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“Ninguém deveria se preocupar se o parceiro transa com outra pessoa”, diz psicanalista

Genilson Coutinho,
12/01/2017 | 11h01

Você sente calafrios só de pensar que não tem domínio sobre a vida sexual do seu parceiro ou parceira? Segundo a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, acreditar que é possível controlar o desejo de alguém é apenas uma das mentiras do amor romântico.

Gays e os encontros casuais por Regina Navarro Lins

Regina, que é consultora do programa “Amor & Sexo”, apresentado por Fernanda Lima na Rede Globo, acredita que, na segunda metade deste século, muita coisa ainda vai mudar: “Ter vários parceiros será visto como natural. Penso que não haverá modelos para as pessoas se enquadrarem”, diz ela.

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Veja alguns trechos de entrevistas sobre o tema concedida por Regina ao UOl e  ao site Eu só queria um café

UOL : E como fica o casamento?

Regina: É provável que o modelo de casamento que conhecemos seja radicalmente modificado. A cobrança de exclusividade sexual deve deixar de existir. Acredito que, daqui a algumas décadas, menos pessoas estarão dispostas a se fechar numa relação a dois e se tornará comum ter relações estáveis com várias pessoas ao mesmo tempo, escolhendo-as pelas afinidades. A ideia de que um parceiro único deva satisfazer todos os aspectos da vida pode vir a se tornar coisa do passado.

UOL: Só de pensar na possibilidade de ter um relacionamento em que a monogamia não é uma regra, muitos casais têm calafrios. Por que?

Regina: Reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. W.Reich [psicanalista austríaco] afirma que todos deveriam saber que o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual.

Pesquisando o que estudiosos do tema pensam sobre as motivações que levam a uma relação extraconjugal na nossa cultura, fiquei bastante surpresa. As mais diversas justificativas apontam sempre para problemas emocionais, insatisfação ou infelicidade na vida a dois. Não li em quase nenhum lugar o que me parece mais óbvio: embora haja insatisfação na maioria dos casamentos, as relações extraconjugais ocorrem principalmente porque as pessoas gostam de variar. As pessoas podem ter relações extraconjugais e, mesmo assim, ter um casamento satisfatório do ponto de vista afetivo e sexual.

A exclusividade sexual é a grande preocupação de homens e mulheres. Mas ninguém deveria se preocupar se o parceiro transa com outra pessoa. Homens e mulheres só deveriam se preocupar em responder a duas perguntas: Sinto-me amado(a)? Sinto-me desejado(a)? Se a resposta for “sim” para as duas, o que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito. Sem dúvida as pessoas viveriam bem mais satisfeitas.

Viver em um relacionamento aberto é sinônimo de poliamor?

Regina : Não necessariamente. No relacionamento aberto, como é conhecido, cada um sai com outros parceiros do seu lado, pois toda relação tem códigos, tem pactos que você faz, mesmo inconscientemente. Então geralmente um relacionamento aberto, que as pessoas definem como relacionamento aberto, é cada um poder sair, ter sua vida, independentemente do outro, e você pode comentar com o outro ou não sobre outras pessoas com as quais se relacionou, sendo que a maioria das pessoas não comenta, pois hoje ainda geraria sofrimento saber. O poliamor vai além, ele pretende que seja natural para todo mundo amar e ser amado por outros que não sejam o companheiro, sem precisar de segredo nenhum, a idéia é que isso seja algo tranquilo, seu parceiro ficaria contente por você ser amado por outra pessoa. Os poliamoristas alegam que o cíume não existiria no poliamor na medida em que você não será trocado por outro. Já faz algum tempo que percebemos que o ciúme existe por conta do medo da perda, então, se eu vou a uma festa e meu marido se interessa por uma outra pessoa, imediatamente o companheiro fica com medo de que ele prefira a essa outra pessoa do que a mim. O ciúme vem do medo de não ser escolhido. Os poliamoristas alegam que isso não aconteceria no poliamor porque você não precisaria abrir mão de ninguém para estar com outra pessoa. Por esses motivos eu acredito que a relação aberta como é conhecida se diferencia do poliamor, porque o poliamor é muito mais aberto e tranquilo.