O ator paulistano Edwin Luisi – intérprete de personagens inesquecíveis fala ao Dois Terços

Márcia Santos,
20/11/2010 | 01h11

O ator paulistano Edwin Luisi – intérprete de personagens inesquecíveis como o protagonista Álvaro da primeira versão de “A Escrava Isaura”, o assassino do personagem Salomão Hayala na novela “O Astro” ou a peça “Eu Sou a Minha Própria Mulher”, onde estrelou 22 papéis diferentes, entre eles, um travesti – completa  40 anos de premiada carreira e, para comemorar, retorna ao palco com o espetáculo “Tango, Bolero e Cha, Cha, Cha”, encenado pela primeira vez há 10 anos, no qual interpreta uma transexual chamada Lana Lee.  “Tango, Bolero e Cha Cha Cha me fez virar referência como ator. Só podia ser ela a brindar uma data tão especial comigo”, afirmou.

Apesar de a rotina do espetáculo ser desgastante e desafiadora, Edwin Luisi demonstra grande entusiasmo em reviver Lana Lee, um dos principais personagens de sua carreira. Assim, durante a entrevista, o autor comenta, entre outras coisas, sobre sua trajetória artística e afirma que o público gay tem sido muito presente em Tango, Bolero e Cha, Cha, Cha: “todos amam a forma como o personagem é tratado. Não faria um trabalho onde o gay não é tratado com dignidade e respeito”, explica.

Por redação 20/11/2010

DT – Você já interpretou textos de Tenesse Willians,Shakespeare, Sófocles e Tchekhov. Existe algum motivo especial para a escolha destes autores?
EL –
Sempre tentei na minha carreira alternar textos de comédia e drama e textos clássicos com modernos, assim como textos estrangeiros e nacionais. Tentei abranger em todo meu curso de vida peças importantes, de autores que têm um significado especial na dramaturgia mundial ou nacional. Atuar em espetáculos cujos autores foram citados na sua pergunta só fez com que eu crescesse como ator e também me deu certeza de que eu contribui com um bom teatro para as plateias brasileiras.

DT – Nestes 40 anos de carreira você recusou algum papel no teatro ou na TV?
EL –
Recusei vários papeis ao longo da minha carreira em teatro por não encontrar qualidade nos textos ou por não achar o momento certo. Na televisão fica mais difícil, pois o que chega até nós no começo é muito pouco pra uma avaliação apurada.

DT – No espetáculo “Eu Sou a Minha Própria Mulher” você interpretou mais de 20 personagens diferentes. Como foi o processo de construção para conseguir interpretar tantos personagens diferentes?
EL – Foi um trabalho meio insano com três meses de preparação. Parti da composição de fora pra dentro tentando primeiro achar a voz, expressão corporal, pequenos signos de cada personagem pra depois recheia-los com emoção. Na verdade um trabalho atípico onde a forma veio antes que o conteúdo. Foi o melhor caminho pra essa peça e vi que deu certo, pois com ela ganhei todos os prêmios de melhor ator do ano (seis no total) .

DT- O personagem Álvaro da primeira versão de “A Escrava Isaura “ sucesso em diversos países, foi um marco em sua carreira. Viveria tudo outra vez?
EL – Fazer a novela A Escrava Isaura é um dos meus grandes orgulhos. Tenho lindas recordações. Faria de novo com o maior prazer.

DT – A transexual Lana Lee estrela da peça “Tango, Bolero e Cha Cha Cha” foi sucesso de público e crítica. E com a comunidade gay, como eles reagiram à sua interpretação?
EL –
O público gay tem sido muito presente nessa peça e todos amam a forma como o personagem é tratado. Não faria um trabalho onde o gay não é tratado com dignidade e respeito.

DT – Muitos atores recusam papeis gays com medo de perda de patrocínio, preconceito ou até mesmo pela falta de coragem. Você sofreu algum tipo de preconceito por suas escolhas no teatro?
EL –
Nenhum preconceito. Quando fiz meu primeiro papel homossexual já havia construído minha carreira de uma forma bem sólida com vários prêmios ganhos.

DT – Os temas “casamento gay” e “adoção por casais homossexuais” estão na ordem do dia, porém longe dos planos do governo. O que você pensa a respeito?
EL –
Esses temas são bem polêmicos e acho natural as coisas caminharem meio lentamente num país ainda bem inculto, mas ninguém consegue deter a marcha da história.

DT – O Brasil nos próximos quatro anos será comando por uma mulher. Quais são suas expectativas diante do cenário?
EL –
Não votei na Dilma, mas torço sinceramente que ela deixe a melhor das impressões na sua trajetória

DT – O cinema brasileiro saiu do universo dos palavrões para grandes produções de altíssima qualidade, além do sucesso de público. Chegou finalmente à vez do cinema brasileiro?
EL –
Vivemos um momento de muita euforia com nosso cinema e, com a chegada de tão bons cineastas e uma política bem direcionada, acho que ainda cresceremos muito no cenário mundial, assim como já é nossa televisão .

DT – Televisão, Teatro e Cinema. Quais são seus planos para 2011?
EL
– Minha praia é teatro e só faço planos em relação a ele, o resto a gente vai levando.

Fotos: Reprodução