Núcleo gay em novela esquenta o debate sobre o preconceito

Fábio Rocha,
29/04/2011 | 12h04

Seis personagens homossexuais movimentam a trama de “Insensato coração”, a nova novela da TV Globo. Os autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares também tratam da homofobia. Para o jornalista Irineu Ramos Ribeiro, autor do livro A TV no armário (Edições GLS), a emissora assumiu explicitamente a defesa contra a homofobia e a intolerância, embora ainda cometa alguns equívocos ao lidar com as diferenças sexuais. No livro, Ribeiro analisa diversos aspectos do tratamento dado aos gays na programação da TV.

A nova novela da TV Globo, “Insensato coração”, promete incendiar ainda mais os debates em relação ao preconceito contra homossexuais. A participação de seis personagens gays vai movimentar a trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, que pretendem abordar o assunto de forma crítica, tratando também da homofobia por meio do personagem Kleber –  interpretado por Cássio Gabus Mendes –, um jornalista que tem conflitos com seu editor, um jovem gay. “A mídia tem um papel determinante na formação da identidade”, afirma o jornalista Irineu Ramos Ribeiro, autor do livro A TV no armário – A identidade gay nos programas e telejornais brasileiros (134 p., R$ 34,90), das Edições GLS. Para ele, a emissora assumiu explicitamente a defesa contra a homofobia e a intolerância, embora ainda exagere nos clichês e aborde de maneira equivocada algumas questões relacionadas às diferenças sexuais.

Baseando-se no pensamento de Michel Foucault e noções da teoria queer, ou teoria doestranhamento, o autor comprova que a televisão brasileira acaba transmitindo valores negativos, depreciativos e caricatos quando o assunto são os gays. No capítulo do livro “No entretenimento, no humor e na telenovela”, ele analisa diversos aspectos do tratamento dado aos gays nos programas e nas telenovelas, demonstrando as diversas formas pelas quais o preconceito é estimulado. Fala sobre o programa Beija Sapo apresentado, em 2006,  por Daniella Cicarelli, na MTV Brasil, sobre capítulos da série Sob Nova Direção e o humorístico Zorra Total, da TV Globo, avaliando a atuação de personagens gays, e destaca o último capítulo da novela “América”, também da TV Globo, em que o ator Bruno Gagliasso viveu o personagem Júnior, com orientação homossexual.

Fruto de ampla pesquisa, desenvolvida durante dois anos, incluindo também a observação de toda a programação de TV, a obra abre caminhos para problematizar a maneira pejorativa como a comunidade LGBT é retratada na telinha. Ribeiro mostra, em quatro capítulos, que os meios de comunicação ainda precisam percorrer um longo caminho para retratar as diferenças de gênero, ajudando a reafirmar a identidade gay e a construir um mundo onde a diversidade seja respeitada. “A TV tem dificuldade de se pautar por abordagens que informam sobre a amplitude que o tema sexualidade implica. A consequência disso é que acabam se restringindo à reprodução de enfoques que estimulam o preconceito”, complementa o autor.

Ao longo da obra, o autor discorre sobre o limiar dos gêneros, abordando questões como ambiguidade, identidade, sexualidade e formas de pensar. Fala sobre o desenvolvimento das identidades sexuais “proscritas” no decorrer do século XX e as relações de poder na mídia televisiva. Faz um breve histórico do movimento homossexual no mundo e de algumas de suas lutas até chegar à década de 1970, quando o gênero passa a ter uma conotação social ampla. “O conceito de gênero se refere à construção social e cultural que se organiza a partir da diferença sexual”, revela o autor.

O livro traz ainda um breve relato histórico do surgimento da TV no Brasil e o levantamento da cobertura jornalística televisiva da Parada do Orgulho Gay de São Paulo. Em seguida, o autor examina alguns programas humorísticos que tratam o gay com escracho, um game show que perde a oportunidade de esclarecer que a diferença é saudável e uma novela que acaba apelando para o sentimentalismo na hora de retratar o amor homossexual. “Procuro demonstrar as sutis abordagens em que o preconceito é estimulado e impede a existência de um mundo onde a diferença seja respeitada”, explica o autor.

“Ribeiro tem a rara capacidade de expor as inclinações preconceituosas e reforçadoras de preconceitos que as emissões de TV disseminam em relação aos homossexuais sem cair na tentação de enxergar nisso uma conspiração dos setores dominantes da sociedade. Ele entende a dinâmica da indústria cultural e não a acusa de intenções diabólicas”, afirma Carlos Eduardo Lins da Silva, ex-ombudsman da Folha de S.Paulo, que assina o prefácio da obra.

O autor

Irineu Ramos Ribeiro é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), pós-graduado em História pela mesma instituição e mestre em Comunicação pela Universidade Paulista (Unip). É membro do Centro de Estudos e Pesquisa em Comportamento e Sexualidade (CEPCoS), organização não governamental ligada às questões de gênero e sexo. Integra ainda o Grupo de Estudos “Estética, Mídia e Homocultura” da Universidade de São Paulo (USP). Apresenta trabalhos acadêmicos em diversos congressos e simpósios nacionais e é palestrante da Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual (Cads), órgão vinculado à Secretaria de Participação e Parceria da Prefeitura de São Paulo, no qual desenvolve trabalhos de capacitação nas questões de gênero, sexualidade, mídia e educação com professores da rede p Mais informações com Ana Paula Alencar
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