a fãs inútil e óbvio! E fique despreocupado, os hits estão lá… Desafio? Tente não cantar Don’t Let the Sun Go Down, Your Song, Rocketman, Don’t Go Breaking My Heart… eu que não sou fã cantei sem culpa, quanto mais você admirador voraz do performático cantor.

Rocketman é fabuloso. Inventivo. Bem escrito, roteiro preciso. Figurinos, cenários, fotografia, tudo flui para o conjunto de um ótimo trabalho. Elton foi bem representado. Louco como ele só e humano como cada um de nós. Defeitos e qualidades, misturados ao talento impar desse cantor que muito representa a força da comunidade LGBTQ+.

Filipe Harpo é diretor da SOUDESSA Cia de Teatro, historiador pela UNEB, realizador audiovisual pelo Projeto Cine Arts – UNEB – PROEX e apaixonado por cinema.